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Fernanda Varela
Publicado em 8 de agosto de 2025 às 15:10
Morreu nesta sexta-feira (8) o sambista Arlindo Cruz, aos 66 anos, oito anos depois de sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico que o afastou dos palcos. O cantor, compositor e instrumentista é considerado um dos maiores nomes da história do samba brasileiro.>
Natural do Rio de Janeiro, Arlindo Domingos da Cruz Filho começou a tocar cavaquinho ainda criança, influenciado pelo pai, Arlindão, que também era músico. Ganhou projeção nacional ao integrar o grupo Fundo de Quintal, ícone da renovação do samba nos anos 1980. Mais tarde, seguiu carreira solo e tornou-se autor de alguns dos sambas mais conhecidos do país, como O Show Tem Que Continuar, Meu Lugar, O Que É o Amor, Candura e Ainda É Tempo Pra Ser Feliz.>
Arlindo Cruz
O sambista, que deixa mais de 700 composições gravadas e cerca de 3 mil registros como músico, gravou com nomes como Zeca Pagodinho, Maria Rita, Beth Carvalho, Alcione e Jorge Aragão. No Carnaval, era ligado a escolas como Império Serrano e X-9 Paulistana. Também marcou presença na televisão, especialmente no programa Esquenta, da TV Globo.>
Arlindo Cruz sofreu o AVC que te deixou debilitado no dia 17 de março de 2017, quando se preparava para uma turnê. Passou um ano e três meses internado e, desde junho de 2018, vivia em casa, sob cuidados médicos e da família. Foi submetido a cinco cirurgias na cabeça e, nos primeiros anos, ainda apresentou alguns sinais de interação. Mas, segundo relato da esposa, Babi Cruz, sua condição neurológica se agravou nos últimos tempos.>
“Hoje ele está bem dentro do mundinho dele, do universo dele. Bem distante”, disse Babi, em depoimento publicado na biografia O Sambista Perfeito, lançada em julho de 2025 pela Editora Malê. No mesmo livro, ela contou que Arlindo deixou de responder a estímulos, já não interagia e se comunicava com dificuldade. “A pele dele está toda preservada, sem nenhuma escara, mas a parte neurológica está muito profunda. Dói demais vê-lo assim”, disse na época.>
A obra, escrita pelo produtor cultural Marcos Salles, reúne mais de 120 depoimentos de familiares e artistas como Maria Bethânia, Regina Casé, Zeca Pagodinho, Maria Rita e Marcelo D2. Ela também resgata episódios da infância do sambista, a passagem pela Escola Preparatória de Cadetes do Ar (Epcar), sua relação com o pai, que foi preso na ditadura, e a formação musical.>
Mesmo recluso, Arlindo Cruz seguiu sendo reverenciado como símbolo de generosidade, ancestralidade e força do samba. “Se formos falar de superação, Arlindo Cruz é um negro e gordo, que foi pobre e venceu”, diz um trecho do livro. “Foi compositor, cantor, músico, pai, marido e uma alma cheia de música.”>
Arlindo deixa a esposa, Babi, os filhos Arlindinho e Flora, e uma legião de fãs que seguirão celebrando sua obra. Informações sobre velório e sepultamento ainda não foram divulgadas pela família.>