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Agência Correio
Publicado em 8 de dezembro de 2025 às 07:00
Um novo estudo feito a partir de autópsias de cérebros humanos trouxe pistas importantes sobre o que pode estar acelerando o avanço do Alzheimer. >
Pesquisadores identificaram que células do sistema imunológico do cérebro, chamadas microglia, se comportam de forma diferente em pessoas com a doença em comparação a cérebros saudáveis.>
Essas células aparecem com mais frequência em um estado “pré-inflamatório”, o que pode reduzir sua capacidade de proteção e aumentar danos aos neurônios, abrindo caminho para novos alvos de tratamento.>
Alzheimer é um mistério desvendado aos poucos
As microglias são responsáveis por manter o cérebro limpo e funcional. Elas removem resíduos, células mortas e ajudam a preservar a comunicação entre os neurônios. Em condições normais, essas células atuam como verdadeiras zeladoras do sistema nervoso central.>
Além disso, durante o desenvolvimento do cérebro, a microglia também “poda” sinapses, ajustando as conexões neurais para que os circuitos funcionem de forma eficiente. Esse processo é essencial para a formação da memória, do aprendizado e da cognição.>
No entanto, em pessoas com Alzheimer, parte dessas células passa a reagir de forma exagerada. Em vez de proteger, elas entram em um estado inflamatório persistente, liberando substâncias que podem acelerar a morte dos neurônios e agravar o avanço da doença.>
A pesquisa foi liderada por cientistas da Universidade de Washington, que analisaram amostras de tecido cerebral de doadores: 12 com Alzheimer e 10 sem a doença. O objetivo era entender, em nível genético, como as microglias se comportavam em cada caso.>
Utilizando uma técnica avançada de sequenciamento de RNA em núcleo único, a equipe conseguiu identificar dez grupos diferentes de microglia, classificados de acordo com seus padrões de atividade genética. Três desses grupos nunca haviam sido descritos antes.>
Um desses novos grupos chamou atenção por ser muito mais comum nos cérebros afetados pelo Alzheimer. Ele apresentava genes ligados diretamente a processos de inflamação e à morte celular, sugerindo um papel importante na progressão da doença.>
Os cientistas observaram que, nos cérebros com Alzheimer, as microglias estavam com maior frequência em um estado pré-inflamatório. Isso significa que elas estavam mais propensas a produzir moléculas inflamatórias capazes de danificar os neurônios ao longo do tempo.>
Ao mesmo tempo, essas células mostraram menor capacidade de proteção, comprometendo sua função de limpar resíduos e manter o envelhecimento cerebral saudável. Esse desequilíbrio pode ser um dos motores silenciosos da neurodegeneração.>
Segundo os pesquisadores, ainda não é possível afirmar se a microglia causa o Alzheimer ou se a própria doença altera o comportamento dessas células. O estudo, publicado na revista científica Nature Aging, aponta, porém, que determinados tipos de microglia podem se tornar alvos promissores para futuras terapias capazes de retardar ou até prevenir a progressão da doença.>