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Elis Freire
Publicado em 6 de julho de 2025 às 12:00
Já é descrito pela Ciência que o consumo açúcar está associado no cérebro humano ao prazer, à saciedade, além de culturalmente estar associado a momentos afetivos de reunião familiar e de diversão. Porém, também é sabido que esse alimento adicionado — muito consumido na sociedade ocidental contemporânea — está relacionado com problemas no coração, por aumentar o risco de diabetes, obesidade e pressão alta. >
O CORREIO conversou com Marcos Barojas, cardiologista membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia e atual diretor de Prevenção em Saúde Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia - seção Bahia, sobre os riscos do consumo de açúcar adicionado na dieta — aquele que não está presente naturalmente nos alimentos. Ele traçou possíveis indicações e soluções diante desse elefante colorido e atrativo no meio da sala.>
"As pessoas ingerem açúcar porque existe uma afinidade muito grande pelo doce, porque o doce, originalmente na evolução do ser humano, é o mecanismo através do qual as pessoas adquirem energia em espécies como a nossa, que tem uma dieta variada entre carnes, verduras e legumes. A ingesta de açúcar garante uma fonte energética imediata, por isso que nós, antropologicamente, fomos evoluídos para ter satisfação ao ingerir açúcar", explica o doutor Barojas. >
O problema, porém, chega junto com a modernidade e desenvolvimento industrial que manipulou o açúcar, seja como açúcar refinado, seja adicionado aos próprios alimentos como refrigerantes e biscoitos. "A estratégia da indústria de alimentos foi aumentar o sabor doce dos alimentos. Isso faz com que exista um aumento do valor calórico energético e um aumento do tecido adiposo (gordura) que traz problemas para o coração", detalha. >
Segundo o cardiologista diversas cardiopatias estão associadas ao consumo elevado de açúcar: pressão alta, aterosclerose (depósito de placas de colesterol nos vasos do coração), infarto, derrame, arritmia, deficiência cardíaca e morte súbita por doenças do coração, chamada de doença isquêmica do coração. >
De acordo com o doutor o ideal na sociedade moderna contemporânea seria o consumo zero de açúcar. "No mundo ocidental, a ingesta de açúcares refinados, açúcar de mesa, doces e produtos que usam açúcar na sua composição de forma artificial como refrigerantes e biscoitos deve ser zero.>
Marcos explica que quando ele fala "zero açúcar" não quer dizer deixar de consumir alimentos naturalmente formados por açúcar, como frutas e verduras. "Temos que separar que existe os açúcares simples os complexos os simples como o açúcar de cozinha ou complexo com o amido da batata por exemplo. A ingesta de açúcares complexos com fibras, por exemplo, comer abóbora com casca eleva o açúcar, reduzindo a incidência de diabetes, já que a velocidade de absorção dos açúcares é muito menor", ressalta o médico.>
A diminuição do consumo de açúcar individualmente e na sociedade é um caminho longo a se percorrer. Sobre as possíveis soluções, Barojas explicou que os adoçantes não são uma estratégia eficiente para proteger o coração. Para ele, é importante aos poucos fazer uma adaptação do paladar, com um acompanhamento de um nutricionista. >
"A substituição do açúcar por adoçantes artificiais parecia uma boa alternativa para proteger o coração, porque esses produtos tem a mesma capacidade de adoçar com muito menos calorias. [...] Entretanto, a observação científica dos fatos mostrou que essa estratégia é paradoxal. Com um paladar acostumado com açúcar, quando houver a oportunidade de comer coisas adoçadas, acabará havendo a ingestão", relatou. >
Para uma mudança efetiva de hábito, o doutor sugere uma estratégia de tolerância. "É uma questão de paladar. Então, deve se diminuir cada vez mais proporcionalmente a quantidade. Ou seja, se você toma duas colheres de açúcar no café, por exemplo, use agora uma e meia e vai programaticamente reduzindo — como a gente faz com o tabaco. Há também aí uma estratégia de prática nutricional, de uso de alimentos que vão mascarar a adstringência dos alimentos, então é um pensamento alternativo, não binário", pondera Marcos Barojas.>