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Fernanda Varela
Publicado em 13 de setembro de 2025 às 07:41
Ivana Nikoline Brønlund, de 18 anos, perdeu a guarda da filha recém-nascida apenas uma hora após o parto em um hospital na cidade de Hvidovre, na Dinamarca. Mesmo sendo de origem groenlandesa, ela foi submetida a um teste de “competência parental” proibido por lei, o que resultou na retirada da bebê, Aviaja-Luuna, sob responsabilidade da prefeitura de Høje-Taastrup.>
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Desde o dia do nascimento, em 11 de agosto, Ivana só conseguiu ver a filha uma vez, por uma hora, sem poder confortá-la ou trocar sua fralda. Em seu perfil no Facebook, a jovem lamentou: “Meu coração está em mil pedaços sem você, minha filha querida… Mamãe te ama, mamãe sente sua falta, mamãe está lutando todos os dias pra te levar pra casa, minha bebezinha Aviaja-Luuna”.>
Segundo informações do jornal The Guardian, a decisão foi baseada no teste psicométrico conhecido como FKU (forældrekompetenceundersøgelse), usado para avaliar a capacidade dos pais de cuidar dos filhos. Porém, desde maio, uma lei em vigor na Dinamarca proíbe o uso desse tipo de exame em cidadãos de origem groenlandesa, após denúncias de racismo e falta de sensibilidade cultural.>
Os testes de Ivana começaram em abril e terminaram em junho, já com a legislação válida. Ainda assim, as autoridades alegaram que ela “não era groenlandesa o suficiente” para se beneficiar da lei, mesmo tendo nascido em Nuuk e sendo filha de pais groenlandeses. A jovem afirmou ter passado a gravidez com medo: “Eu não queria entrar em trabalho de parto, porque sabia o que aconteceria depois. Eu mantinha minha bebê por perto enquanto ela estava na minha barriga, era o mais perto que eu conseguia chegar dela. Foi um momento muito difícil e horrível”.>
O único encontro com a filha, no início desta semana, terminou antes do tempo previsto. “Meu coração se partiu quando a supervisora parou o tempo. Fiquei tão triste que gritei para o carro e dentro dele. Foi tão rápido que tivemos que ir embora”, contou. Agora, Ivana tem autorização para visitar Aviaja-Luuna apenas duas vezes por mês, durante duas horas, sempre sob supervisão. O recurso contra a decisão está marcado para julgamento em 16 de setembro.>
O caso gerou protestos em cidades como Nuuk, Copenhague, Reykjavík e Belfast. Dida Pipaluk Jensen, que organiza uma manifestação na Islândia, classificou a situação como “horrível”. Ela destacou que a prefeitura usou como justificativa o histórico da jovem, cujo pai adotivo está preso por abuso sexual. “Parece muito errado punir Ivana por algo que ela não é responsável”, disse.>
A ministra dos Assuntos Sociais da Dinamarca, Sophie Hæstorp Andersen, afirmou que pediu explicações ao município. “Testes padronizados não devem ser utilizados em casos de colocação envolvendo famílias de origem groenlandesa. A lei é clara”, declarou. Ela reforçou que o município deveria ter recorrido à Viso, unidade especializada em casos sensíveis.>
A diretora de crianças e jovens do município de Høje-Taastrup, Anya Krogh Manghezi, reconheceu falhas. Segundo ela, houve contato inicial com a Viso em janeiro, mas esse diálogo deveria ter sido renovado após a entrada da lei em vigor. “Estamos em diálogo próximo com a Viso sobre como obter aconselhamento atualizado o mais breve possível”, disse. A prefeitura afirmou ainda que busca “a melhor solução possível” para a família, sem comentar diretamente o caso por questões de confidencialidade.>