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Agência Correio
Publicado em 14 de dezembro de 2025 às 13:00
Um novo estudo da Universidade de Cambridge revela que as anacondas já atingiam dimensões impressionantes há mais de 12 milhões de anos. A análise de fósseis encontrados na Venezuela indica que as sucuris antigas eram tão gigantes quanto as espécies modernas, mostrando uma estabilidade evolutiva rara entre os grandes répteis. >
Enquanto outros animais colossais desapareceram com as mudanças climáticas ao longo dos milênios, as sucuris gigantes conseguiram sobreviver e manter seu porte monumental. A descoberta ajuda a entender como essas serpentes se tornaram um dos predadores mais formidáveis da América do Sul.>
Cobra
Estudos baseados em 183 vértebras fossilizadas revelam que as anacondas já atingiam grandes dimensões há cerca de 12,4 milhões de anos, no período conhecido como Mioceno Médio e Superior. As sucuris modernas, como a sucuri-verde (Eunectes murinus), seguem a mesma tendência: atingem de 4 a 5 metros em média, podendo chegar a impressionantes 7,2 metros em casos raros.>
A equipe de pesquisadores analisou fósseis pertencentes a pelo menos 32 serpentes antigas. O resultado surpreendeu: não há evidências de que elas tenham sido significativamente maiores no passado, mesmo vivendo em um mundo mais quente e abundante em recursos. Segundo os cientistas, isso mostra que o corpo gigante das sucuris surgiu muito cedo e se manteve estável.>
“Descobrimos que as sucuris desenvolveram um grande porte corporal logo após seu surgimento na América do Sul tropical, há cerca de 12,4 milhões de anos, e seu tamanho não mudou desde então”, explica o pesquisador Andrés Alfonso-Rojas, líder do estudo.>
Os fósseis foram encontrados em uma formação arqueológica da Venezuela que, entre 12,4 e 5,3 milhões de anos atrás, era um vasto sistema de zonas úmidas. Lagos rasos, canais, florestas alagadas e pântanos dominavam o norte da América do Sul, criando o ambiente ideal para o surgimento de répteis colossais.>
Nesse mesmo período viviam o jacaré-açu gigante (Purusaurus), com cerca de 12 metros, e a tartaruga Stupendemys, que chegava a mais de 3 metros. O clima mais quente e a fartura de presas impulsionavam a evolução de animais de grande porte, estabelecendo um ecossistema dominado por predadores impressionantes.>
As sucuris, apesar de gigantes, não eram exceção. A abundância de alimentos permitia que atingissem e mantivessem longos comprimentos, desenvolvendo força e resistência que impressionam até hoje. Esse ambiente rico explica por que tantas espécies atingiram tamanhos tão extraordinários durante o Mioceno.>
Quando as temperaturas globais começaram a cair no Mioceno Superior, os ecossistemas sul-americanos passaram por uma transformação profunda. Grande parte das zonas úmidas desapareceu, dando origem ao sistema amazônico atual. Nesse processo, muitos gigantes pré-históricos foram extintos.>
Crocodilos colossais e tartarugas gigantes não resistiram às mudanças climáticas e à redução de seus habitats, mas as sucuris sobreviveram. Para os pesquisadores, essa resiliência sugere que as anacondas possuem uma capacidade de adaptação incomum entre os grandes répteis. Ainda assim, permanece um mistério como elas mantiveram o mesmo porte enquanto outras espécies encolheram ou desapareceram.>
“Outras espécies foram extintas desde o Mioceno, provavelmente devido ao resfriamento global e à perda de habitat, mas as sucuris gigantes sobreviveram, elas são extremamente resistentes”, afirma Alfonso-Rojas. A pesquisa completa foi publicada no Journal of Vertebrate Paleontology.>