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Agência Correio
Publicado em 25 de setembro de 2025 às 15:00
Você sabia que o Ozempic, considerado revolucionário no combate ao diabetes tipo 2 e à obesidade, nasceu a partir do estudo do veneno de um réptil? O lagarto monstro-de-gila guarda o segredo dessa descoberta. >
Ozempic e Mounjaro
A substância encontrada nesse animal ajudou a desenvolver os famosos medicamentos injetáveis que simulam o efeito do hormônio GLP-1, responsável por controlar a fome e equilibrar o açúcar no sangue.>
Muito além da medicina moderna, essa história mostra como a natureza ainda guarda pistas surpreendentes para criar soluções contra problemas de saúde que afetam milhões de pessoas.>
O monstro-de-gila, natural da América do Norte, possui um veneno com mais de dez proteínas. Mas uma delas chamou atenção dos cientistas: a exendina-4, que serviu de base para as chamadas "canetas emagrecedoras".>
Segundo a bióloga Daniella França, doutora pela Unesp, essa substância é exclusiva do lagarto e teve papel essencial na criação de remédios como Ozempic, Wegovy e Mounjaro. "Foi a grande virada no estudo dos répteis", explica, em entrevista ao UOL.>
O diferencial da exendina-4 é sua longa permanência no organismo do animal, reproduzindo o efeito do GLP-1 de forma mais duradoura. É isso que garante períodos prolongados sem fome, tanto no réptil quanto no tratamento humano.>
Estudos mostram que o monstro-de-gila pode passar meses sem se alimentar. Há registros de indivíduos que fizeram apenas seis refeições em doze meses — um feito possível graças à ação de sua enzima exclusiva.>
Esse padrão alimentar é uma adaptação de sobrevivência. Como não é um caçador ativo, o lagarto precisa economizar energia e esperar o momento certo para atacar pequenas presas ou encontrar ovos próximos a corpos-d’água.>
A ciência descobriu que essa capacidade tem relação direta com a regulação da glicose. O mesmo mecanismo que garante saciedade ao réptil inspirou os fármacos hoje usados por milhões de pacientes ao redor do mundo.>
Os répteis, em geral, conseguem passar longos períodos sem comer. Isso porque são animais de sangue frio, com metabolismo mais lento, e conseguem armazenar gordura em partes do corpo para sobreviver em épocas de escassez.>
Segundo Daniella França, além do metabolismo econômico, esses animais ainda recorrem a estados de baixa atividade, como a estivação, para reduzir o gasto de energia. "É uma estratégia eficiente que garante sua sobrevivência", afirma.>
O que antes era apenas uma curiosidade da biologia agora tem impacto direto na saúde humana. Do veneno de um réptil pouco conhecido surgiu uma das maiores inovações médicas dos últimos anos.>