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Heider Sacramento
Publicado em 9 de novembro de 2025 às 12:21
Há mais de três décadas, uma confusão insiste em se repetir na memória coletiva dos brasileiros: muita gente ainda acredita que Pedro Bial cobriu a queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989. O episódio é tão difundido que o nome do jornalista aparece até como resposta no Google quando alguém pesquisa sobre o assunto. >
Mas a verdade é outra. Bial estava no Brasil naquele dia, acompanhando a eleição presidencial, e não em Berlim. Quem fez a cobertura histórica para a TV Globo foi Silio Boccanera, ao lado do cinegrafista Paulo Pimentel.>
O próprio apresentador já esclareceu a confusão. “Eu não estava em Berlim na noite da espetacular queda do Muro. Não era eu, juro. Adoraria ter estado lá naquela noite, mas eu não estava. Tenho testemunha”, brincou em 2019, durante o programa que leva seu nome.>
Pedro Bial
A origem do engano faz sentido. Naquele período, Bial era correspondente internacional da Globo na Europa e cobriu boa parte dos protestos e acontecimentos que antecederam a queda do muro. O jornalista só voltou à Alemanha em 1990, quando participou da transmissão ao vivo da reunificação do país, o que acabou reforçando a lembrança trocada.>
O caso virou um exemplo perfeito do chamado “Efeito Mandela”, termo usado para descrever lembranças falsas compartilhadas por um grande grupo de pessoas. É o mesmo fenômeno que faz muitos telespectadores jurarem que o ataque às Torres Gêmeas interrompeu a exibição de Dragon Ball Z na Globo, quando, na verdade, a emissora transmitia um desenho do Mickey.>
A relação de Bial com a Alemanha vai além da pauta jornalística. Os pais do apresentador deixaram o país na década de 1930 para fugir do nazismo. O pai, Pedro Hans Israel Bial, era judeu, e a família se estabeleceu em São Paulo. Essa origem fez o jornalista encarar a cobertura europeia com um significado mais íntimo.>
“Pra mim, tinha ainda esse aspecto pessoal que me movia muito quando eu estava trabalhando. Não era só política internacional, era a história da minha família, eu era uma consequência viva daquilo ali”, contou em entrevista ao portal Terra.>
Por ter cidadania alemã, Bial conseguia atravessar fronteiras fechadas para outros repórteres estrangeiros durante o regime da Alemanha Oriental. “Muitas vezes, o regime fechava a entrada para jornalistas, mas eu conseguia entrar como alemão. Isso tornava minha cobertura muito quente e de qualidade”, lembrou.>