Xande de Pilares estreia turnê nacional em homenagem a Caetano em Salvador

Show acontece na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, neste domingo (2), às 19h, com participação de Caetano

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  • Elaine Sanoli

Publicado em 28 de maio de 2024 às 06:00

Xande e Caetano Veloso
Xande de Pilares e Caetano Veloso Crédito: Divulgação

O artista brasileiro desconhece o conceito de barreiras, ainda mais se ele tiver em suas mãos um cavaquinho e um microfone. O que era para ser só um álbum, se transformou em um projeto muito maior: a turnê Xande Canta Caetano leva os hits do artista baiano, escolhidos a dedo, para ao menos seis estados do país. O carioca Xande de Pilares desembarca na Conca Acústica do Teatro Castro Alves (TCA) para 'caetanear' a Bahia no próximo domingo (2), às 19h, com direito à participação do ídolo, que dividirá palco com o sambista.

“Fiquei muito surpreso, porque a pretensão era só homenagear. Uma coisa que eu imaginei de uma forma se transformou em outra, me colocou diante de um público que não imaginei que fosse alcançar a atenção dessas pessoas. Além de eu ter ficado muito surpreso, fiquei muito feliz”, conta o sambista em entrevista ao jornal CORREIO*. Após a apresentação na capital baiana, Xande segue para Belo Horizonte, Vitória, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

'Eu a chamei de senhora’

Além homenagear um grande nome na cultura popular brasileira, transformando as canções de MPB através do seu cavaquinho, Xande reconhece o seu álbum como uma afirmação do samba: “O samba ainda é muito discriminado perante os segmentos [da sociedade]. O samba ama todos os segmentos, mas nem todos os segmentos amam samba”.

Frente ao preconceito, Xande vê em Caetano uma figura de apoio, um verdadeiro entusiasta para a cultura brasileira em sua totalidade. Adaptar as músicas do filho de Dona Canô para o samba, é uma forma de afirmar o samba como gênero que também pode ser leve e requintado.

“Quando eu vi a paixão que o Caetano tem por todos os segmentos, [a homenagem] é uma forma de retribuir demonstrando o amor que a gente tem pela obra dele, tanto que quando eu interpretei cada uma daquelas músicas, eu coloquei o meu sentimento mesmo em relação à música brasileira, a nossa cultura e ao poeta intelectual, de altíssimo nível, que o Caetano é. Ali tem muito sentimento nesse disco, eu não chamei a música de você, eu chamei a música de senhora, porque é dessa forma que eu quero que o samba seja tratado”, diz.

Nas terras do mestre

A escolha pela Bahia como palco para a estreia da turnê de Xande Canta Caetano se deu, não apenas por ser a terra natal do ícone da MPB, mas pelos laços de afeto do carioca com as terras baianas. “Pelo Caetano ser baiano, pela paixão que eu tenho pela cultura baiana, pelo povo baiano, é uma forma de retribuir a maneira que sou tratado sempre que vou na Bahia, sou muito bem tratado. Eu acho que nada mais justo que ser na Bahia [a estreia]”, conta o cantor.

A conexão com a Bahia antecede até mesmo a sua própria existência. Xande conta que às vésperas de seu nascimento, no ano de 1969, a escola de samba Salgueiro, por quem conserva enorme carinho, foi campeã do carnaval carioca com o enredo Baía de Todos os Deuses. A partir daí, a paixão só aumentou.

"A minha avó cantava essa música para mim quando eu era criança ‘Eu não sou daqui, eu não tenho nada, quero ver Irene rir, quero ver Irene dar sua risada’”, canta Xande, tomado pela emoção das memórias. “Eu conheço essa música desde criança, eu nem sabia que era do Caetano, porque a música era muito presente lá em casa, eu fui criado ouvindo todo tipo de música e Caetano estava sempre presente”, conclui, ao final de sua ‘palinha’.

A canção Irene acabou por ficar de fora, visto que a escolha era limitada a 10 canções, mas deu espaço para outra música que marcou a trajetória de Xande. “Eu estava insistindo muito para que O Amor fosse gravado, que eu aprendi com 11 anos de idade, do disco da Gal [Costa], e Pretinho [da Serrinha – produtor do álbum] estava muito resistente, mas aí O Amor entrou e Irene acabou ficando de fora”, pondera Xande.

Aconteceu naturalmente

E foi deixando acontecer naturalmente que o projeto, que começou a ser pensando em 2018, saiu do papel e alcançou os ouvidos do público em agosto de 2023. Tudo começou com uma brincadeira: enquanto cantava músicas do baiano em um momento de descontração na casa Paula Lavigne e Caetano Veloso, Xande de Pilares foi convidado pelo próprio cantor para subir ao palco com um cavaquinho e dar um novo tom às suas canções. “Pô, eu fiquei apavorado. ‘Será que eu vou fazer um show no teatro sozinho, tocando cavaquinho? Ninguém vai aguentar!’ Aí, ele [Caetano] disse ‘Então, vamos fazer um disco’, conta.

Por conta da pandemia de covid-19, o projeto saiu do papel muito depois do esperado. O que era para ser uma homenagem aos 80 anos de Caetano, se tornou um presente aos 81. “Só confirmou que a maneira mais simples de viver é a maneira correta. Eu gosto muito de tudo que é simples, não gosto de nada de forçado. Não vamos tentar alcançar gente, a gente tem que viver vivendo a vida. Cada dia que amanhece, a gente agradece por estar vivo, cada passo que a gente dá, a gente agradece, e sempre lembra de onde a gente veio, de onde a gente saiu, porque quem sabe de onde veio, com certeza sabe aonde quer chegar”, afirma Xande.

Composição do álbum

O álbum conta com 10 faixas da trajetória musical de Caetano: Muito Romântico, Luz do Sol, Qualquer coisa, Tigresa, Alegria, Alegria, Diamante Verdadeiro, Trilhos Urbanos, Lua de São Jorge, O Amor, e Gente. Cada uma delas possui um significado, uma história que liga o cantor à obra.

Em Qualquer Coisa, o ex-vocalista do grupo Revelação se viu jovem novamente escrevendo uma atividade para o colégio. “Pediram para que todo mundo fizesse uma redação sobre o que entendeu da música, quando eu escrevi a redação, eu coloquei ‘qualquer coisa’ e entreguei a folha”, conta. “O que eu entendi do que eu li foi o título da música e não tinha mais nada a declarar”, completa.

Tigresa, por sua vez, retoma a paixão que tinha pela atriz Sônia Braga, musa inspiração da canção. Já Alegria, Alegria, Xande conheceu e aprendeu a amar durante exibição da telenovela Sem Lenço, Sem Documento, da Rede Globo, exibida entre setembro de 1977 e março de 1978.

Xande Canta Caetano já acumula hoje mais de 25 milhões de reproduções nas plataformas digitais, o Prêmio Multishow nas categorias Samba e Pagode do Ano, para a canção Muito Romântico, e Álbum do Ano. Pretinho da Serrinha, diretor musical do trabalho e da turnê, também foi premiado como melhor Produtor Musical.

Além das canções do álbum, Queixa, Trem das Cores, Reconvexo, Força Estranha e Eclipse Oculto serão interpretadas em suas versões de samba durante a passagem de Xande por Salvador.