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Alan Pinheiro
Publicado em 11 de outubro de 2025 às 05:00
Desafios são comuns na vida de atletas que aspiram o topo do esporte de alto rendimento. Seja um adversário mais forte, uma lesão ou uma oportunidade perdida, é preciso mostrar persistência para se manter entre os melhores, assim como a boxeadora baiana Fernanda Santos, que está na busca por voltar à Seleção Brasileira de Boxe enquanto precisa conciliar o papel de mãe entre dois estados.>
Cria da Fazenda Grande, Yasmine Fernanda – que prefere ser chamada pelo segundo nome – iniciou no boxe com oito anos. Antes, era praticante de balé, já que sua mãe precisava encontrar uma atividade em que a menina gastasse energia. O gosto pela dança sempre existiu, mas o desejo pela luta floresceu quando ouviu que “boxe não era para meninas”. Rodeada de amigos que praticavam o esporte, ela não quis ficar de fora e pediu permissão para a avó. Mesmo preocupada, o pedido de Fernanda foi aceito.>
Fernanda Santos
Boxeadora baianaPrimeiro com o professor Lázaro Chagas e depois com Marco Antônio, as competições foram sendo disputadas e as medalhas sendo empilhadas dentro de casa. Antes, achava que não era boa o bastante para vencer. Agora, Fernanda sorri quando exibe as conquistas. A pugilista é hexacampeã baiana, três vezes medalhista no Campeonato Brasileiro e mais duas medalhas em Jogos Abertos.>
No entanto, a história de Fernanda com o boxe precisou de uma pausa forçada. Grávida aos 16 anos, o esporte deu lugar ao papel de mãe da pequena Laura. Além de mudar completamente a sua rotina, a gravidez a aproximou ainda mais de seus familiares. “Depois que eu tive ela, passei a ser mais família. Entendi realmente como as coisas são. Foi forçado, mas acabei criando maturidade e hoje em dia eu me dou super bem com todo mundo”, conta.>
Conheça a história da boxeadora baiana Fernanda Santos
Hoje com oito anos, Laura é descrita por Fernanda como a razão de continuar lutando, já que todas as suas conquistas são contadas com orgulho pela filha, que já chegou a levar uma das medalhas para a escola, na intenção de provar que sua mãe era campeã. Fã número um, a criança acompanha todas as lutas, vibra com os triunfos e não deixa de cobrar a mãe para comemorar no ringue fazendo um coração ou a letra "L" com os dedos.>
“É inexplicável o que eu sinto quando vejo a felicidade que ela fica quando viajo. Quando tenho uma conquista no meu trabalho, ela fica irradiante e sai contando para todo mundo. Se eu não tivesse nenhuma rede social, todo mundo ficaria sabendo de mim por ela. Inexplicável o que eu sinto vendo como ela fala de mim para as pessoas, é muito bom”, diz com olhos marejados. >
Durante os seis anos em que estava afastada dos ringues para criar sua filha, a paixão pelo boxe nunca a deixou. O afastamento, inclusive, a fazia se sentir mal. “Eu sentia um aperto no peito. Tanto é que eu não assistia às lutas dos meus amigos. Me isolei completamente de tudo referente ao boxe porque eu queria muito voltar”, confessa.>
Após ser encorajada por amigos boxeadores a voltar para o esporte, Fernanda enfim retornou em 2023, quando sua filha já tinha crescido e poderia ficar acompanhando a mãe dentro da academia. O início teve como foco perder os 20kg que tinha acima de sua categoria (50kg). Em menos de nove meses, já estava competindo no Rio de Janeiro. A baiana saiu sem medalha, porém satisfeita com o desempenho em sua volta.>
Desse momento em diante, voltou a conquistar medalhas e vencer lutas, até que recebeu a convocação da Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe) para a seleção principal em janeiro de 2024. Com os treinos em São Paulo, partiu para a casa da mãe no estado. Durante os treinos, descobriu uma anemia e, por não estar em plenas condições físicas, foi deixada de fora da Seleção. Hoje, Fernanda figura dentro da lista ampliada. Ou seja, ainda está sendo observada para compor o elenco principal.>
Atualmente, Laura mora em São Paulo com a avó, enquanto Fernanda precisa se desdobrar entre os treinos em Salvador, as viagens para competições e as visitas à filha no sudeste do país. Ainda sendo treinada por Marco Antônio, a quem considera como um pai que nunca teve, a jovem de 25 é presença constante no Instituto Triunfar.>
Além do desejo de voltar à Seleção e ir a Los Angeles em 2028, Fernanda quer continuar no topo para honrar a sua família. “O meu maior sonho é dar um conforto para a minha avó, para minha mãe e para minha filha. São pessoas que eu quero honrar”, finaliza.>
No dia 18 de outubro, Fernanda vai iniciar uma nova etapa em sua vida, já que está incluída em uma lista de 10 atletas negros escolhidos para integrar o programa Afroesporte Fund 4, fundo de apoio ao empreendedorismo focado no desenvolvimento econômico de atletas no setor esportivo.>
Com patrocínio da Betano, os atletas receberão uma bolsa mensal de R$6 mil, formação prática e rede de suporte com psicólogo e mentoria financeira por 12 meses, priorizando a permanência no alto rendimento e a transformação de performance esportiva em projeto de vida. Terão ainda aulas online e ao vivo quinzenais sobre letramento racial, branding, produção de conteúdo, finanças e empreendedorismo.>