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Gilberto Barbosa
Publicado em 23 de setembro de 2025 às 05:30
Quando entrou no octógono do Dana White’s Contender Series (DWCS), no último dia 9, o baiano Samuel Sanches, 22 anos, tinha dois objetivos: vencer o americano Chasen Blair e conquistar o contrato com o Ultimate Fighting Championship (UFC). Na luta, ele precisou de apenas dois minutos para nocautear o oponente, impressionar o presidente do UFC, Dana White, e ser chamado para a maior organização de MMA do mundo. >
A conquista do contrato coroa uma trajetória que iniciou aos 13 anos, quando Samuel começou os treinos de muay-thai com o seu padrinho em uma academia no bairro do Mont Serrat, onde cresceu. Aos 16, ele conheceu a academia Galpão da Luta, no Acupe de Brotas e percebeu que o seu futuro era no MMA. >
“Eu ainda estava no colégio, porém a escola nunca foi meu forte. Falei para o meu padrinho que tinha me apaixonado pela academia e que queria ser lutador. Fiquei treinando durante dois anos e, com 18, meu mestre me colocou em uma luta de MMA amador. No entanto, a luta caiu e ele decidiu que eu estrearia no profissional”, afirma. >
O começo da carreira de Samuel foi avassalador, com o baiano acumulando dez vitórias e uma derrota nos eventos brasileiros. Sete desses triunfos foram por nocaute e um por finalização. O desempenho lhe rendeu o apelido de “The Prodigy”, ou “O Prodígio”, em português. >
A oportunidade no DWCS surgiu no último mês de junho. Ele lembra que estava em casa após o treino e havia comentado com um amigo que estava frustrado com a falta de oportunidades de voltar a lutar. Horas depois, seu empresário e seus mestres entraram em contato para lhe dar a grande notícia. >
“Eu tinha levado fogos para a academia e fiquei soltando com meu amigo. Eles me ligaram e disseram que essa brincadeira tinha queimado a área verde do Galpão. Fiquei muito triste e eles disseram que o orçamento seria pago no dia 9, em Las Vegas. Eu não entendi de primeira, e depois eles me explicaram que o UFC entrou em contato me convidando para o Contender Series”, conta. >
Samuel Sanches
A reação de Samuel ao receber a notícia não poderia ser diferente: muita emoção ao ver que estava perto de realizar o seu sonho. “Na mesma hora, eu travei e comecei a chorar. Um sentimento de gratidão, de ver que o seu trabalho está sendo bem-feito. Eu não acreditei e fui correndo ver minha avó, para dar a notícia”, continua.>
A preparação durou cerca de três meses. No combate, o lutador não perdeu tempo e partiu para cima do americano. Vendo que a situação ‘azedaria’ em pé, Blair tentou levar a luta para o chão, mas não teve êxito. Quando eles se separaram, o baiano encurralou o adversário na grade e acertou um cruzado de direita que ‘apagou’ o oponente com apenas dois minutos. >
“Eu já estava esperando que ele ia tentar esse jogo na grade e fiquei tranquilo no octógono. Sabia que nocautearia e, assim que a luta acabou, comecei a gritar de felicidade. Logo fui procurar o Dana, mandei um coração e falei que o nocaute era para ele. Foi surreal, fiquei muito feliz quando ele falou que eu tinha sido contratado”, lembra Samuel. >
O desempenho impressionou o chefão do UFC, que não poupou elogios para Samuel ao final do evento. “Esse foi um dos nocautes mais loucos que eu já vi. A maneira que o Blair foi atingido, a forma que ele caiu. Foi uma combinação incrível que o Samuel acertou. Ele está 11-1, com sete lutas terminando no primeiro round e tem só 22 anos. Eu tenho altas expectativas sobre ele. Seja bem-vindo ao UFC”, disse. >
Samuel Sanches no DWCS
No retorno a Salvador, Samuel não perdeu tempo e foi ver a família. A primeira pessoa que ele visitou foi a esposa de seu padrinho, que considera como sua mãe. Na sequência, encontrou sua namorada, que lhe preparou uma porção de comida baiana, sua favorita. Depois de comer, ele procurou sua avó.>
“Ela chorou e disse que agora poderia ir em paz. Eu falei: ‘Agora que você vai morrer? Justo agora que eu cheguei no nosso sonho, você vai morrer’. Ela é tudo para mim, é onde começa e termina minha vida. Foi quem me criou, quem renunciou a várias coisas e fez de tudo para eu chegar até aqui. Sempre falo para ela que eu agradeço a Deus e aos orixás por tê-la comigo”, fala. >
Outra pessoa importante na vida de Samuel é o seu padrinho, que ele considera como pai e que foi o grande apoiador da sua carreira. O lutador lembra que foi passou a morar com ele aos 13 anos, após sair da casa de sua avó.>
“Ela ligou pedindo que eu ficasse na casa dele. Foi lá que eu realmente conheci a minha família, minha mãe, meu irmão e onde a minha vida realmente começou. Eu tinha minha avó, mas sempre faltava uma coisa, que eram meus pais. Ele comprou minha briga para ser lutador e foi quem apostou em mim”, recorda.
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Agora contratado pelo UFC, Samuel ainda não tem luta marcada, mas já tem em mente quando gostaria de estrear: no UFC 321, realizado no dia 25 de outubro, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. O evento conta com a presença de outro baiano, Jailton Malhadinho, que treina com o lutador no Galpão da Luta e é a referência para os colegas da academia. >
“Seria muito importante poder dividir o card com alguém que eu me inspiro muito. Eu sou um cara novo e não tenho pressa de nada. Quero aproveitar cada momento, ter anos de carreira e ser um cara lembrado, um campeão do UFC e deixar o meu legado. Estou trabalhando cada vez mais para alcançar novos voos e chegar aonde eu sempre sonhei. Se você pode sonhar, você pode realizar”, finaliza.>