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Gilberto Barbosa
Publicado em 31 de julho de 2025 às 05:30
O toque do berimbau anuncia que é dia de aula na Escola CTE Capoeiragem. Comandados pelo mestre Balão, cerca de 30 crianças e adolescentes com idades entre 7 e 16 anos participam do projeto Capoeiragem Mirim, com aulas gratuitas de capoeira no bairro do Costa Azul. >
A iniciativa é coordenada pelo mestre Balão, como é conhecido o capoeirista Ricardo Carvalho, 54 anos. Ele conta que começou a dar aulas do esporte há cerca de 30 anos quando caminhava pela comunidade do Bate-Facho e foi procurado por dois garotos que estavam pelo local. >
“Eles me viram, falaram comigo e eu os chamei para jogar capoeira. Falei com o dono da academia que eu trabalhava, que liberou o espaço para as aulas. O motivo da nossa existência é fazer esses meninos se entenderem enquanto cidadãos brasileiros, soteropolitanos e futuramente do mundo”, conta. >
Os 30 pequenos fazem parte de duas turmas contempladas pela Lei de Incentivo ao Esporte, que garantiu o patrocínio de uma seguradora para as atividades. Eles foram divididos em duas turmas, Atabaque (segundas e quartas) e Berimbau (terças e quintas) e recebem lanches no final das aulas. >
Na sala, os alunos têm a referência de grandes mestres como Bimba e Pastinha, estampados em quadros pelo espaço. Uma das crianças é a pequena Luna Beatriz Santos, 8, batizada no esporte como Jabuticaba. “Eu gosto daqui porque tenho meus amigos e aprendo várias coisas como a me defender, a tocar pandeiro e berimbau. Aqui é tipo a nossa casa e tipo uma escola também. Um dia a gente vai estar pendurado naquele quadro”, fala. >
Outro que participou da aula foi Jonathan Gabriel ou Malhado, 10. “A capoeira é muito legal. Ela é uma cultura, uma dança e uma força para a gente levar para vários lugares. A gente aprende vários movimentos para poder nos defender e ajudar as pessoas”, disse. >
Mãe de Jabuticaba, a dona de casa Elisângela Maximiana, 45, ressalta o impacto da capoeira na vida da sua filha. “Ela gosta bastante de vir para a capoeira e fica triste quando falta. O comportamento dela mudou para melhor, ela gosta de se apresentar, não tem vergonha e fica muito feliz com isso. Ela também melhorou no aprendizado e na leitura na escola. Ver a alegria dela me deixa muito contente”, diz. >
Mestre Balão exalta o impacto do aprendizado da luta para os estudantes. “A capoeira é antirracista por natureza. Em um país que coloca o racismo para debaixo do tapete, a capoeira vem na contramão para fortalecer os vínculos entre os alunos e aumentar a autoestima deles. Essas crianças passam a se ver como construtores e cabeças pensantes dessa nação e levam isso para a vida”. >
Além das duas turmas contempladas, o projeto atende cerca de 220 crianças em unidades na Bahia, São Paulo e Sergipe, além de países como Alemanha, Bélgica, Suíça e Itália. Nos 31 anos de existência, mais dez mil pessoas passaram pela escola, sendo 80% crianças e jovens. Além de ensinar a capoeira, a instituição também forma professores, que disseminam a arte pelo mundo. >
“Nós temos um processo de relacionamento mútuo em termos de respeito e mostramos como é importante ter essa relação saudável. Essa parte social é muito forte. O mundo está muito individualista e a capoeira atua com a função promover a integração entre todos”, finalizou o mestre.>
*Com orientação do editor Miro Palma>