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Ladeira da Preguiça conta história de amor e resistência no Centro Histórico de Salvador

Escrito pelo soteropolitano Evanilton Gonçalves, livro retrata luta de moradores por permanência na região

  • Foto do(a) author(a) Gilberto Barbosa
  • Gilberto Barbosa

Publicado em 24 de julho de 2025 às 06:00

Ladeira da Preguiça é escrito pelo soteropolitano Evanilton Gonçalves Crédito: Divulgação

A Ladeira da Preguiça tem uma história que se confunde com a de Salvador. Na época da sua construção, no século XVII, o local foi uma das principais vias da cidade, ligando o Comércio, na Cidade Baixa, à Avenida Carlos Gomes, na Cidade Alta, e acompanhou o crescimento da capital baiana.

O tempo transformou a região que, graças à luta dos moradores, se transformou em um ponto de referência pulsante para as comunidades que habitam aquela parte do Centro Histórico, à beira da hoje bastante frequentada Praia da Preguiça.

O dia a dia da região está contado no livro 'Ladeira da Preguiça' (Todavia | R$ 60 e R$ 40 (ebook) | 64 páginas), do soteropolitano Evanilton Gonçalves. A obra retrata a trajetória do casal Adelaide e Zigue, que fazem bicos para sobreviver. Além disso, o leitor é apresentado a outros moradores da ladeira que, apesar das diferenças, se unem para garantir melhorias para a comunidade.

O autor conta que a ideia do livro surgiu em 2017, quando participou de um mutirão de grafite na localidade. “Esse foi o meu primeiro contato físico com a Ladeira da Preguiça e fiquei encantado com a região e a luta dos moradores. Também me dei conta que era uma área muito próxima a mim, mas que não acessava”.

A trama percorre eventos importantes da cultura soteropolitana como a Lavagem do Bonfim e a Festa de Iemanjá. Antes de definir o roteiro, Evanilton já tinha uma ideia clara na cabeça: a história seria uma prosa, localizada em Salvador, que tem a água como o fio condutor da narrativa.

A escrita começou a fluir durante uma pesquisa sobre a festa do 2 de Julho. No processo, ele encontrou a história de uma mulher chamada Adelaide que frequentava o cortejo na década de 30 e era tida como uma mulher arruaceira, valentona e briguenta. A fama lhe rendeu o apelido de Adelaide Presepeira.

“É uma personagem real da história da Bahia ligada à capoeira e que, de alguma maneira, rompeu com a expectativa de gênero da época. Essas mulheres lutavam para se impor, para disputar o seu espaço e não se deixavam ser subjugadas. Eu pego esses traços para pensá-la nesse contexto contemporâneo”, explica o escritor, que se inspirou em A Morte e a Morte de Quincas Berro D’Agua, de Jorge Amado.

Os outros personagens surgiram a partir das observações do autor enquanto morador do Centro: “Eles são colagens das pessoas que observei pela região. A partir do momento que eu vim para cá, percebi diferentes modos de estar na cidade, diferentes dinâmicas, pessoas e o comportamento de cada uma delas”.

Outra influência na escrita são os deslocamentos de Evanilton por Salvador: “Eu comecei morando no São Caetano, fui para a Liberdade e hoje moro no 2 de Julho. Essa é uma obra em que os personagens estão sempre em movimento, sempre andando pela cidade. O Zigue é um exemplo disso”.

Mapeamento afetivo

Durante o processo de lançamento, Evanilton doou exemplares para o Centro Cultural Que Ladeira É Essa?, localizado na Ladeira da Preguiça. Para Marcelo Teles, um dos coordenadores do espaço, a obra atravessa a história de um povo que resiste e que luta pela sua permanência no Centro Histórico.

“Esse não é apenas um livro, mas um gesto político de memória e um mapeamento afetivo da cidade. A escrita de Evanilton devolve dignidade aos que fazem da Ladeira da Preguiça um lugar de existência, não de exceção. Ao ler suas páginas, não encontrei apenas minha vizinhança. Encontrei a história de um povo que se recusa a deixar de ser visível”, comenta.

“É um livro sobre amor, mas que também fala de luta e de muitas camadas da nossa cidade, além de ser um olhar para um lugar que ainda é marginalizado e estereotipado. Essa obra mostra que existem pessoas mantendo essa paisagem viva e de pé”, finalizou Evanilton.

*Com orientação da editora Dóris Miranda