Em 12 anos, Santo Antônio tem redução de domicílios e perde mais de 20% dos moradores

O número de imóveis residenciais também diminuiu, aponta o IBGE

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  • Maysa Polcri

Publicado em 22 de março de 2024 às 07:00

O subdistrito de Santo Antônio teve redução de 23,7% no número de habitantes.
O subdistrito de Santo Antônio teve redução de 23,7% no número de habitantes. Crédito: Marina Silva/CORREIO

As placas de vende-se e aluga-se instaladas nas fachadas dos sobrados coloridos do Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador, não são os únicos indícios de que o bairro perde moradores. Entre 2010 e 2022, o subdistrito Santo Antônio, que inclui outros 11 bairros, teve redução de 23,7% no número de habitantes. Os dados fazem parte de um novo módulo do Censo, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na quinta-feira (21).

A redução no número de moradores tirou o Santo Antônio da lista das cinco localidades mais populosas de Salvador. Antes, a região aparecia em 5º lugar, agora, ocupa o 7º, com 155.835 habitantes. O aumento do número de empreendimentos, como bares, restaurantes e pousadas, ajuda a explicar a mudança de perfil da localidade. Em 12 anos, houve redução de 2,6% dos domicílios ocupados no Santo Antônio, aponta o módulo Agregados por Setores Censitários Preliminares.

Os dados não são referentes aos bairros e sim aos 22 subdistritos de Salvador. A categoria é mais ampla e cada subdistrito corresponde a mais de um bairro. Além do Santo Antônio Além do Carmo, fazem parte da localidade: Curuzu, Liberdade, Santa Mônica, IAPI, Pau Miúdo, Pero Vaz, Lapinha, Barbalho, Macaúbas, Baixa de Quinta e Caixa D'Água.

A tranquilidade do Santo Antônio no início dos anos 2000 foi um dos motivos que levou Will Marx, 58, a se mudar para o bairro. O charme dos sobrados e das ruas de paralelepípedos davam o tom da atmosfera de cidade do interior. A especulação imobiliária e o avanço de estabelecimentos comerciais, no entanto, mudaram a rotina dos moradores e o perfil da região.

“Quando eu cheguei, o bairro era muito tranquilo. As pessoas ficavam em casa e não tinham bares e restaurantes que davam movimento nas ruas. Muitos moradores eram idosos e, hoje, os herdeiros não se interessam em morar aqui”, diz. A valorização dos imóveis também impulsiona a venda das residências mais antigas.

Uma reportagem do CORREIO revelou, no ano passado, que sobrados da Rua Direita, a principal do Santo Antônio Além do Carmo, não eram vendidos por menos de R$1 milhão. “Em 2016, uma grande construtora comprou diversos imóveis no bairro, o que aumentou a especulação imobiliária”, relembra Will Marx.

A insegurança também ajuda a entender o esvaziamento da região. Em março do ano passado, o CORREIO contou histórias de moradores insatisfeitos com episódios de violência, como roubos, furtos e arrombamentos. A movimentação durante o Carnaval também é alvo de denúncias dos residentes. Em dezembro o Ministério Público da Bahia (MP-BA) recomendou que a folia não tivesse carros de som e outras medidas. 

Além do Santo Antônio, a redução de moradores de outras localidades também chama atenção. No centro antigo de Salvador, cinco localidades tiveram redução de mais de 30% no número de habitantes. Brotas também teve diminuição de 12,9%, chegando a população de 178.577 moradores. A região, que era a 4º mais populosa da cidade, caiu para a 6º posição.