Estudantes da Uneb temem pela segurança dentro da universidade: 'Ontem foi o pior dia'

Falta de patrulhamento e livre acesso ao ambiente acadêmico estão entre as principais reclamações dos alunos; na quinta, um homem foi morto com mais de 40 tiros próximo à entrada da instituição

  • Foto do(a) author(a) Alan Pinheiro
  • Foto do(a) author(a) Gilberto Barbosa
  • Alan Pinheiro

  • Gilberto Barbosa

Publicado em 5 de abril de 2024 às 21:03

Estudantes da Uneb temem pela segurança dentro da universidade
Estudantes da Uneb temem pela segurança dentro da universidade Crédito: Ana Lúcia Albuquerque/CORREIO

Após três episódios violentos nos últimos 15 dias, os estudantes da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) estão assustados e preocupados com a segurança tanto dentro da instituição, quanto nos arredores. A falta de patrulhamento e livre acesso ao ambiente acadêmico estão entre as principais denúncias dos alunos. 

Nesta quinta-feira (4), a faculdade anunciou a suspensão das atividades presenciais até o próximo sábado (6), após a morte de um homem com mais de 40 tiros na cabeça na Rua Silveira Martins, no Cabula.

Para uma aluna, que preferiu não se identificar, “é basicamente sair de casa e não ter a certeza de que vai voltar. A impressão que nós temos é que vão aguardar uma tragédia maior acontecer com algum estudante para tomarem alguma medida. Por mais que a gente entenda a localização da faculdade e caos da segurança pública, é um descaso imenso as coisas estarem acontecendo praticamente dentro do campus”, desabafou.

“Ontem foi o pior dia. Houve um assassinato e, como a Uneb costuma ser rota de fuga, os alunos ficaram muito assustados. Muitos saíram da faculdade em grupos, ou foram de transporte privado”, relatou outra aluna, do departamento de saúde, que também pediu para que sua identidade fosse mantida em sigilo.

Ainda em relação à morte ocorrida nesta quinta-feira (4), ela disse que o ponto de ônibus onde aconteceu o assassinato é um dos mais frequentados pelos estudantes da instituição pública. No entanto, mesmo com a presença dos alunos, a universitária diz que não costuma ver viaturas realizando patrulhamento pela região.

Já em relação à segurança privada da instituição, a estudante acredita que não há uma real proteção para os alunos e para os trabalhadores do local, o que obriga os discentes a adotarem medidas para evitar a exposição.

“Não uso o celular na rua. Quando saio da Uneb pela noite, eu vou de carro ou peço uma corrida em um aplicativo, pois o ponto de ônibus, em frente ao mercado, não tem boa iluminação. Não se fala sobre cuidados ou abrigo. Quando tem alguma coisa, as pessoas vão para a biblioteca”, comentou.

Já os outros dois casos de violência foram registrados no Campus I da universidade, localizado no Cabula, nos dias 25 e 27 de março. Segundo estudantes, uma ação da Polícia Militar (PM) no bairro da Engomadeira, se estendeu para dentro da Uneb, causando correria dos universitários. Alguns foram para o restaurante universitário em busca de proteção, outros para a biblioteca, maior área fechada da faculdade. Houve relatos de tiros na instituição, mas ninguém ficou ferido.

“Antes de sair a nota oficial da faculdade suspendendo as aulas, muitos alunos já falavam em não ir para a universidade, pois houve rumores no grupo geral da Uneb que haviam homens armados rondando a região. Não sabemos se terá uma vingança pelo assassinato”, concluiu a estudante do departamento de saúde.

Sem muros

A Uneb faz fronteira com o bairro da Engomadeira, em Salvador. A relação da universidade com a comunidade não se resume somente à proximidade, mas tem raízes na origem histórica do bairro, oriundo do Quilombo do Cabula. Por conta da integração social com o local, muros para separar o ambiente acadêmico da área abarcada pelo bairro não fazem parte da estrutura da instituição.

Por isso, a construção de muros ao redor da universidade para fechar o “buraco”, como chamam os estudantes, e a instalação de catracas para controlar o acesso ao espaço fazem parte do pleito dos alunos. Eles alegam que a mesma passagem usada por moradores para "cortar" caminho, é utilizada tanto por criminosos, quanto pela polícia.

Em uma postagem nas redes sociais, o Diretório Central dos Estudantes da Uneb condenou o pedido de separação em relação à Engomadeira e ressaltou que a integração entre a faculdade e a comunidade externa é parte de um projeto de universidade popular e pública.

Nos comentários do post do DCE, uma professora comentou um dos casos ocorridos no final de março. “Eu estava dando aula pra uma sala com 40 estudantes. Foi assustador, pois as mensagens começaram a chegar no celular dos alunos e a gente não sabia direito o que estava acontecendo. O buraco é um dos maiores problemas que temos hoje, e que vem se arrastando há anos, pois os chefes da comunidade não permitem que seja fechado. A PM achou por bem entrar armada no Campus para correr atrás de suspeitos. Não há respeito ao espaço universitário nem aos membros de lá e estamos literalmente no meio da guerra”, disse.

Em nota, a Uneb afirmou que as atividades presenciais seguiram normalmente e que, apesar dos episódios que culminaram na presença da PM no campus, “nenhuma ocorrência de violência com membros da comunidade interna e/ou externa presentes foi registrada”.

A reitora da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), Adriana Marmori, e o secretário da Segurança Pública, Marcelo Werner, se reuniram na sexta-feira (5) para alinhar ações integradas no entorno do campus do bairro do Cabula. No diálogo, foi sugerido o patrulhamento a pé e com viaturas, além da instalação de câmeras de segurança e drones, para serem utilizados de forma preventiva.

A reitora sinalizou a criação de um comitê institucional, com participação dos segmentos da comunidade acadêmica e de representantes de bairros para debater "sobre segurança pública e elaborar um plano que garanta a tranquilidade de todos na realização das atividades acadêmicas, inclusive potencializando as ações de extensão universitária com as comunidades".

Apesar dos pedidos de mudanças na estrutura da universidade, a direção não listou a construção de muros e nem a instalação de catracas entre as possibilidades para aumentar a segurança.