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Igreja histórica na Bahia corre risco de desabamento; MP-BA pede suspensão de atividades turísticas

Recomendação ocorre após agência de turismo marcar realização de evento no local

  • Foto do(a) author(a) Millena Marques
  • Millena Marques

Publicado em 11 de setembro de 2025 às 08:24

Ruínas da Igreja de São Miguel das Figuras, na Chapada Diamantina
Ruínas da Igreja de São Miguel das Figuras, na Chapada Diamantina Crédito: Divulgação

O Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) recomendou a suspensão de atividades turísticas na Igreja de São Miguel das Figuras, em Jacobina, na Chapada Diamantina. O órgão solicitou à agência de turismo 074 Trekking e Associação Payayá de Guias e Condutores Ambientais de Jacobina a adoção de medidas urgentes para proteger o templo e o seu entorno.

De acordo com nota técnica do Núcleo de Defesa do Patrimônio Histórico Artístico e Cultural do MPBA (Nudephac), a igreja, cujo entorno se localiza no limite dos municípios de Mirangaba, Jacobina, Saúde e Caém, encontra-se com risco de desabamento. A recomendação do MP-BA foi feita na última sexta-feira (5).

A promotora de Justiça Gabriela Gomes Cerqueira Ferreira informou que a recomendação foi expedida após ser constatado a previsão de um evento realizado pela empresa de turismo, sem a adoção de medidas cautelares aos turistas e de proteção ao patrimônio de relevância histórico-cultural.

Além disso, o relatório do Nudephac destacou que a manutenção de ações turísticas sem as atuações necessárias, como o isolamento e escoramento emergencial das áreas identificadas com maior ameaça de desmoronamento, bem como o impedimento da geração de poluição do meio ambiente, podem representar risco à preservação do local e à segurança dos visitantes.

No documento, o MP-BA recomendou à agência de turismo 074 Trekking a adoção de medidas de proteção conforme indica nota técnica, a exemplo da distância superior a oito metros da igreja e das ruínas. Também foi solicitado providências que evitem o descarte indevido de resíduos e dejetos, como também a emissão sonora superior a 60 dB.

O MPBA ainda recomendou que a empresa evite a realização do evento turístico ou qualquer outra atividade turística similar, recreativa ou de trekking nas ruínas da igreja, enquanto persistirem as condições de desmoronamento.

À Associação Payayá de Guias e Condutores Ambientais de Jacobina foi recomendado que não incentive hikings, trekkings, trilhas ou eventos similares na Igreja das Figuras e Ruínas, sem que sejam adotadas as medidas de proteção necessárias e suficientes à preservação da igreja histórica, bem como à garantia da integridade física dos visitantes.

Ruínas da Igreja de São Miguel das Figuras, na Chapada Diamantina por Divulgação

Problema antigo 

Relatórios de órgãos como o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), há mais de dez anos, já atestavam a necessidade de proteção urgente da igreja, construída no início do século 18 após uma promessa do bandeirante Romão Gramacho, que circulava por Minas Gerais e Bahia atrás de riqueza.

A última missa foi celebrada em 1975 pelo padre Alfredo Haasler, um austríaco que chegou em Jacobina em 1938 e nunca mais saiu. O pároco subia a serra a pé ou montado, celebrava as missas e dormia dentro do templo, onde ficava por cerca de três dias. Reformou a igreja por duas vezes também.

Nas proximidades havia uma vila muito próspera, à beira do rio Itapicuru. Haasler levou para lá uma Escola Paroquial. Preocupado com o seu rebanho, era generoso e ao mesmo tempo rígido. Com o garimpo, começaram as brigas entre pessoas da comunidade, muitas delas bebiam além da conta, começou a prostituição, e o religioso deixou o local. Morreu em Jacobina em 1996, não sem antes retirar da igreja e guardar com ele as imagens de São Miguel das Figuras e do Senhor Morto.

A igreja sem padre passou a sofrer com o abandono e foi se deteriorando. Enfrentou ainda a queda de um raio e dois incêndios. Quem passava pelo alto da serra achou de pegar também pedaços do telhado, paredes, bancos e o que mais achasse pela frente. Reza a lenda que muitos corriam para lá atrás do ouro que teria sido escondido por Romão Gramacho para não pagar impostos.