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Local onde homens morreram em prédio no Horto era chamado de 'elevador da morte'; entenda

Elevador apresentava falhas constantes; duas funcionárias ficaram presas semanas antes da queda

  • Foto do(a) author(a) Maysa Polcri
  • Maysa Polcri

Publicado em 6 de dezembro de 2024 às 11:44

Acidente aconteceu no Splendor
Acidente aconteceu no Splendor, no Horto Crédito: Maysa Polcri e Divulgação

Três semanas após as mortes de dois funcionários de uma empresa de mudanças no condomínio Splendor Reserva do Horto, em Salvador, as famílias das vítimas seguem enlutadas e sem respostas. Agora, relatos de funcionários do prédio revelam que o elevador onde as mortes ocorreram apresentava falhas constantes, sendo, inclusive, conhecido como “elevador da morte” pelos trabalhadores. Entre os problemas citados estão panes elétricas, choques e fumaça.

Um mês antes da queda que matou Manoel Francisco da Silva, 54, e Ariston de Jesus, 61, duas funcionárias ficaram presas no mesmo elevador de serviço. “Todo mundo tinha medo de pegar o elevador porque ele já apresentava defeitos. Era uma desgraça decretada, nós sabíamos que um dia isso iria acontecer”, revela uma trabalhadora. Segundo ela, o equipamento era apelidado de “elevador da morte”.

Em outubro, quando duas funcionárias estavam trabalhando no prédio, o elevador ficou preso durante seis minutos. O equipamento não parou no andar desejado e foi, acelerado, até o último andar. Depois, desceu novamente para o sexto andar e travou. “Pegamos uma na mão da outra e chamamos por Deus”, relembra uma das pessoas que já ficaram presas no equipamento.

Segundo outra funcionária, o elevador estava com falhas elétricas na manhã em que Manoel e Ariston morreram. “Ele estava dando choque quando apertava o botão, também estava estalando e saindo cheiro de fumaça”, conta. Ela estava no apartamento onde trabalha quando ouviu o estrondo da queda do elevador. “Foi assustador. Parecia que um prédio estava caindo ao lado da gente”, relembra.

Na época da queda, a administração do condomínio afirmou que a manutenção do equipamento estava em dia. Segundo a administração, uma avaliação de especialista validou a segurança do elevador no dia 9 de novembro - cinco dias antes das mortes. A empresa Atlas Schindler é a responsável pela manutenção do equipamento.

As vítimas faziam uma mudança em um apartamento no sexto andar quando o elevador caiu sem acionar as travas de segurança. A queda foi de 25 metros e as vítimas morreram no local. O episódio aconteceu na manhã do dia 14 de novembro.

Com o acidente, a cabine do elevador ficou completamente destruída, e os bombeiros só conseguiram retirar os corpos das vítimas depois de duas horas de trabalho. O caso é investigado pela 6ª Delegacia (Brotas). O Ministério Público do Trabalho (MPT-BA) também abriu um inquérito para investigar o caso. O prazo para finalização da investigação é de 90 dias, podendo ser prorrogado.

Splendor, Waldemar Falcão
Corpos das vítimas só foram resgatados duas horas depois da queda Crédito: Reprodução

Trauma

Mais de 20 dias após o ocorrido, o elevador onde os homens morreram segue sem funcionar. Moradores e funcionários do Splendor Reserva do Horto temem utilizar os outros equipamentos do edifício. Muitos preferem utilizar as escadas, mesmo quem mora ou trabalha nos andares mais altos do prédio.

“Todo dia de manhã, várias pessoas se encontram subindo e descendo as escadas”, conta uma mulher que evita usar o elevador social por medo. Os funcionários que conversaram com a reportagem temem se identificar. Patrões e a administração do condomínio pedem para que os trabalhadores não comentem o caso com a imprensa. O medo, segundo os funcionários, é que os moradores tenham que pagar indenizações às famílias das vítimas. 

As conversas sobre os problemas do elevador acontecem, pelo menos, desde 2020. Em 5 de outubro daquele ano, o elevador do prédio despencou com uma passageira do 19º ao 9º andar. A empresa responsável pelo equipamento, na ocasião, não era a Atlas. O condomínio processou a empresa que fazia a manutenção por danos materiais, na 16ª Vara de Relações de Consumo da Comarca de Salvador.

O que dizem as empresas

A Atlas Schindler, responsável pela manutenção do elevador, foi procurada para comentar as denúncias de funcionários sobre os supostos problemas do equipamento. Em nota, disse apenas que lamenta as mortes e que coopera com as investigações. A empresa não comentou as denúncias de mau funcionamento do equipamento. 

"A empresa lamenta profundamente a fatalidade ocorrida em um edifício residencial em Salvador e se solidariza com as vítimas e familiares. Informa que está cooperando com as autoridades na investigação das causas do acidente, bem como trabalhando com o condomínio e todas as outras partes envolvidas. Reitera, mais uma vez, as profundas condolências à família das vítimas", disse. A nota enviada é a mesma divulgada no dia do acidente. 

A reportagem não conseguiu contatar a administração do condomínio. Após o acidente, o Splendor Reserva do Horto disse que mantém um contrato de “atendimento avançado total” desde fevereiro de 2021, que garante a manutenção integral de todos os elevadores. Veja a nota na íntegra abaixo:

"O Condomínio Splendor Reserva do Horto informa que, desde 1º de fevereiro de 2021, mantém um contrato de "Atendimento Avançado Total" com a empresa Elevadores Atlas Schindler, especializada na manutenção dos elevadores e fabricante do equipamento em questão. Este contrato garante a manutenção integral de todos os equipamentos do edifício, incluindo dois sociais e dois de serviço, conforme as diretrizes estabelecidas pela fabricante.

Todos os equipamentos passam mensalmente por avaliações periódicas e por processo de manutenção preventiva, realizadas exclusivamente pela Atlas Schindler, e, segundo a empresa, estavam em perfeitas condições de operação no momento do ocorrido.

Na última avaliação mensal de rotina realizada pela Atlas Schindler no dia 09 de novembro, o técnico responsável validou integralmente a segurança do equipamento. O comentário técnico disposto no laudo, segundo informação da própria empresa ao condomínio, refere-se ao serviço que foi realizado nesta visita e não se relaciona com risco de queda.

A administração do condomínio vem prestando todos os esclarecimentos necessários à autoridade policial e aguarda a conclusão da perícia conduzida pela Polícia Civil da Bahia e pela própria Atlas Schindler para identificar a causa do acidente. Toda comunidade do condomínio está transtornada com o acontecimento e se solidariza profundamente com a dor das famílias das vítimas".