Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Maysa Polcri
Publicado em 18 de novembro de 2025 às 16:24
O pior dia da vida de uma mãe sempre será aquele em que é preciso enterrar o seu filho. Para Wilma Nogueira, a despedida aconteceu nesta terça-feira (18). Com olhar perdido, andar cambaleante e cigarro em mãos, Wilma seguiu o cortejo de adeus ao filho, que ela tentou salvar da fúria de traficantes. >
Enquanto voltava para casa, a mãe tinha uma certeza: nunca mais ouviria a voz de Williams Nogueira dos Santos Silva. Aos 28 anos, o rapaz, que não tinha envolvimento com o tráfico, foi retirado de um terreiro em Simões Filho e executado com crueldade. >
Até então, tudo indica que a violência foi motivada pelo CEP. Williams morava no Nordeste de Amaralina, área sob domínio do Comando Vermelho, e foi morto na região de Aratu, território controlado pelos rivais Bonde do Maluco (BDM). Seu corpo foi abandonado em uma área de mata. >
Williams Nogueira foi encontrado morto em Simões Filho
Ao saber que o filho havia sido sequestrado por traficantes, Wilma Nogueira agiu como uma mãe desesperada. Pediu uma corrida de moto e foi, sozinha, até o local próximo ao terreiro que Williams frequentava, em Simões Filho, em busca do paradeiro do rapaz. Lá, encontrou os executores que participaram do assassinato do filho. Implorou para que ele fosse salvo ou que, pelo menos, seu corpo fosse entregue. Sem sucesso. >
"Eu sabia que tinham levado meu filho para uma área de mata perto do terreiro, que é onde eles pegam as plantas para fazer os rituais. Eu fui até lá, pedi para ver meu filho. Mas eles não deixaram, me mandaram voltar", relatou Wilma Nogueira, que conversou com homens armados próximo ao local da execução. >
"Eu queria tentar salvá-lo. Queria ver se eles tinham coração e se entregariam meu filho. Olharam na minha cara e disseram que ele ia voltar para casa", contou a mãe. >
Segundo relatos de amigos e parentes, Williams participava de uma celebração religiosa quando foi retirado à força do terreiro com outros homens. Entre os que ficaram rendidos estava o seu irmão, que foi liberado pelos traficantes. >
"Eles ficaram na minha cola também. Deram tiro para cima, foi muita crueldade", falou. Diferente do irmão, Williams ficou preso porque os criminosos acreditaram que ele tivesse ligação com o tráfico no Nordeste de Amaralina, bairro onde nasceu e foi criado. >
A presença de dezenas de familiares e amigos no sepultamento de Williams, realizado na tarde desta terça-feira (18), dá indícios do contrário. "Meu amigo não tinha relação com nada de ruim. Era um homem bom, trabalhador", lamentou uma amiga. >
O rapaz trabalhava prestando serviços pra um deputado estadual, mas fez o Enem neste mês porque queria entrar na faculdade. "Ele vinha dizendo para a mãe que estava arrependido de não ter estudado, que ia fazer o Enem para mudar de vida", acrescentou. >
No celular de Williams, seus executores teriam encontrado mensagens de traficantes do Nordeste de Amaralina. Para familiares, isso não significa que ele tivesse relação com o crime. "Meu filho era querido por todo mundo, mas foi morto por ser do Nordeste. E o que é que tem? Eu também sou nascida e criada lá. Isso não significa nada", disse a mãe, Wilma Nogueira. Após 48 horas sem notícias do filho, ela buscou uma delegacia e passou o endereço da execução para os policiais, que localizaram o corpo. >
A despedida foi marcada por comoção e revolta. Alguns familiares se jogaram no chão, aos prantos, enquanto buscavam explicações para o que só a violência extrema é capaz de fazer. "Quer dizer que nós não podemos mais sair de casa e frequentar outros bairros? Temos que ficar presos?", questionou uma vizinha da família, ao se compadecer com o sofrimento da mãe. >
Enquanto seguia o cortejo que levou o caixão do filho, Wilma Nogueira constatava o que para sempre vai doer. "Ele não voltou para casa ontem, não vai voltar hoje...", lamentou em voz baixa. >
Antes de ser morto e ter o corpo abandonado no bairro de Aratu, em Simões Filho, Williams chegou a ser fotografado por seus assassinos. De acordo com informações de um policial, traficantes do Bonde do Maluco, que sequestraram a vítima apenas por ser morador do Nordeste de Amaralina, o obrigaram a fazer o sinal de 3 com as mãos em referência ao grupo.>
A vítima saiu de casa, no Nordeste de Amaralina, para uma celebração religiosa em um terreiro de Simões Filho sem saber que corria risco de vida pelo fato de ser morador de uma área que tem atuação do Comando Vermelho (CV), rival do BDM. Pelas redes sociais, amigos, familiares e até pessoas que apenas conheciam Williams lamentaram a sua morte e a crueldade de toda ação criminosa.>
A Polícia Militar da Bahia (PM-BA) afirma que agentes da 22ª CIPM foram acionados, na tarde de segunda-feira (17), para averiguar a informação do corpo de Williams. Ao chegarem, os militares encontraram a vítima e acionaram o Departamento de Polícia Técnica (DPT) para remoção e perícia.>
A Polícia Civil da Bahia (PC), por sua vez, informou que a 3ª Delegacia de Homicídios (DH/BTS) já tem os indícios dos autores do crime. No entanto, as investigações seguem em sigilo e mais detalhes não poderão ser divulgados no momento. O CORREIO já mostrou em reportagem que pessoas sem qualquer envolvimento com o crime são mortas ‘pelo bairro onde moram’.>