MPF pede multa de R$ 10 milhões para Suzano e Inema por briga ambiental no sul da Bahia

Ministério quer suspensão da licença dada pelo órgão estadual

  • Foto do(a) author(a) Da Redação
  • Da Redação

Publicado em 16 de abril de 2024 às 09:00

MPF quer impedir que Suzano realize obras que afetam comunidades tradicionais sem consulta prévia na Bahia
MPF quer impedir que Suzano realize obras que afetam comunidades tradicionais sem consulta prévia na Bahia Crédito: MPF

O Ministério Público Federal (MPF) entrou com ação para suspender a licença ambiental expedida pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) que permite à empresa Suzano operar sobre a base florestal em comunidades remanescentes de quilombos nos municípios de Caravelas e Nova Viçosa, no extremo sul da Bahia. Como forma de reparação por danos morais coletivos, a ação pede os envolvidos sejam condenados ao pagamento de R$ 10 milhões, com multa no mesmo valor em caso de não pagamento, em favor das comunidades. 

O órgão afirma que o documento emitido pelo Inema foi feito sem o consentimento prévio, livre e informado das populações tradicionais, e que a fabricante de papel tem realizado obras de infraestrutura – como reforma de ponte, construção de túnel e abertura de estradas para tráfego de veículos de carga pesada – que geram impactos negativos às comunidades tradicionais de Volta Miúda, Helvécia, Rio do Sul, Cândido Mariano, Vila Juazeiro, Naiá e Mutum.

Os principais danos se referem à alteração do modo de vida das comunidades, historicamente acostumadas a locomover-se em vias menores e estreitas, rodeadas pela vegetação, inacessíveis para veículos pesados. "A Suzano tem alargado e construído estradas para transportadores de madeira, que geram poluição, levantamento de poeira, barulho e transformam a locomoção tradicional dos habitantes em uma atividade de risco", denuncia nota do MPF.

Em nota, a Suzano informou que dispõe de todas as licenças ambientais necessárias para a sua operação, assim como respeitoa as comunidades tradicionais, rurais e urbanas. A reportagem entrou em contato com o Inema e Nova Viçosa - também acusadas pelo MPF -, mas não recebeu retorno. 

Na ação apresentada à Justiça Federal, o MPF menciona que um ciclista faleceu em uma estrada de Nova Viçosa depois que a carga de toras de madeira de uma carreta da Suzano caiu sobre ele. 

Além disso, uma das obras, a construção de um túnel viário na faixa da rodovia BR-418 que multiplicou o tráfego nas estradas que atravessam as comunidades quilombolas, chegou a ter a licença revogada pelo município de Nova Viçosa, mas a Suzano recorreu à Justiça e deu continuidade à obra, informou a pasta. 

Na ação, o MPF pede que, nas estradas de uso dos quilombolas, a Suzano paralise o tráfego de caminhões pesados e as obras de abertura, reforma e alargamento; e que não realize novas obras de infraestrutura sem que haja a consulta prévia, livre e informada das comunidades. Além disso, pede que a Justiça Federal declare nulos a licença e o pedido de renovação feito pela Suzano e determine que o Inema e o Município de Nova Viçosa não emitam novas licenças ambientais sem o consentimento dos quilombolas.