'Não descanso sem justiça', diz mãe de menina atropelada e morta na Bonocô

Eloá Rastele, 11 anos, morreu em junho de 2022; Acusado fugiu sem prestar socorro e foi indiciado por homicídio culposo

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  • Wendel de Novais

Publicado em 28 de agosto de 2023 às 08:41

Valdenice, mãe de Eloá, em protesto Crédito: Marina Silva/CORREIO

"Tudo é lento nesse caso. Na época que Eloá morreu, demorou três dias para o responsável se apresentar. Agora, mais de um ano depois, a justiça não foi feita", fala Valdenice Xavier Rastele, 35 anos. Ela é mãe de Eloá Rastele de Oliveira, 11, que morreu após ser atropelada por um carro na Avenida Bonocô, no dia 19 de junho de 2022. A auxiliar de cozinha reclama que, mesmo com 'provas' e mais de um ano depois, o motorista do veículo que atingiu a sua filha não chegou a ser preso.

Na época, o homem, que não teve o nome divulgado pela polícia, se apresentou três dias após ter atropelado Eloá e fugido do local sem prestar socorro. A omissão de ajuda é o que mais indigna Valdenice. "Tudo é muito revoltante, mas o pior é que ele atropelou minha filha e tratou como se fosse um animal, sem parar para dar socorro. Mesmo assim, anda livre. A verdade está aí, as câmeras estão aí e tudo mostra que ele estava em alta velocidade. Como não tem resposta? Não descanso sem justiça", garante ela.

O caso foi registrado na 6° Delegacia Territorial (DT) de Brotas. Procurada, a Polícia Civil da Bahia (PC) afirmou que a investigação já foi fechada e o inquérito concluído. "A 6ª DT de Brotas indiciou o condutor do veículo por homicídio culposo, mesmo com a ausência dos exames toxicológicos e de alcoolemia no primeiro momento do fato, considerando que o suspeito não foi encontrado até o terceiro dia após o acidente, quando se apresentou na unidade policial", escreve em nota.

Sobre ausência dos exames, a polícia explica que o indiciado teve os procedimentos solicitados na presença de seus advogados, mas não os realizou. "Recebeu as guias para os exames, não realizando posteriormente. Motivo pelo qual ele foi indiciado mesmo sem os laudos. Dessa forma, no entendimento do presidente do inquérito, assumindo a responsabilidade pelo ato", completa a polícia, informando que os próximos passos do caso estão com o Poder Judiciário.

Procurado para informar sobre a data do julgamento do responsável e mais detalhes do caso, o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) não respondeu até o fechamento desta matéria. O Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) também foi questionado se acompanha o processo. O órgão reiterou que, no último dia 17 de agosto, pela terceira vez, procurou a 6ª Delegacia Territorial de Brotas, pedindo informações sobre o atual andamento do inquérito policial que apura crime.

"No pedido, inclusive, o MP solicita que sejam juntados ao inquérito os resultados dos exames toxológico e de embriaguez", explica via assessoria. No entanto, nem o MP e nem a família tiveram as solicitações pelos exames atendidas. Valdenice, por sua vez, não se conforma que a polícia não tenha feito os exames no acusado.

Eliabe, pai de Eloá, e Valdenice choram em enterro da filha Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

"Precisava saber se estava bebendo ou usando algum tipo de entorpecente. Eu questionei a polícia diversas vezes sobre o exame e, por fim, me informaram que fizeram o inquérito sem, colhendo os depoimentos e fazendo a perícia do carro. E eu só soube disso quando completou um ano da morte de Eloá", conta.

No domingo [19 de junho] , Eloá estava na Igreja, como de costume, com um grupo de crianças. Na saída, o grupo decidiu ir para a quadra do canteiro central da Bonocô e assistir uma partida de futebol, o que só era possível caso atravessassem a via no sentido centro.

Boa parte dos que estavam com ela, conseguiu passar sem problemas. Eloá, sozinha, não. "Eles conseguiram passar, mas, na hora que todo mundo foi, uma amiguinha segurou ela e não deixou ir. Porém, Eloá foi sozinha. Na hora, um carro branco freou em cima dela. Sem saber se ia ou voltava, ela foi pra frente e um carro preto atropelou minha filha", relatou Valdenice, na época.

Eloá foi sepultada no dia 21 de junho, na área de memorial do cemitério Quinta dos Lázaros. Na ocasião, ao menos 100 pessoas foram até o local para se despedir da jovem. Das 10h30, quando começou o velório, até às 12h, quando ela foi enterrada, entre familiares, amigos e conhecidos, o choro e a sensação de choque pela partida prematura da pequena eram comuns.