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Larissa Almeida
Publicado em 5 de junho de 2024 às 06:10
Referência no direito contra as mulheres e na luta contra o racismo, a advogada criminalista Fayda Belo, natural do Espírito Santo, vem a Salvador na próxima sexta-feira (7) para participar da II Conferência Estadual da Jovem Advocacia Baiana. Ela, que ficou famosa durante a pandemia por simplificar o Direito, diz ter como missão de vida ajudar as minorias a garantirem seus direitos essenciais. Entre eles, está o direito à vida das mulheres, que sofrem todos os dias com a violência de gênero. >
Na Bahia, nove a cada dez feminicídios são cometidos pelo parceiro da vítima. O dado, divulgado em março deste ano, é do infográfico Feminicídios na Bahia, realizado pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) em parceria com a Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), que reuniram ocorrências registradas entre 2017 e 2023. >
Para Fayda Belo, a violência de gênero contra as mulheres é herança da colonização. “O Brasil foi um país colonizado pela Europa com um modelo pronto, que tinha o homem como líder e a mulher como um adereço, que vinha ao mundo apenas para dar herdeiros. E assim nasce o Estado do Brasil. A violência contra a mulher já foi uma política de Estado, então, quando eu olho isso, vejo que hoje ainda colhe resquícios dessa herança histórica”, aponta. >
Uma vez que há uma cultura patriarcal estabelecida desde esse período, a advogada criminalista analisa que, ainda hoje, essas violências persistem na sociedade porque muitas mulheres não entendem os próprios direitos e têm dificuldade de reconhecer as nuances do crime de gênero. “O primeiro ponto é que elas não denunciam porque ficam com receio e, o segundo, é que não têm uma rede em volta que entenda que ela não pode ser violentada. Eu sempre oriento as mulheres sobre todo esse histórico de violência contra as mulheres que o Brasil tem e oriento que toda mulher tem o direito de ser amada”, afirma. >
“E amor não dói, não machuca e não mata. O que faz isso é abuso e, como tal, ele precisa ser olhado. Mas, é muito importante que toda a sua rede em volta, como pai, mãe, irmãos e amigos, entenda dessa mesma forma. É a essa rede que uma mulher vítima vai relatar primeiro o abuso sofrido e a resposta que essa rede dá ao relato é que vai ser o norte para que essa mulher rompa o ciclo”, acrescenta Fayda. >
Os homens, conforme defende a advogada, também precisam fazer parte da rede de apoio para ajudar a mudar o cenário que os torna algozes na sociedade. “Eles têm obrigação de serem aliados para compreender que a mulher é um indivíduo igual a eles. E, igual a eles, nós temos o direito de viver sem abusos, de ter uma relação na qual possamos optar se ficamos ou não nela”, finaliza.>
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro>