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Carolina Cerqueira
Publicado em 28 de junho de 2025 às 05:00
À noite, as ruas do Santo Antônio Além do Carmo e do Pelourinho estão repletas de soteropolitanos e turistas que procuram diversão, comida, bebida, música. Quantos deles devem saber que por aqueles espaços passou a tropa da resistência durante as lutas pelas independência? É o que costuma questionar o historiador Jaime Nascimento. "Tem gente de Salvador que não entende esse percurso, tem gente que participa do 2 de julho e não sabe a história", lamenta ele. >
O historiador conta que os dois bairros do Centro Histórico não foram palcos de combates e nem tiveram papeis mais ativos no circuito, como Pirajá, Lapinha e Soledade. Eles representam a marcha que consolida a reconquista. "O objetivo era chegar até a Câmara Municipal, que era o símbolo do poder. E nisso a tropa da resistência não sabia ainda que os portugueses já tinham evacuado", diz Jaime.>
Rafael Dantas, também historiador, explica que estes eram espaços ocupados pelos portugueses na cidade e quem lutava contra eles ficava nas redondezas. "O Carmo e o Pelourinho eram locais das vistas, onde se avistava a Baía de Todos os Santos de forma estratégica", compartilha Rafael.>
É no Carmo, principalmente nas proximidades da Ladeira do Boqueirão, que ficam casas decoradas com as cores da bandeira do Brasil em homenagem à data. As famosas fachadas decoradas são destaques do cortejo e participam até mesmo de premiações que elegem as melhores.>
Chegando ao Largo do Pelourinho, o destaque vai para a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, onde o cortejo faz uma pausa. O motivo é uma homenagem que a Irmandade dos Homens Pretos presta ao festejo ao depositar uma coroa de flores no carro onde ficam a cabocla e o caboclo, logo após uma missa. >
No Largo Terreiro de Jesus, no Pelourinho, fica a Catedral Basílica de Salvador. Antes Capela dos Colégio dos Jesuítas, ficou assim denominada após a expulsão dos jesuítas, episódio importante da história do Brasil colônia.>
Finalmente, chega-se à Praça Municipal, onde está a Câmara Municipal. No Brasil, as câmaras ocuparam importante papel durante o período colonial e perderam atribuições no período republicano. É por isso que, nascida em 1549 junto com a cidade, a Câmara Municipal de Salvador era um ponto de chegada tão cobiçado pela tropa de resistência. >
O local foi o ponto final do desfile até a segunda metade do século 19. "O Campo Grande não existia. Depois, ele foi urbanizado, virou Parque 2 de Julho, ganhou um monumento em homenagem à independência e foi incluso no desfile", explica Jaime Nascimento. >
Confira ao lado dicas de seis locais para visitar no Santo Antônio e no Pelourinho que trazem história e charme para o trajeto do 2 de julho. De sebo/livraria, até igreja e museu, passam também por locais onde comer. Nas próximas páginas, encontre a história e as dicas que contemplam a parte final do percurso, incluindo desvios no trajeto importantes para a história, como o Largo dos Aflitos e o Convento da Lapa.>
O cortejo do carro dos caboclos vem pela Rua dos Perdões e Rua dos Adôbes e vira à direita para subir a Ladeira do Boqueirão. Mas quem olhar adiante antes de fazer a curva verá, no número 15, uma casa amarela com livros na porta. É o sebo de Gilberto Carvalho de Freitas. Historiador, ele é um grande fã e pesquisador da história do Brasil, fascinado pelos fatos que não estão nos livros mais óbvios. Com tantos livros colecionados, ele resolveu abrir o espaço ao público, há cerca de um ano e meio, vendendo e distribuindo gratuitamente as obras. Ele conta que cerca de 30 livros por semana são adotados por quem passa pela frente do local e se depara com as ofertas para doação. >
O próximo passo de Gilberto será montar uma biblioteca nos fundos do casarão. O nome será Biblioteca da Independência. No dia 2 de julho, livros sobre a história da independência do Brasil na Bahia estarão expostos na fachada. Para quem quiser conferir a coleção de Gilberto, a livraria/sebo fica na Rua dos Adôbes, número 15, no Santo Antônio Além do Carmo. >
O charme da Rua Direita do Santo Antônio, principal via do bairro, se dá pelos casarões tradicionais e ganha destaque no cortejo que passa por ali no dia 2 de julho. Na data oficial, reúne uma multidão e tem até fachadas vivas e decoradas como um espetáculo à parte. A rotina no restante do ano é de um bairro residencial que vira palco de festas e point da boemia soteropolitana durante os finais de semana. >
O monumento Cruz do Pascoal é um lembrete do legado histórico do bairro. Ainda que tenha sido colocado ali no século 18 - portanto, antes da independência - é considerado o primeiro oratório da cidade. Assim, o monumento foi uma das testemunhas da passagem dos combatentes da independência. >
Hoje, andar pela Rua Direita provoca nostalgia nos moradores mais antigos, mas também evoca um potencial maior a ser explorado no turismo. "Amo meu bairro, mas falta o 2 de julho como antes. Acho que tem demanda, mas muitos meninos hoje não querem mais participar", pondera a comerciante Andrea Carvalho, de 53 anos. "Tem muita história aqui que ninguém sabe, só os moradores mesmo", acrescenta a costureira Cristina Silva, de 58. >
O menu do Zanzibar, restaurante focado na culinária afro-brasileira, sempre foi uma homenagem à resistência africana. Por isso, quando passou a funcionar na Rua Direita do Santo Antônio, cerca de 10 anos atrás, não podia ser um diálogo mais oportuno. Desde então, o restaurante de 47 anos está posicionado em meio ao percurso do cortejo da independência. No dia 2, a chef Ana Célia Santos prepara, além da comida baiana e da comida africana, uma feijoada especial (em alguns anos, também uma maniçoba) para esse dia. >
"A gente faz um prato mas rápido, porque as pessoas querem uma comida prática e forte para sair para continuar o trajeto", explica. O movimento é intenso a partir do meio-dia. Desde que está no local, ela acredita que o cortejo do 2 de julho tem chamado mais atenção e atraído mais participantes do que vinha acontecendo antes. "Acho que uma rota turística teria demanda, então deveria ter. Hoje em dia, tem aumentado muito o cotejo, então, é interessante que se fortaleça". O restaurante fica no nº 60 e a feijoada será servida a partir de 12h no dia 2. >
Marco da cidade de Salvador, a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Largo do Pelourinho, faz parte da história das lutas pela independência. Quem explica é o historiador Jaime Nascimento. "A cidade estava tomada pelos portugueses e a resistência se dava através dessas instituições. A Irmandade dos Homens Pretos era a principal. Eram nesses locais que as pessoas se reuiam, se organizavam, para ver como poderiam resistir", diz Jaime. >
A Irmandade dos Homens Pretos é também chamada de Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, representada pela igreja de mesmo nome. O local, tido como a primeira irmandade para negros em Salvador, é símbolo de resistência deste povo. "Todos os anos, quando o cortejo do 2 de julho passa, para na porta da Igreja para que a Irmandade coloque uma coroa de flores no carro dos caboclos", acrescenta o historiador Jaime Nascimento. O espaço é aberto para visitação, que custa R$10. O funcionamento é de segunda à sexta, das 8h às 16h45 (com pausa de 11h45 às 13h), e aos sábados, das 8h às 11h45. O telefone é (71)984529415. >
Do lado esquerdo do Largo do Pelourinho, para quem está virado para a Fundação Casa de Jorge Amado, está o Museu da Gastronomia. Gerido pelo Senac, o local tem entrada gratuita e vários espaços para visitação, como o Restaurante História e Sabor, o Salão São Salvador e o próprio museu. Uma caixinha de surpresas! Neste último, o visitante mergulha na história da gastronomia brasileira a partir de influências como europeia e africana, aprendendo sobre variados ingredientes. No restaurante, a comida é a quilo e o funcionamento é de segunda à sexta, das 11h30 às 15h30. >
O Salão São Salvador é uma surpresa. Nele, a Sala das Armas contém garruchas e espadas usadas na defesa da cidade de Salvador nos séculos 18 e 19. Na Sala das Bandeiras, estão as representações de todas as bandeiras que o Brasil teve ao longo da história, incluindo a do Império, que marca o início da monarquia no país a partir da declaração de independência, em 1822. Este espaço funciona de segunda a domingo, das 8h às 16h20. O local estará funcionando no dia 2 de julho. >
Se apresentando como o restaurante mais tradicional do Pelourinho, o Axego é mais uma excelente pedida para a pausa do almoço durante o cortejo do 2 de julho. Tem mesas externas e internas para o cliente escolher a preferência e um cardápio vasto com opções de petiscos como casquinha de siri, caldo de sururu e carne de fumeiro com fritas ou vinagrete e farofa. O destaque nos pratos principais vai para o Arroz de Hauçá, o prato mais famoso da casa, que leva carne seca e camarão e foi adaptado pelo chefe Manoel Pereira. Manoel fundou o restaurante e, ao falecer em 2021, a família deu continuidade ao negócio. >
Típica da Bahia, a comida tem raízes na culinária africana. Vai ser servida no 2 de julho, que é o dia do ano com mais movimento, como garantem os proprietários do Axego. Dobradinha e carne do sol também costumam fazer sucesso nessa data. O restaurante abrirá às 10h com serviço de cerveja e o almoço sairá a partir das 11h30. O endereço é Rua J. Castro Rabelo, número 16, Pelourinho. O telefone para contato é (71)991407012 e o perfil no Instagram é @axegorestaurante. >