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“Tenho vontade de mudar de vida, mas não tenho força”, diz baiano em situação de rua

Sem lar, baianos contam como fazem para sobreviver nas ruas e falam de vida para além da vulnerabilidade

  • Foto do(a) author(a) Larissa Almeida
  • Larissa Almeida

Publicado em 25 de abril de 2025 às 06:00

Bahia tem mais de 14 mil pessoas em situação de rua Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Na esquina da Ladeira de Santana, já no cruzamento com a Rua da Fonte do Gravatá, Thiago Lima Reis, 42 anos, estava sentado ao redor de inúmeros itens retirados do lixo para almoçar, na tarde da última quinta-feira (24). O local, que para muitos é mais um ponto de passagem, é o mais perto do espaço que ele pode chamar de seu, uma vez que vive nas ruas há cerca de dez anos. A realidade dele é a mesma que acomete pelo menos outras 14.705 famílias baianas, que estão em situação de rua – uma das consequências extremas do abandono e negligência.

Thiago conta que tudo aconteceu de maneira muito rápida. Sem saber precisar a época, ele afirma que era jovem quando saiu de São Sebastião do Passé, na Região Metropolitana de Salvador, depois de desavenças que teve com a mãe por conta de herança. Quando chegou na capital baiana, não conseguiu emprego, se tornou dependente químico e passou a fazer ‘morada’ nas ruas. Primeiro, viveu na Boca do Rio e, depois, se estabeleceu em Nazaré, onde consegue almoçar todos os dias graças à caridade de um velho comerciante local.

Quando perguntado sobre a vida que leva, Thiago é sincero. “A vida de pessoas na rua não tem um destino certo. Eu faço algo: reciclo e, quando aparece alguns bicos, eu faço, como colocar areia para dentro de uma casa ou jogar entulho fora. [...] Tenho vontade de mudar de vida, mas não tenho força”, admite, referindo-se à dependência química em crack, a qual já tentou tratar e não obteve êxito.

Apesar do vício, Thiago disse que ainda tem o sonho de sair da situação que vive antes de morrer. O sonho dele é o mesmo compartilhado por Carlos Augusto Nascimento Santos, de 37 anos, que vive nas ruas do Comércio. Atualmente, é possível encontrá-lo na Praça da Mãozinha, onde circula de bicicleta e vive sondando possíveis trabalhos para sustentar a esposa e os dois filhos, de oito e dez anos. As crianças nunca tiveram um lar, mas ele conta que se esforça para impedi-las de seguir o caminho que ele percorreu.

“Tem entre 10 e 15 anos que eu vivo nas ruas. Eu boto meus filhos na escola de manhã e no Projeto Axé de tarde, porque eu vivo reciclando e de ‘bicos’ para não dar dor de cabeça a ninguém. [...] Minha esposa recebe o auxílio, o que ajuda. O dinheiro que eu tiro dá para pagar o café dos meninos, dá para fazer o almoço, que eu cozinho na lenha. Os irmãos [outras pessoas em situação de rua] chegam, colaboram, eu vou na feira e peço ajuda às pessoas. O dinheiro que dá para comprar, eu compro. O que não dá, eu peço”, relata.

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Carlos vive nas imediações da Praça da Mãozinha, no bairro do Comércio Crédito: Larissa Almeida/CORREIO

Carlos explica que foi parar nas ruas por diversos fatores. Aos 12 anos, ele conta perdeu a mãe e o pai. Sem direção, se envolveu com a criminalidade e ficou preso por três anos. “Quando eu saí, vi que as vagas de trabalho eram poucas. Nós, pretos, já somos muito discriminados. Quando vamos colocar currículo, veem a passagem e fica mais difícil ainda. Ninguém quer, mas eu sigo tentando. Descarrego caminhão de sal, trigo, o que for. Eu quero viver digno”, afirma.

Ao ser indagado sobre os sonhos que têm, Carlos diz que deseja voltar a estudar. Ele, que se acanhou ao admitir que sabia ler pouco, mostrou com orgulho a carteira de identidade devidamente assinada – uma prova de que sabia ler. “[Através dos estudos], quero trabalhar, voltar a estudar, ter minha casa própria para colocar meus filhos para eles terem um lar quando crescerem. Eu converso com eles e falo que vida errada não presta, não vale nada. Hoje, podemos ganhar R$ 1 milhão e amanhã estarmos no chão. Por isso, quero viver com a cabeça erguida”, finaliza.