União de mais de 40 anos: como nasceu o samba junino

Ritmo foi registrado como Patrimônio Cultural de Salvador em 2018

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  • Raquel Brito

Publicado em 20 de abril de 2024 às 06:45

Samba junino foi celebrado nesta sexta-feira (19)
Samba junino foi celebrado nesta sexta-feira (19) Crédito: Paula Froes/CORREIO

Num encontro de ritmos que só Salvador tem, os toques do timbau, do tamborim e do surdo se uniram ao São João e deram origem ao chamado samba junino. A mistura não é nova: remonta ao período entre as décadas de 1970 e 1980.

Quem explica é o músico e jornalista Pedro Nascimento. “Desde os anos 80, há registros jornalísticos apontando a ocorrência do movimento do samba junino em alguns bairros de Salvador”, conta.

O samba junino representa uma expressão cultural marcada pela rítmica do samba duro, disseminada há pelo menos 40 anos em diversos bairros de Salvador. Sem conseguir viajar para as cidades do interior para os festejos de junho, moradores de regiões como Engenho Velho da Federação e Garcia começaram a se organizar ao seu próprio modo, cada bairro com sua manifestação, mas com algo em comum: trazendo o samba para a festa.

“Musicalmente falando, o samba duro, que é tocado nesses eventos, deriva flagrantemente do samba de roda do Recôncavo e também dos sambas de caboclo dos terreiros de candomblé”, conta Nascimento.

Ele diz ainda que o samba duro é um dos tipos de samba derivados do cabila, uma clave rítmica do candomblé da nação Angola. Dessa maneira, essa vertente reconfigura a clave matricial que é o cabila e incorpora elementos próprios à sua estética.

Em 2018, o samba junino foi registrado pela Fundação Gregório de Mattos (FGM) como patrimônio cultural da cidade. Motivo de celebração para quem luta pela salvaguarda do ritmo, como Vagner Shrek, atual presidente da Liga do Samba Junino. A comunidade, formada por grupos como Fogueirão e Samba Skorpion, levou a manifestação musical às ruas do Pelourinho nesta sexta-feira (19), em homenagem ao Dia Municipal do Samba Junino, celebrado na quarta-feira, dia 17.

“Esse nosso movimento mostra o resgate de uma cultura que precisa ser preservada. A contribuição do samba junino para a cidade de Salvador é muito importante para nossa cultura, por isso a gente luta para cuidar, para que ele permaneça vivo por muito mais tempo”, disse.

A organização tem relação direta com os bairros da cidade. Alguns dos bairros tradicionais que realizam os festejos são Engenho Velho de Brotas, Engenho Velho da Federação, Federação, Fazenda Garcia, Tororó, Nordeste de Amaralina e Garcia.

“É fundamental lembrar que, muito mais do que um ritmo ou uma manifestação musical, o samba junino é uma manifestação cultural complexa, que mobiliza as comunidades dos bairros onde ocorre e que tem um ápice no período junino, mas ao longo do ano também tem várias atividades relacionadas às bandas que tocam nesses eventos”, diz Pedro Nascimento.

A tradição de manter viva a cultura afrodiaspórica é outro fator essencial mencionado pelo especialista. “Nesse sentido, o samba junino é uma das manifestações que têm papel agregador da comunidade, principalmente a comunidade negra de Salvador. Além disso, também é um espaço formador de artistas”, afirma.

Entre os artistas que já passaram pelo samba duro, destacam-se nomes como Márcio Victor, Carlinhos Brown e Daniela Mercury, além da banda Timbalada.

*Com orientação da subeditora Fernanda Varela