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Dois municípios baianos têm mais domicílios de uso ocasional do que residências permanentes
Maysa Polcri
Publicado em 9 de setembro de 2024 às 09:02
Para chegar até a Península de Maraú, no sul da Bahia, é preciso ter, além de disposição, um automóvel que aguente muita lama e buracos pelo caminho. Isso porque o trecho da BR-030, que leva os visitantes e moradores até o paraíso baiano, é de terra e possui cerca de 45 quilômetros de distância. As dificuldades de acesso refletem na ocupação do território: Maraú é uma das cidades baianas que mais têm casas de veraneio da Bahia.
Por lá, 29,2% dos domicílios são de uso ocasional. Isso significa que eles não são a residência principal dos moradores, mas onde as pessoas passam férias ou alugam por curtos períodos de tempo. É o que faz a família da advogada Julia Leal, 26, que tem casa em Barra Grande, uma das praias mais famosas de Maraú. O imóvel foi construído em 2015, bem antes da região se tornar cobiçada por celebridades. Neymar, Bianca Andrade e Caio Castro são alguns dos famosos que já foram fotografados por lá.
“Na época em que começamos a construir, não tinha quase nada por perto, nem pousadas e nem casas. Com o passar do anos, a região começou a crescer, e hoje todos os terrenos vizinhos estão ocupados”, conta Julia Leal. Se na alta temporada as praias, bares e restaurantes ficam lotados de turistas, é a tranquilidade que reina em Maraú no resto do ano.
A casa da família da advogada fica disponível para alugar, mas nem sempre encontra interessados com facilidade. “O movimento em Maraú caiu muito após a pandemia e, na baixa temporada, chove muito. Como lá não é asfaltado, o acesso fica mais difícil e não se torna tão atrativo para quem é de fora”, comenta.
Dados sobre domicílios divulgados pelo Censo 2022, na última sexta-feira (6), revelaram quais cidades da Bahia possuem os maiores percentuais de imóveis de ocupação ocasional. Maraú aparece em quinto lugar, atrás de Saubara (54%), Vera Cruz (51,7%), Itaparica (38,2%) e Mata de São João (32,9%). Todas as cidades são litorâneas e têm forte presença de imóveis de veraneio.
No período de alta temporada, os setores de serviço desses municípios de desdobraram para atender a demanda que, durante o resto do ano, é reprimida, como ressalta Mariana Viveiros, supervisora de informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“A cidade acaba tendo que se organizar para viver um período de baixo dinamismo econômico e, por outro lado, uma demanda enorme em um curto período de tempo, o que, por vezes,sobrecarrega esses setores”, diz. Mariana Viveiros explica ainda que a maior parte dos imóveis de uso ocasional são domicílios utilizados em temporadas, mas que repúblicas de estudantes também podem integrar a lista, em certos casos.
Enquanto as casas de veraneio são maioria em cidades como Saubara e Vera Cruz, na capital, esse tipo de domicílio representa apenas 4,4% do total. Salvador possui 53.260 imóveis de uso ocasional, sendo o terceiro maior número absoluto entre todas as capitais do país. A cidade fica atrás apenas de Rio de Janeiro (90 mil) e São Paulo (86 mil). No Brasil como um todo, são 6,6 milhões de domicílios para esse fim, o que representa 7,4% do total.