Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Carol Neves
Publicado em 22 de setembro de 2025 às 09:57
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve anunciar nesta segunda-feira (22) a existência de uma possível ligação entre o uso de paracetamol durante a gestação e o aumento do risco de autismo em crianças. A declaração se apoia em um levantamento federal conduzido pelo secretário de Saúde, Robert F. Kennedy Jr., e deve reabrir o debate sobre a segurança do analgésico mais utilizado por grávidas em todo o mundo.>
“Amanhã vamos ter um dos maiores anúncios… medicamente, eu acho, na história do nosso país”, disse ele. “Acho que vocês vão achar impressionante. Acho que encontramos uma resposta para o autismo", disse Trump ontem, durante o velório do ativista Charlie Kirk.>
Conhecido também como acetaminofeno e vendido sob diferentes marcas, como Tylenol (EUA) e Panadol (Reino Unido), o paracetamol é indicado para aliviar dores e febre, sendo considerado o medicamento de primeira escolha na gravidez. Estudos apontam que 65% das gestantes norte-americanas e metade das britânicas recorrem à substância.>
Embora seja amplamente prescrito, autoridades de saúde já recomendam cautela, defendendo que o fármaco seja usado apenas em doses baixas e por tempo limitado, especialmente em mulheres com problemas renais, hepáticos ou que fazem tratamento para epilepsia.>
O jornal inglês Daily Mail noticiou que uma revisão de 46 estudos, envolvendo mais de 100 mil participantes, realizada por equipes de Harvard e do Hospital Mount Sinai, em Nova York, encontrou “fortes evidências” de associação entre o consumo pré-natal de paracetamol e maior ocorrência de autismo e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).>
Para Didier Prada, um dos autores da pesquisa, mesmo variações pequenas no risco podem gerar grande impacto em saúde pública, dada a utilização generalizada do medicamento. Ele e outros cientistas, no entanto, ressaltam que os dados apontam associação, mas não estabelecem uma relação direta de causa e efeito.>
Especialistas também pedem moderação nas conclusões. Andrew Whitehouse, professor do Kids Research Institute, na Austrália, afirmou que “autismo é uma condição complexa, influenciada por múltiplos fatores genéticos e ambientais. As pequenas associações encontradas até hoje não provam que o paracetamol cause a condição”. Ele lembra ainda que a febre não tratada durante a gravidez também pode trazer riscos tanto para a mãe quanto para o bebê.>
A possível declaração de Trump deve aumentar a pressão sobre órgãos reguladores e profissionais de saúde em diversos países. No mês passado, pesquisadores de Harvard já haviam orientado que gestantes só utilizem paracetamol com prescrição médica.>