19 funcionários do Hospital da Mulher são afastados por suspeita de covid-19

Unidade registrou contaminação em um paciente, que foi transferido para o Hospital Ernesto Simões

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  • Hilza Cordeiro

Publicado em 6 de maio de 2020 às 05:06

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Fernando Vivas/GOVBA

Os casos de infecção pelo novo coronavírus na Bahia seguem crescendo e as unidades de saúde do estado começaram a registrar infecção entre os seus profissionais. Depois dos hospitais Português, Prohope e Santo Antônio (Osid), foi a vez do Hospital da Mulher — que nem mesmo é referência para a covid-19 — anunciar o afastamento de 19 funcionários por suspeita ou confirmação de contaminação. Destes, sete já estão curados e aptos a retornarem ao trabalho. A instituição registrou um caso positivo de paciente.

Sob condição de anonimato, um colaborador da unidade contou que muitos funcionários da casa atuam também em outros hospitais da cidade. Segundo a fonte disse ao CORREIO, a maioria dos afastados têm vínculo com o Hospital Santo Antônio, das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), onde 64 profissionais tiveram diagnóstico positivo para a doença. A pessoa acrescentou que pacientes da unidade, localizada no Largo de Roma, foram isolados numa enfermaria por apresentarem sintomas da covid-19. “A gente acredita que [as contaminações que aconteceram] não foram através de paciente porque os pacientes já estavam lá, internados por outros motivos. Acreditamos que quem esteja passando para para os pacientes seja a gente”, suspeita. Considerado o maior hospital especializado em atendimento à saúde da mulher no Norte e Nordeste do país, sobretudo em tratamentos oncológicos, o espaço passou a registrar casos positivos entre seus funcionários há cerca de 15 dias. 

A unidade ressaltou que há sete dias já não se registra mais novos casos por lá. Até esta segunda-feira (4), apenas uma paciente da unidade havia testado positivo para a doença e foi imediatamente transferida para o Hospital Ernesto Simões, uma das unidades especializadas na covid-19 em Salvador.

Em nota, o Hospital da Mulher disse que, apesar de não ser referência para a doença, quando uma caso suspeito se apresenta, o paciente é direcionado para uma ala específica da unidade, “obedecendo a todas as recomendações dos órgãos competentes, ficando em isolamento”, afirma a instituição. 

EPIs racionados

O colaborador que conversou com a reportagem denunciou ainda que os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) têm sido limitados e só são oferecidas duas máscaras cirúrgicas para cada plantão de 12h. O recomendado pelo Ministério da Saúde é o triplo, já cada máscara só pode ser usada por até duas horas. “Quando a gente pede uma máscara N-95 para dar banho num paciente, já que a pessoa pode até espirrar, nos dizem que não é necessária a N-95”, conta. 

Para a fonte do CORREIO, a unidade já deveria ter suspendido gradualmente o fluxo de acompanhantes de pacientes nas enfermarias. “Tem pacientes que realmente precisam, mas existe uma troca, um revezamento de acompanhantes, e essas pessoas pegam ônibus, entram, saem, ninguém fiscaliza”, aponta.

Quanto à esse assunto, o Hospital da Mulher disse que segue normas estabelecidas pelos órgãos competentes, como Organização Mundial da Saúde, o próprio ministério e a Sesab.“Todas as ações de prevenção e condução de casos suspeitos e/ou confirmados foram discutidas e implementadas pelo Comitê de Enfrentamento ao COVID-19 instituído pelo Instituto Fernando Filgueiras, organização social que administra a unidade, o qual reúne equipe especializada com objetivo de garantir as melhores práticas neste contexto da pandemia da covid-19”, afirmou.Recomendações do Estado

No fim de março, a Secretaria Estadual de Saúde da Bahia (Sesab) emitiu uma nota técnica direcionada às unidades de saúde para orientar sobre o afastamento de trabalhadores com suspeitos de contaminação e as pessoas com quem estes tiveram contato. O documento recomenda que os profissionais devem ser encaminhados ao Serviço Integrado de Atenção à Saúde do Trabalhador (Siast) para formalizar o afastamento e solicitar o teste. 

Se o resultado der positivo, devem permanecer afastados por até 14 dias do início dos sintomas gripais, devendo se reapresentar à unidade e retornar ao trabalho após esse período. No caso de trabalhadores assintomáticos que tiveram contato com infectados, a Sesab recomenda que estes devem trabalhar normalmente utilizando máscara cirúrgica e demais Equipamentos de Proteção Individual (EPI). 

A nota técnica ressalta que estes trabalhadores assintomáticos que tiveram contato com contaminados podem se apresentar ao Siast de suas unidades para serem encaminhados para testagem da covid-19. 

Comitê Científico do Nordeste afirma: “É fundamental ampliar a proteção aos profissionais de saúde”

No sexto boletim produzido pelo Comitê Científico de Combate ao Coronavírus (C4), formado pelo Consórcio Nordeste, os pesquisadores envolvidos declararam que "é fundamental ampliar a proteção aos profissionais de saúde" e emitiram recomendações urgentes para que governadores e prefeitos adotem medidas para proteger estes trabalhadores da contaminação.

Entre as medidas indicadas estão: organizar o trânsito dentro do hospital de modo que os profissionais alocados nos cuidados de pacientes com covid-19 não circulem por outras áreas; selecionar área especial para colocação e retirada dos EPIs com treinamento exaustivo da técnica de desparamentação; verificar quantos e quais profissionais têm pessoas de maior risco em casa (idosos, hipertensos, diabéticos, gestantes, imunodeprimidos), sugerindo que realizem distanciamento delas no domicílio; assegurar hospedagem em hotéis e pousadas para os que querem deixar as famílias mais seguras; assegurar transporte para os que não possuem veículos particulares e assim reduzir o risco de infecção deles nos transportes coletivos e também dos usuários do serviço; aumentar a realização de exames de diagnóstico; assegurar a garantia institucional de EPIs de qualidade e dentro dos parâmetros técnicos de recomendação a todos os profissionais.