5 coisas que você tem feito errado e ninguém te falou

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Publicado em 8 de janeiro de 2020 às 10:20

- Atualizado há 10 meses

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Certas noções sociais estão viradas de cabeça para baixo. Assim como o traído é quem ganha apelido e chacota, muitos outros detalhes que são inversões do que sabemos que é o correto acontecem todos os dias. Fazemos coisas que, por irmos nessas ondas sociais, condenam a nossa produtividade, a nossa capacidade, o nosso relacionamento ou até o nosso emprego.

Neste ano, um dos meus livros lançados será o Não Precisa Ser Assim. Nele, abordo sobre diversos termos que estamos colocando em prática da forma que a sociedade (co)manda, mas não de um jeito que pode dar mais retornos para você. Humildade, amor-próprio, reconhecimento, empatia e diversas outras noções estão na obra.

Resolvi, portanto, trazer hoje algo mais filosófico, quase em um estilo de bate-papo. Separei, de forma mais descontraída, alguns dos temas mais simples que abordo no livro e a ideia é que possamos refletir em conjunto. Afinal, coisas que parecem óbvias, na prática, podem estar extremamente distorcidas.

A lista é sobre o que você pode estar fazendo de errado socialmente, enquanto ninguém percebe que poderia ser diferente. Seja o diferencial:

1. Achar que humildade é nunca se reconhecer como excelente

Tem gente que acha que humildade é não admitir o quanto se encara como bom em algo, que é falar “Imagina! Claro que não!” quando ouvir um elogio, que é se diminuir para não parecer presunçoso e metido, que é não vender o próprio peixe em uma roda de conversa, que é não se elogiar. Nada disso é humildade.

Humildade é sobre não rebaixar o outro, é sobre lembrar que todos são gênios em algum aspecto e maduro em pontos que você pode não ser. Humildade é sobre recordar que sempre dá para melhorar em alguma coisa, aprender mais, evoluir: o que não significa deixar de apreciar-se pelo que aprendeu e, principalmente, pelo que busca aprender. Humildade é levantar quem caiu: não caindo junto, mas puxando para cima e mostrando que você também consegue ficar de pé. Quem passa a ideia de ser mediano, passa a ser mediano e passa a evoluir menos: o que já é oposto ao sentido de humildade. Quem é cara de pau é quem realmente abre portas de quartos secretos. Ser cara de pau não significa ser inconveniente, existe uma linha tênue, mas que é simples de segurar: porque o humilde elogia a si sem esquecer de animar o outro.

A maior burrada é se diminuir por medo de parecer convencido, porque só convence quem passa segurança. Metido é o cara que quis mostrar que sabia mais do que a moça, ao invés de falar (sim) do que sabe e agradecer por tal coisa que ela ensinou ou apontar também algo que ela faz bem. Humildade não tem nada a ver com isso que dizem. O humilde é sobre quem abraçou – e pra abraçar é preciso estar esticado.

2. Seguir nas redes pessoas que fizeram o mal ou que não te fazem bem

Acontece um escândalo sobre fulano ter traído fulana com beltrana. Basta isso circular e pronto. Beltrana, que antes não era conhecida, passa a ter milhares de seguidores nas redes sociais. Na polêmica, estava claro que beltrana sabia que fulano era casado, estava claro que não teve boas intenções na história.

Bom, é claro que todo e qualquer caso tem diversos lados e que tudo deve ser apurado cuidadosamente. Nem sempre o que está circulando realmente está pondo os culpados como culpados, mas a questão é: o que beltrana, nesse caso, fez para merecer ser seguida por você? Ela produziu algo bacana? Deu um conselho que exala o bem para o mundo...?

O brasileiro tem mania de seguir gente por conta de fofocas, do que está quente no momento, sem pensar se aquela é uma pessoa merecedora dos likes e do burburinho. O que você está jogando para o mundo a partir do momento em que compactua com atitudes assim? Você estará ajudando a disseminar ainda mais as inversões de culpas sociais. Como falo no poema Os Culpados (do meu livro Depois Daquilo): "O estuprado que sente vergonha e quem foi traído que ganha apelido. O cafajeste falando da fronha e a namorada chorando escondido. Quem não teve princípios, só teve um deslize. Quem pediu por respeito, é dramático em crise. Quem jurou de mentira, acusa o momento. Quem jurou de verdade, é o burro elemento.(...)". São noções tortas assim que uma "pequena atitude" como essa consegue alargar.

Acontece a mesma coisa quando você segue uma pessoa apenas pela tendência ou por achar algo belo apenas esteticamente, mas aquilo, no fundo, sequer te faz bem. Seja por conta de um corpo que é um padrão inacalçável e que faz com que você se sinta mal com o seu, seja por um conteúdo que faz com que você se sinta menos capaz de realizar os seus próprios... Você não deve acompanhar nada que não te inspire a ser melhor sem que você precise se sentir mal.

Já parou para fazer uma limpa nas suas redes e compactuar com o que você realmente defende e com o que realmente te joga pra cima?

3. Não ter um diário de bordo ou qualquer outro detalhe que você acha que é só coisa de criança

"Na época da minha infância eu tinha um diário assim e assado." Esta frase pode até ser normal de ouvir, mas é raro um adulto falar que está escrevendo no seu diário atualmente. É aí que perdemos uma das grandes conexões com o que realmente importa, com o que pode nos tornar mais criativos, com o que poderia ser a nossa salvação no amanhã.

Quantas vezes você já leu cartas antigas que escreveu ou alguma página de um diário seu e se sentiu bem por lembrar da própria essência? Quantas vezes o seu eu do passado trouxe uma lição para o seu agora e quantas vezes você nem se deu conta disso até reler algo de alguma maneira?

Além da noção machista de que "diário é coisa de menina", diversos outros preconceitos sociais também permeiam a questão. Mas quem já leu Roube Como Um Artista (de Austin Kleon) – um livro incrível para qualquer mente que quer produzir mais e fora da caixa –, sabe que escrever em um diário é um dos maiores tesouros que podem ser cultivados. Anote tudo o que marcou o seu dia. Separe uma lista de artes que consumiu, frases incríveis que ouviu, detalhes que te tocaram de alguma maneira. Escreva algo sobre os filmes, as séries, os livros, as reportagens e qualquer outro conteúdo que tenha consumido, seja ele bacana ou não. Escreva algo sobre a lição que aquele conteúdo passou para você. Um dia aquilo vai ser útil, seja para o seu trabalho, para algo inovador ou para uma solução na vida pessoal.

"Ah, mas não tenho tempo.". Então jogue tudo no bloco de notas do celular e tire um dia da semana para organizar em um caderno. Usar as mãos é fundamental para que o lembrete seja ainda mais profundo.

O que mais você tem deixado de fazer e que fazia ou queria ter feito na infância?

4. Não dar reconhecimento para outras pessoas ou dar o reconhecimento de forma errada: falando apenas para a pessoa que mereceu

Só dando reconhecimento é que se fortalece o seu próprio. Tem escritor por aí reclamando que está difícil, mas se divulgasse mais artistas (e outros escritores) independentes, ganharia também mais espaço, porque faria a cena da arte independente crescer como um todo.

Tem gente por aí reclamando que não se acha mais gente que trabalha com gosto ou fulgor, mas quando é bem atendido em um local, não dá um elogio, não faz o gás daquela outra pessoa crescer (para que assim ela faça sempre mais e melhor). Tem empresas reclamando de gente que não quer fazer hora extra de jeito nenhum, mas não são as mesmas que dão poucas oportunidades de crescimento ou recompensas que demonstrem gratidão pelo trabalho feito.

"Não é mais que a obrigação, por isso não vou elogiar.". Fale isso para uma criança que se esforçou para estudar e tirar boas notas e observe o seu boletim decair desesperadamente. Toda vez que você elogia, que você dissemina o bem, tudo o que era feito por obrigação, vira mais feito por prazer, e tudo o que passa a ser feito por prazer gera uma onda de prazeres e bem-estar que também volta até você. Mas, atenção, porque a questão toda está em como dar corretamente o tal reconhecimento. Para que ele realmente seja dado, ele não deve ser entregue somente para a pessoa que cometeu o ato merecedor. É necessário que ele seja dado para quem pode dar algum tipo de retorno imediato para essa própria pessoa. Por exemplo: se você foi muito bem atendido por um garçom, diga a ele o quanto adorou o trabalho, é claro, mas logo chame também o(a) gerente do local (ou o dono) e diga o quanto aquele funcionário merece aplausos. O(a) gerente é quem pode dar uma promoção ou um cargo mais alto para aquele garçom, entende?

Se você adorou o trabalho de um artista, divulgue para amigos que gostem, compartilhe nas redes sociais... Mostre para outras pessoas que podem se encantar com aquelas artes e que podem adquiri-las e disseminá-las ainda mais. Se você adorou o trabalho de um empresário, divulgue para quem você acha que precisa do mesmo serviço. Se seu emocional foi tocado pelo texto de um jornalista, mande uma mensagem para o jornal ou ligue para ele e fale com o(a) editor(a)-chefe, que é quem pode dar mais matérias grandes para ele ou subi-lo de cargo na redação.

E você, o que ganha com isso? Não somente a sensação de ter ajudado outro alguém e a gratidão de estar emitindo gratidão para o mundo. Não somente tudo o que já foi dito aqui. Só esses pontos já deveriam bastar, mas você ganha também mais escada. O garçom, que pode virar dono de uma grande rede de restaurantes, vai ser eternamente grato a você. A gerente, que ouviu seu elogio, vai lembrar da sua humildade. São pessoas que podem um dia dar o mesmo elogio se você precisar, talvez até sem saber que é para você. São pessoas que podem imitar o seu feito e de imitação em imitação temos um ciclo de reconhecimentos e grati-dão.

5. Achar que o 'sim' vale mais do que o 'não'

Tão importante quanto agarrar as oportunidades que a vida deixa nas portas é também dizer não para tantas outras. Se escolha é sempre uma renúncia, tolo seria abraçar tudo o que visse pela frente sempre. Muito se fala sobre como deveríamos aproveitar mais, mas pouco se fala sobre o quanto imprudência e intensidade são opostos.

Quem aceita de tudo, nada ganha. Quem não contesta, de tudo recebe. Algumas pessoas se perguntam o motivo de não terem sido escolhidas para aquilo ou para assado e não param para pensar que o motivo pode ter sido apenas por não ter exibido tão bem os seus 'nãos' quanto o outro.

Certa vez, uma amiga disse 'não' para uma grande viagem de negócios. Teria quase tudo pago, falaram que ela era louca por não ir, mas ela estava exausta de carregar muita coisa nas costas e não receber reconhecimento algum. Ela subiu de cargo. Quem não fala o 'não' logo quando a situação que incomoda ocorre, já perde a força da própria razão.

Não estou dizendo para você usar arrogância ou falar 'não' para grandes e boas oportunidades que podem merecer o risco. É tudo sobre a maneira com a qual se afirma. Mas o que estou dizendo é que o raro só é raro para quem aceita o pouco como muito. E o problema da nossa sociedade é achar que o único tipo de chave-mestra é sair balançando a cabeça positivamente. Diga mais 'nãos' e veja que eles também são senha mágica. Se você acha que aquilo é pouco para você, mostre que merece mais e fale sobre isso, argumente. "Quem não cobra, é picado." (como digo no meu livro Depois Daquilo). Tentamos tanto agradar todos os dias que esquecemos que o 'não' também pode ser escada e abertura de portas.

Às vezes, dizer 'não' é ter a coragem que pouca gente teve para mudar algo. Os que propõem mudanças são recompensados.

Extra: Quando você se vinga, você deixa de deixar a saudade que deixaria caso tivesse apenas ido embora. Quando amadurecemos, só sentimos falta do que foi colo seguro. A melhor forma de fazer alguém se arrepender por algo, é mostrando que você está apenas buscando ser cada vez melhor para quem/o que chegar.