90 anos da Vinícola Aurora e o legado italiano no Brasil

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  • Paula Theotonio

Publicado em 15 de abril de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Rótulo comemorativo pelos 90 anos da Aurora (Eduado Benini/divulgação) A Aurora acabou de lançar um rótulo que marca mais uma década na história da vinícola. Com passagem de 12 meses por barricas de carvalho americano, o Aurora 90 Anos é elaborado com Cabernet Sauvignon 2015 (30%), Merlot 2018 (50%), Tannat 2018 (15%) e Cabernet Franc 2019 (5%) de vinhedos da Serra Gaúcha.

O rótulo promete potencial de guarda. Em sua ficha técnica, é dito que possui coloração rubi intensa, com aromas também intensos de café, tabaco, baunilha, mentol, fruta vermelha madura (ameixa) e fruta preta madura (cassis). Na boca se mostra equilibrado, persistente, mineral, com taninos aveludados.

Segundo o presidente do Conselho de Administração da Vinícola Aurora, Renê Tonello, o rótulo “traduz toda a história de uma empresa que é alicerçada no trabalho, na dedicação das 1,1 mil famílias produtoras e na evolução tecnológica que nos dá condições de elaborar um produto como esse”.

Entre a tradição e a tecnologia

No contra-rótulo da garrafa, há um QR Code que transporta o consumidor para um site sobre a história da vinícola. Através da tecnologia da realidade aumentada (como os filtros do Instagram), conhecemos mais sobre a fundação da cooperativa, conferimos uma galeria de ex-presidentes, fotos e fatos históricos e outras curiosidades sobre a empresa.

O site é este, mas é preciso ter o rótulo em mãos para conferir a experiência. Remy Valduga é um dos personagens de destaque do documentário Legado Italiano (divulgação) Honrar um legado

A página web presta uma homenagem aos fundadores da Aurora, cuja história — compartilhada com muitas outras vinícolas e cooperativas do Rio Grande do Sul — iniciou em 1875, com a chegada à Serra Gaúcha de imigrantes oriundos do norte da Itália.

Estes italianos foram encaminhados para as recém-criadas colônias de Dona Isabel, Conde D’Eu e Campo dos Bugres; que se tornaram, respectivamente, as cidades de Bento Gonçalves, Garibaldi e Caxias do Sul.

Nestas colônias e em muitas outras comunidades, muitos imigrantes saudosos retomaram a arte da vitivinicultura que praticavam no Velho Mundo. É seguro dizer que grande parte das vinícolas sulistas que hoje conhecemos são dos ítalo-brasileiros que conseguiram prosperar. Até mesmo o desenvolvimento da vitivinicultura no Nordeste tem ação direta dessas pessoas.

Testemunha ocular e viva dessa história é Remy Valduga. Ele é um dos primeiros viticultores do Rio Grande do Sul, um dos fundadores do Vale dos Vinhedos e integrante da cooperativa Aurora há mais de 50 anos. Em entrevista ao Diário do Turismo, ele contou que seu bisavô chegou em Porto Alegre em novembro de 1876, com cinco filhos e outras 18 famílias.

“O nome do navio era Salier. Nesse navio que partiu da Itália com 800 imigrantes, a maioria foi trabalhar nas fazendas de café no interior paulista. Meu avô dividiu o porão com cabras, porcos e galinhas”, afirmou ao site.

A vinda dos italianos foi parte de uma política de colonização do Governo Imperial, implementada entre 1875 e 1897, após pressão inglesa pelo fim do tráfico de africanos escravizados. A estratégia (eugenista) do imperador era substituir e complementar a mão de obra negra, ocupar regiões e “branquear” a população brasileira — em grande parte, ainda formada por afro-brasileiros e mestiços.

Apesar de subsidiada em partes pelo Império, essa imigração não foi tranquila. Genoveses, trentinos, vênetos, friluanos e diversos outros povos da península itálica fugiam de um país recém-unificado e sem empregos dignos. Durante o processo de chegada, enfrentaram condições adversas e uma travessia oceânica que causou muitas mortes.

Uma história que pode ser conhecida mais a fundo com o documentário Legado Italiano — da diretora Márcia Monteiro. Produzido pela Camisa Listrada, em coprodução com Globo Filmes, GloboNews e Celeiro Produções, pode ser conferido na Netflix.

Ao longo de 84 minutos, descendentes de imigrantes e especialistas em diferentes áreas contribuem com explicações e relatos carregados de emoção a respeito daquele que é considerado um dos maiores fluxos migratórios da história. Ao todo, a equipe visitou 20 cidades no Brasil e na Itália para entrevistar 94 pessoas.