A abolição é maior fake news da história do Brasil

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  • Da Redação

Publicado em 16 de maio de 2019 às 10:16

- Atualizado há um ano

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Todos nós temos noção do que foi o processo de assinatura da Lei Áurea, sancionada em 13 de maio de 1888, que visava libertar os negros africanos e os negros nascidos no Brasil, que foram fruto do processo escravatório, claro. Essa visão simplista, a princípio ensinada nas escolas, nos guiou por décadas para um consentimento às injustiças cometidas por essa nação quando se trata de direitos e deveres da população negra.

Em vários momentos da história (recente, é verdade), começamos a ativar a correção dessa história mal contada, e às vezes, até não contada. Veja, por exemplo, o esforço dos blocos afros como Ilê Aiye, Olodum, Muzenza e Filhos de Gandhi nas décadas de 70 e 80, educando pessoas, algumas negras como eu, ensinando história do Brasil e do continente africano através da sua música popular; da sua dança, estética e versos.

Lembro com muito gosto de ouvir canções que me reportavam para uma África que não conhecia, mas pude visualizar através da minha memória ancestral dada no candomblé de Ketu. E, mais tarde, pude contemplar, pessoalmente, as terras de Angola, Zimbábue e África do Sul.

Esse ato educacional que não está institucionalizado na cultura, a sala de aula, é parte do processo de libertação do povo negro que herdou da escravidão no Brasil o pacote de abandono, da mendicância, da marginalidade e, proibiu os negros e negras de terem acesso à educação formal e até mesmo a informal, presente na vivência diária das suas comunidades-quilombos.

Aí entra a resistência obrigatória do dia seguinte à abolição, maior fake news da história do Brasil. Essas canções cantadas por artistas negros e os blocos afros citados anteriormente, fazem parte do pacote de resistência criada pelos movimentos negros espalhados pelo país. Vi pessoas deixando o cabelo alisado voltar às origens, vimos mulheres negras gritando pela liberdade da sua beleza, vimos homens negros enfrentarem os capitães do mato fardados, vimos a evolução da educação negra nas universidades através das cotas, vimos o estatuto da igualdade racial ser aprovado, vimos alguns poucos negros eleitos para compor o quadro político nacional, dentre outras vitórias, todas como forma de resistência.

Apesar de ser pouco, em relação a quantidade de negros que habitam essa terra e suas necessidades, consideramos significativa e importante essa resistência, que passou a ser algo inseparável da vida do povo negro e de quem se interessa pela liberdade verdadeira desse povo.

Ainda com toda resistência, continuamos “matáveis” fisicamente, simbolicamente e historicamente. O dia seguinte parece não acabar. A sensação de que estamos no dia 14 de Maio de 1888 é algo indissolúvel, porque continuamos sem casa, sem educação, sem emprego, sem saúde, sem reconhecimento e reparação histórica. 

E, o pior de tudo, sem poder viver livre como negro nesta nação.