A Chapecoense ainda pode se reinventar

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  • Miro Palma

Publicado em 29 de novembro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Este ano, o futebol brasileiro esbarrou em algumas coincidências, algumas boas, outras nem tanto. Quis o destino que a partida que determinaria o destino da Chapecoense no próximo ano acontecesse na véspera do dia em que se completou três anos da tragédia de avião que vitimou 71 pessoas, sendo a maioria integrantes do clube catarinense.

Em 28 de novembro de 2016, o voo 2933 da LaMia, que partiu de Santa Cruz de la Sierra, Bolívia, com destino ao Aeroporto Internacional José María Córdova em Rionegro, em Medellín, na Colômbia, teve seu trajeto interrompido, às 21h58 – 0h58 do dia 29, no horário de verão do Brasil –, com a queda da aeronave.

Das 77 pessoas que estavam a bordo, apenas seis sobreviveram: a comissária Ximena Suárez, o técnico de voo Erwin Tumiri, o lateral do time Alan Ruschel, o goleiro Jakson Follmann, o zagueiro Neto e o jornalista Rafael Henzel. Rafael faleceu em março deste ano, após sofrer um infarto enquanto jogava futebol.

Anteontem, dia 27 de novembro de 2019, o time enfrentou o Botafogo em casa, na Arena Condá, e viu o alvinegro Rhuan fazer o único gol da partida. A derrota selou o rebaixamento do clube catarinense, o primeiro desde o acesso à Série A em 2013.

É impossível descolar a realidade atual da tragédia. A Chape viveu uma ascensão surpreendente quando, em apenas seis anos, partiu da Série D para a Série A. Já na elite do futebol brasileiro, se consolidou como uma equipe competitiva e, em 2016, chegou à final da Copa Sul-Americana, evento para o qual viajava no dia do acidente.

Após o desastre, alguns clubes chegaram a propor, em solidariedade à Chapecoense, que o time tivesse a garantia de permanência na primeira divisão por três anos. No entanto, a proposta foi recusada pela Chape. Ainda assim, o alviverde recebeu atletas emprestados de outras equipes para conseguir remontar o seu elenco.

Fora dos campos, o clube enfrenta ações judiciais das famílias das vítimas que buscam alguma reparação pela perda. As doações e as associações de torcedores que buscavam minimizar o impacto da tragédia foram diminuindo e se extinguiram completamente. As contas pararam de fechar e, em 2018, a Chapecoense teve seu primeiro ano negativo. Renegociou direitos de imagem, rescindiu contratos amigavelmente e demitiu funcionários para amenizar a crise financeira.

E como as competições se tornaram, cada vez mais, disputas financeiras, o declínio foi inevitável. Uma pena. A adversidade enfrentada pela Chape, que comoveu o Brasil, acabou por aproximá-la dos torcedores dos mais diferentes clubes. Mas, o tempo passa, a vida segue e a memória vai ficando mais distante.

Enquanto isso, as famílias das vítimas ainda não receberam um centavo da seguradora da LaMia, a inglesa AON, que alega que o pagamento da apólice da companhia aérea boliviana não estava em dia. Além disso, 54 ações foram ajuizadas contra o clube, sendo 27 delas na Justiça do Trabalho. Esse capítulo parece estar longe de passar.

Em meio a tudo isso, assistimos à queda de um clube que, se tivesse vivido um episódio diferente, poderia ter alcançado marcas importantes no futebol nesses mesmos três anos. Só que não se pode controlar o destino. O que se pode é trabalhar para o futuro. A segunda divisão é uma realidade, mas a Chapecoense ainda pode se reinventar.

Miro Palma é jornalista e subeditor de Esporte. Escreve às sextas-feiras.