A crise do plástico: falta de matéria-prima leva empresas baianas a criarem programa criativo

Rede foi desenvolvida pelo Sindiplasba e possibilita troca de material entre empresas do setor

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  • Wendel de Novais

Publicado em 8 de fevereiro de 2021 às 06:43

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução/Sindiplasba

A falta de matéria-prima para empresas de produção de plástico, que teve seu início em 2020 por causa da pandemia, segue como um problema em 2021. A situação é tão ruim que empresários do setor chegaram a parar 10 dias por não ter como fabricar produtos por falta de resina, que é base para a produção. Por isso, o Sindicato da Indústria de Material Plástico do Estado da Bahia (Sindiplasba) tem se virado para encontrar soluções. A mais nova delas é a criação de um banco colaborativo entre as empresas para troca de materiais que sejam excedentes em umas e estejam faltando em outras.

Criado há duas semanas, o Programa Banco de Resinas tenta amenizar os impactos da ausência de matéria-prima e conta com 33 empresas associadas ao Sindiplasba, que representam 95% do Produto Interno Bruto (PIB) do plástico no estado. A Bahia tem ao todo 220 indústrias de plástico em operação.

Elas têm sofrido com a falta de fornecimento dos insumos e reduzido o nível de produção, o que causa desabastecimento e problemas para setores da economia como mercados e restaurantes, que dependem das sacolas plásticas para embalar produtos ou para fazer entregas por delivery. Falta de insumos limita produção de itens como sacolas plásticas usadas em mercados e restaurantes (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Para se ter uma ideia do tamanho do problema, há diferentes tipos de resinas plásticas, mas as mais presentes são o polietileno (PE), PVC, polipropileno (PP) e o PET. Destes, nenhum está em todas as empresas de maneira excedente, no estoque.

Procura por soluções

A rede é mais uma ação que se soma às iniciativas para resolver uma questão problemática que tem prejudicado bruscamente o mercado. Isso é o que acredita Alexandre Marino, gerente geral da Ciaplast e idealizador do banco de resinas. “Ainda não temos resultados, mas a ideia é boa. É uma alternativa interessante porque possibilita que, mesmo sendo concorrentes, as empresas podem se ajudar e entender que dentro do mercado ninguém precisa prejudicar ninguém. O momento é difícil, cada um tem que ajudar o outro como pode porque, nessa situação, todo mundo está precisando”, diz. 

A previsão dos empresários do setor é que a falta de matéria-prima continue até o fim do semestre, o que dificultaria o atendimento da demanda que, com a pandemia e ascensão do delivery, ampliou sua necessidade por embalagens plásticas. E a importação do que falta, segundo a Sindiplasba, não é uma alternativa viável por causa das altas taxas de importação (14%) e antidumping (10%) - esta última tem o objetivo de neutralizar as importações para o mercado nacional. 

A Associação Brasileira da Indústria de Plástico (Abiplast), que representa o setor, tem sugerido ao Ministério da Economia a revisão das taxas de importação e antidumping. O pleito se deve ao fato de que, no Brasil, é cobrado 14% de taxa de importação de resinas e, nos países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a média é de 6,5%. 

Otimismo do Sindiplasba

Se, por um lado, os empresários ainda aguardam para ver os resultados dos programas, o Sindiplasba, através da figura do presidente Luiz Oliveira, vê a iniciativa como um tiro certeiro na luta contra os impactos causados pela falta de resina. "As empresas sempre têm estoques de matéria-prima e, por outro lado, sempre estão com algum item em falta. A nossa intenção é aproveitar essa característica do setor para fomentar o diálogo entre elas e resolver o problema de todas. Com o Programa Banco de Resinas, nós podemos resolver o problema da falta de matéria-prima e garantir a produção, evitando paralisações", contextualiza. Luiz Oliveira vê com otimismo a implantação do programa (Foto: Reprodução/Fieb) Para o setor, é bom que a interação entre as empresas resulte em uma cooperação capaz de suprir as necessidades por matéria-prima. Segundo Oliveira, o cenário de produção de insumos está estagnado nesse momento negativo e não deve se mover por agora. "Continua em falta, a situação é a mesma de anteriormente. O mercado do plástico continua sofrendo com isso. Dos últimos meses para cá, a quantidade de resinas não melhorou e até por isso que vamos buscando meios para ajudar o setor a evitar um colapso porque é um panorama que deve continuar na primeira metade de 2021", explica.

O processo de conversas dentro da rede é intermediado pelo sindicato em um grupo criado para expor o estoque das empresas, o que permite que quem tem excedente possa entrar em contato com outras indústrias da Bahia e do país que estejam precisando daquele determinado produto e vice-versa. 

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro