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Miro Palma
Publicado em 11 de abril de 2018 às 05:00
- Atualizado há um ano
Constatamos a cada dia que o futebol é um reflexo da nossa sociedade. Em tempos complicados como esse em que vivemos, falar de democracia se torna ainda mais importante. E não há como conectar democracia e futebol sem falar do Bahia.
O tricolor baiano conquistou a duras penas o direito de escolher seu presidente e conselho deliberativo e, principalmente, de se libertar de gestões que envenenaram o clube e o mergulharam em uma década de trevas.
O exemplo é pertinente não só pela conquista em si, mas pela forma como ela se deu: através da torcida. Se “demos” é povo e “kratos” é poder em grego – civilização que deu origem a essa palavra em questão –, nada mais essencial do que ter na torcida a maior força nessa revolução política do clube. E assim foi. O Bahia voltou a ser de seus torcedores pelas mãos dos mesmos.
E como prova de que é na democracia que encontramos a nossa melhor forma enquanto seres coletivos, o microcosmo tricolor viveu um renascimento após a intervenção judicial, em 2013, e as eleições diretas que se sucederam. Trocou um endividamento vertiginoso por contas em dia e a posse do Fazendão e da Cidade Tricolor; trocou vendas e contratações suspeitas pela credibilidade de um time que pode comprar jogadores como vai fazer com Marco Antônio, por exemplo, e fazer vendas lucrativas como a de Bruno Paulista, que rendeu mais de R$ 11 milhões; trocou, também, o jejum de uma década sem títulos por quatro títulos nos últimos quatro anos; trocou, ainda, os sacos de lixo em que guardavam as taças de gloriosas conquistas como as dos campeonatos brasileiros de 1959 e 1988 – como revelei em matéria do CORREIO em setembro de 2013 – pelo crescente respeito à marca e ao escudo do Bahia em âmbito nacional.
Arrumar a casa não é fácil e o retorno das mudanças não é sentido de uma hora para outra. Mas, ele chega. E o Bahia hoje vive, provavelmente, seu melhor período desde que foi retirado da lama. No ano passado, fez a melhor campanha de sua história nos pontos corridos. Sonhou até com uma vaga nas Libertadores, com chance até a última rodada. Este ano, além de vencer o Campeonato Baiano, é o favorito ao título da Copa do Nordeste e vai entrar na Copa do Brasil direto nas oitavas de final, graças à conquista do Nordestão em 2017.
Nem tudo são flores e ainda há muito que melhorar, mas o clube tem um modelo organizado e competitivo. E, principalmente, tem transparência, tem em sua torcida a vigilância e, nas suas mãos, o poder do voto. Ainda não é o time dos sonhos, fato. Faltam reforços para levar o Bahia a um bom resultado no longo Campeonato Brasileiro, porém, nem de longe vive o pesadelo que viveu e que agora vê se repetir com o rival e suas sucessivas más administrações.
Erros irão acontecer, afinal, o futebol não é uma ciência exata. Entretanto, não podemos nunca, em hipótese alguma, menosprezar o avanço da democracia. E se o futebol é mesmo esse espelho social, que os reflexos positivos que estamos vendo através do Bahia possam nos contagiar também enquanto cidadãos.
*Miro Palma é subeditor do Esporte e escreve às quartas-feiras.