A gente fuma todo dia

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  • Da Redação

Publicado em 10 de dezembro de 2019 às 09:53

- Atualizado há um ano

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Quantos cigarros você fuma por dia? Você não fuma cigarro? Fuma, sim. A poluição do ar é uma das principais causas de mortes no mundo. De acordo com estudo publicado no European Heart Journal, esta foi a causa de 8,8 milhões de mortes em 2015, a partir de doenças cardiovasculares como ataque cardíaco e AVC, e já ultrapassa os óbitos causados pelo consumo de tabaco, que matou 7,2 milhões de pessoas no mesmo ano, segundo dados da OMS.

Gerenciando os índices de poluição atmosférica de 4.300 cidades de 108 países, a OMS alerta que 90% das pessoas, em todo o mundo, respiram ar poluído. No Brasil, as mortes causadas pela poluição do ar aumentaram 14% em 10 anos, segundo o Ministério da Saúde, que verificou mais óbitos por câncer de pulmão, traqueia e brônquios e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Em 2006, 38.782 morreram, número que pulou para 44.228 em 2016, de acordo com o estudo Saúde Brasil 2018. Internações por problemas respiratórios custaram R$ 1,3 bilhão ao SUS em 2018.

A poluição do ar está diretamente ligada à crise climática planetária, especialmente nos países em desenvolvimento. Na maioria das cidades latino-americanas, a principal contribuição de emissões de Gases de Efeito Estufa vem do setor de transporte. Carros, ônibus, motocicletas, caminhões, são responsáveis por 74% de tudo que é emitido em Salvador através da queima de combustíveis fósseis. Não é muito diferente em São Paulo, Rio de Janeiro, Bogotá ou Cidade do México. E aqui reside um dos maiores desafios urbanos que vivemos: como financiar a redução as emissões promovendo a transição da matriz energética do transporte nas nossas cidades?

Salvador já iniciou sua jornada para cumprir essa missão. Estudo realizado pela Prefeitura, em parceria com a Fiocruz, a rede C40 e a Johnson & Johnson, avaliou os impactos da mudança de motorização da frota municipal de ônibus, promovida pela Secretaria de Mobilidade. Em março de 2018, quando o estudo foi lançado, 885 ônibus de uma frota de 2700 ônibus já tinham sido trocados por um padrão menos poluente. A conclusão é que a mudança da frota, planejada para ser completa até o final de 2020, passou a evitar 10 mortes por ano na cidade, além de aumentar em 2 dias a expectativa de vida de cada soteropolitano. Há, ainda, a economia de R$ 19,4 milhões no sistema público de saúde com o tratamento de doenças associadas à poluição do ar.

Uma alternativa ainda mais robusta é a consolidação da eletromobilidade, que não emite gases de efeito estufa. Basta que o Brasil adote políticas de promoção da eletromobilidade em sua infraestrutura, crie linhas de financiamento preferenciais que facilitem a compra de veículos elétricos, reduza a carga tributária para esses carros e seus componentes e taxe os motores poluentes. Caso a matriz de ônibus fosse elétrica, a economia saltaria para R$72 milhões em problemas de saúde e evitaria 39 mortes por ano em Salvador.

Em São Paulo, pesquisa da USP avaliou pulmões de 413 cadáveres da capital paulista e descobriu que, em uma hora de trânsito, as pessoas “fumam” cinco cigarros. E você, quantos cigarros fumou hoje?

André Fraga é engenheiro ambiental e Secretário de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência de Salvador

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