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A história retificada de campeões esquecidos, através de suas camisas


 

  • Paulo Leandro

Publicado em 05/01/2022 às 05:05:00
Atualizado em 20/05/2023 às 12:49:04
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Pesquisadores do Grupo de Estudos de Futebol, Cultura e Sociedade (Gefucs) vêm resgatando aspectos de uniformes dos campeões esquecidos visando viabilizar a reinvenção de camisas, a partir do perfil identitário original.

O trabalho, resultante de parceria com a malharia Autêntica Retrô, sediada em Belo Horizonte, representada por Igor Almeida da Silva, além de preservar a memória, com a inestimável contribuição de viés arqueológico, propõe a hipótese da provisoriedade.

Não há clube eterno, pois para alcançar esta condição, teria a agremiação de ser ingênita (nascida de si mesma) e imortal (jamais encontrar a finitude), portanto, o cuidadoso projeto serve como alerta para o risco de declínio e até falência, sem validade perene.

O primeiro uniforme retificado, a partir do padrão da época (portanto, não se trata de réplica) foi o do Internacional de Cricket, campeão de 1905, tendo o amarelo-ouro como predominante, punhos e golas pretas, e bandeira do Reino Unido aplicada à manga, sinalizando serem seus jogadores pertencentes à colônia britânica, então numerosa em Salvador.

Em seguida, veio o São Salvador, listras verticais em verde e branco, bicampeão 1906/1907, depois de rusga entre Carlos Costa Pinto e Arthêmio Valente, resultando na dissidência do Victoria: o vestígio da cisão pode ser verificado na sede náutica dos dois clubes, na Ribeira, pois estão situados parede-meia, revelando a condição de gêmeos em litígio.

O terceiro campeão esquecido, o Santos Dumont, tricolor vermelho, preto e branco, é homenagem ao querido Pai da Aviação, um grande brasileiro, em preciosa iniciativa dos desportistas baianos de 1910.

Já o Sport Bahia, nosso primeiro Bahia, alvinegro, vencedor em 1911, ganhou padrão com cordinha, muito comum na época, além da gola quadrada mais larga na cor preta.

Na sequência, o Atlético de Salvador é lembrado como campeão de 12, dissidência do Santos Dumont, vindo a seguir um Fluminense identificado com os ex-escravizados e seus descendentes, em uma surpreendente cepa negra originada do clube homônimo, rico e branco, do Rio de Janeiro.

O Flu, nas cores verde e vermelho (optou-se por suprimir as listras brancas) tem duas estrelas de campeão da cidade, e disputou outras seis decisões, tornando-se o primeiro time popular de Salvador, com atitude antirracista, ao defender como pressuposto todos poderem ser felizes, independentemente de epiderme e classe social.

Outro campeão esquecido, recuperado na pesquisa, é o segundo Internacional, rubro-negro, campeão em 14, seguido do República, verde-amarelo, campeão em 16, tendo como curiosidade seguir o lema “Direitos e Deveres iguais para todos”, praticando o dístico em seu cotidiano de treinos e jogos.

Para completar, os times da elite, a Athletica (flexionado, assim, no gênero feminino) e o Bahiano (como era chamado o Bahiano de Tênis), campeões respectivamente de 24 e 27, também tiveram seus uniformes redesenhados, adaptando-se à proposta original, mantido o conceito de “Azulina” e a combinação Branco-e-Preto.

Os jogadores oriundos dos dois clubes fundaram o Esporte Clube Bahia, depois de desistirem do nome Atlético Bahiano. Este ano tem mais pesquisa e viva o conhecimento!

Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade.