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Miro Palma
Publicado em 21 de junho de 2019 às 05:00
- Atualizado há um ano
Se em campo as seleções sul-americanas e suas convidadas não estão impressionando, nas arquibancadas, o público da Copa América vem surpreendendo. Na primeira rodada, a média de público por partida foi de 24.737, de acordo com dados da Folha de S. Paulo.
Não à toa, quem foi aos estádios e, até mesmo, quem assistiu pela TV percebeu que o número de cadeiras vazias sobressaltava. Pra se ter uma noção de como a competição está “flopada”, basta ver que a última edição com uma média de público tão baixa aconteceu há 15 anos, no Peru.
Apesar disso, a Copa América no Brasil está faturando milhões com a sua bilheteria. Foram mais de R$ 42 milhões nas mesmas seis partidas da primeira rodada. O paradoxo se deve ao preço do ingresso, que nesse mesmo período chegou a uma média de R$ 288. No jogo de abertura e estreia do Brasil no campeonato, os ingressos custavam de R$ 190 a R$ 590. Já no jogo que aconteceu aqui na Fonte Nova, os torcedores pagaram valores de R$ 60 a R$ 350.
Os preços exorbitantes explicam o vazio. No jogo do Brasil contra a Bolívia, o Morumbi registrou 69% de ocupação, e no da Seleção diante da Venezuela, a Fonte Nova contabilizou 68% de ocupação. Se os donos da casa não estão conseguindo lotar os estádios, imagine os visitantes. Na primeira partida em Porto Alegre, entre Venezuela e Peru, a Arena Grêmio teve menos de 20% de ocupação, com pouco mais de 13 mil torcedores. O Mineirão também reuniu pouco mais de 13 mil pessoas no confronto entre Uruguai e Equador.
Não precisa fazer muito esforço para ver que a Copa América não foi feita pensando no público, mas no lucro. Não é novidade. Afinal, não é de hoje que eventos esportivos internacionais sediados por aqui têm discrepâncias absurdas com relação aos preços dos ingressos. Isso sempre refletiu diretamente no perfil do torcedor que tem acesso a esses eventos. Geralmente, pessoas brancas, de grupos sociais mais abastados e que não têm o hábito de frequentar estádios.
E aí, com toda a petulância de quem cresceu indo a estádios em campeonatos de “séries A à Z”, o que vemos é um universo completamente avesso a uma partida de futebol “raiz”. São pessoas brigando porque sentaram na cadeira numerada no seu ingresso, gente pedindo silêncio e reclamando quando o torcedor da frente levanta para ver um lance, além de tentativas frustradas de emplacar cânticos de futebol. É chato. Desculpa, mas é.
Especialmente no futebol, um dos esportes mais populares do mundo – ouso a dizer que é o primeiro da lista –, essa seleção do público é uma agressão a sua essência. Em um país afundado em uma crise econômica, tíquetes com preços de R$ 590 – mais caro até o momento, na final eles podem chegar a R$ 890 – são uma vergonha. O futebol é do povo. Do povão. A Seleção Brasileira também. Então, que seja pra eles toda essa festa. O bolso das instituições seguiria cheio, como de costume. E todo mundo sairia ganhando. Que placar melhor do que esse?
Miro Palma é subeditor de Esporte e escreve às sextas-feiras