A inteligência das cidades

É mais apropriado investir em uma rede de fibra ótica do que na construção de um centro administrativo

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  • Waldeck Ornelas

Publicado em 11 de outubro de 2020 às 16:00

- Atualizado há um ano

Em plena era dos algoritmos, dos big data e da inteligência artificial, as cidades não podem continuar sendo administradas no escuro, atoladas em um passado que já não existe mais, por conta de uma defasagem tecnológica, administrativa e gerencial que, a persistir, vai exclui-las da convivência global. A saída é o uso da inteligência, é tornar-se uma smart city. 

O primeiro passo é preparar a prefeitura para participar desse novo mundo, adotando o governo digital. Incorporar de forma acelerada a informatização dos procedimentos internos – com o devido cuidado para não transferir a burocracia para o mundo digital –, há de constituir-se em uma etapa preliminar para estar em condições de digitalizar as relações com a cidadania, montando centrais de atendimentos que sejam capazes de reduzir ao estritamente necessário os tempos de conceder licenciamentos, de cadastrar a abertura de uma empresa, de atender às demandas das pessoas. 

Somente uma prefeitura eficiente será capaz de acompanhar o passo do tempo presente, fazendo com que sua gestão corresponda às expectativas da população. As pessoas já estão nas redes sociais, cada vez mais utilizam aplicativos, fazem reuniões virtuais, compram no e-commerce, estudam à distância, trabalham online e não suportam mais ficar correndo atrás de certidões e de reconhecimento de firma para falar com a prefeitura. 

Quanto às cidades, já existe disponível todo um arsenal de soluções para acompanhar em tempo real sua operação e funcionamento, resolvendo no ato os eventuais problemas e identificando, para corrigir, os estruturais. Trânsito e tráfego, socorro médico, controle dos veículos de serviços como ônibus, ambulâncias e limpeza pública, vigilância patrimonial, defesa civil, iluminação pública, manutenção urbana, entre outros, além de apoiar os bombeiros e as polícias civil e militar. A gestão da educação, da saúde e da assistência social muito têm a ganhar com o uso desses recursos tecnológicos. 

Mas é preciso estar atento: cada município precisa primeiro definir as suas prioridades para depois saber escolher os serviços de que necessita. Não pode sair comprando qualquer novidade que lhes ofereçam como sendo o santo graal das soluções miraculosas para os problemas de digitalização da prefeitura e da cidade, mesmo porque as cidades não são iguais em suas necessidades. Primeiro saber o que precisa e o que quer, para só então ir ao mercado buscar a mais adequada solução disponível. Até porque, os gastos com serviços de informática estão se tornando o mais novo item de desperdício e de elevado peso nas despesas do custeio governamental. É preciso ter cuidado para não comprar gato por lebre. Tampouco precisa ser feito tudo de uma vez só, mas dentro de um plano escalonado de prioridades, investimentos e absorção pelos usuários. 

O lançamento de um cabo de fibra ótica é essencial para promover a interligação de todas as unidades administrativas e operacionais, tais como escolas, unidades de saúde, centros de assistência social, centrais de atendimento, equipamentos públicos em geral além de suportar uma densa rede de câmeras urbanas que ademais de atender aos serviços próprios, subsidiam a segurança pública. Nos tempos de hoje, é mais apropriado investir em uma rede de fibra ótica do que na construção de um centro administrativo.   

Essa nova infraestrutura, tão importante e estratégica, pode ser implantada e operada pela iniciativa privada, assim como ter seu uso compartilhado com as atividades privadas locais, reduzindo custos e fomentando a melhoria geral do desempenho do governo e das empresas. Um outro benefício daí advindo é a disponibilização de wi-fi nos espaços públicos e a criação de ambientes de coworking, estimulando o uso das tecnologias da informação e da comunicação, já hoje em dia essencial e indispensável para todos.   

Waldeck Ornélas é especialista em planejamento urbano-regional.