A quarentena, o casamento, Ivete Sangalo e o interesse de ficar junto

Confira coluna de Edgard Abbehusen

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  • Edgard Abbehusen

Publicado em 4 de outubro de 2020 às 05:10

- Atualizado há um ano

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Já são quase 200 dias confinados em casa e um crescimento de 54% no número de divórcios no Brasil. Um número que aponta uma deficiência, uma estrutura mal planejada nos relacionamentos e, como sempre digo, o resultado de muita poeira jogada pra debaixo do tapete. 

Essa semana, porém, vi que Ivete Sangalo, em mais uma das suas divertidíssimas entrevistas, relevou que a sua relação com o nutricionista Daniel Cady passou por algumas turbulências, mas o que me chamou a atenção na fala de Ivete foi ela ter dito que, apesar do bicho pegar algumas vezes, o interesse de ficar junto foi mais relevante. 

É isso, quase sempre. Relacionamento é interesse, mesmo. É querer. É força de vontade. A gente está convivendo com alguém com muitos defeitos, manhas e manias e que vai conviver com os nossos muitos defeitos, manhas e manias. É natural que o bicho pegue. No seu casamento, no casamento de Ivete, de Daniela Mercury, de Cláudia Leite e da Isabel, aquela sua amiga da academia. O bicho vai pegar, principalmente, quando aumentar essa nossa percepção do outro. E a pandemia, o confinamento, fez isso de uma forma bem intensa para muitos casais. 

Alguns não suportaram o rojão. E não estamos aqui para apontar o dedo, julgar ou especular. Tem casamento que já tinha passado da validade, mesmo. Que já tinha dado tudo o que tinha que dar. Que não tinha mais remédio e nem vacina. Só precisava de um empurrãozinho. A quarentena deu esse empurrão.  Só que tem casais sobrevivendo. Tem casais que estão se reconhecendo. Conhecendo mais de si, para abrigar o outro. Tem casais, que eu conheço, que a parceria e a cumplicidade se fortaleceram. Que a convivência intensa e excessiva não evitou que o bicho pegasse e os problemas aparecessem, mas o interesse em manter a relação, em fazer do amor motivação, virou uma centelha de esperança diante do caos. 

E é isso, gente: interesse, admiração, respeito, vontade, querer. São palavras soltas e clichês, mas que servem de inspiração para qualquer relacionamento. Todas as vezes que alguém me diz que a sua relação não anda bem, eu experimento dizer essas palavras para a pessoa. Peço que ela escute. Que ela pense no parceiro ou na parceira e sinta o que desperta no seu coração. 

É importante a gente saber o que a gente não quer para nossa vida. É importante a gente criar limites de tentativa e encerrar um ciclo, quando uma história machuca, fere e maltrata. Mas é importante saber também o que vale a pena. É importante entender quando o interesse de fazer dar certo é recíproco. É importante encontrar no amor, as respostas. 

No final de tudo, não são os bens materiais ou os filhos que te mostraram o caminho para a sua felicidade. A resposta está dentro de você. Afinal de contas, não faz sentido para um filho ter um pai e mãe juntos, mas infelizes. Em guerra. Não faz sentido ter bens, coisas, dinheiro, e aproveitar tudo isso chorando com o coração vazio. 

O que faz sentido é o que faz sentir. E se você sente que vale a pena, tente. 

 *Edgard Abbehusen é escritor, compositor, redator, baiano, criador de conteúdo afetivo e  autor de livros; Ele  publica textos exclusivos aos domingos no site do CORREIO e redes sociais Acompanhe Edgard no Twitter e Instagram