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Da Redação
Publicado em 31 de outubro de 2020 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Quem labuta na política sabe que o timing precisa ser perfeito. Muitas candidaturas potencialmente vitoriosas morreram na praia porque foram lançadas cedo ou tarde demais. O que muita gente se esquece é que descartar um eventual companheiro de chapa antes da hora também pode trazer dificuldades. Bastou a notícia de que o presidente Jair Bolsonaro teria a intenção de disputar a reeleição em 2022 sem o general Hamilton Mourão ao seu lado que o vice-presidente voltou a dar aquelas declarações mais críticas à administração federal que marcaram boa parte do ano de 2019. >
Mourão afirmou numa entrevista publicada nesta sexta-feira que o governo federal vai comprar sim a vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, se comprovada sua eficácia. Segundo o vice-presidente, as declarações de Bolsonaro, que disse que não iria comprar o imunizante, seriam apenas “briga política” com o governador de São Paulo, João Doria. Fiel ao seu estilo, o presidente respondeu poucas horas depois da publicação: “A caneta Bic é minha”. Ele não citou nominalmente o seu vice-presidente, mas nem precisava. >
“Essa questão da vacina é briga política com o Doria. O governo vai comprar a vacina, lógico que vai. Já colocamos os recursos no Butantan para produzir essa vacina. O governo não vai fugir disso aí”, declarou o vice-presidente Hamilton Mourão à revista Veja.>
Na semana passada, menos de 24 horas após o Ministério da Saúde anunciar que tinha a intenção de adquirir 46 milhões de doses da Coronavac, o presidente Jair Bolsonaro desautorizou o ministro Eduardo Pazuello e afirmou que o imunizante contra o novo coronavírus “não será comprado” pelo governo brasileiro. Bolsonaro chegou a dizer que existe um “descrédito muito grande” em relação ao imunizante chinês.>
O presidente, que se mostrou bastante contrariado na semana passada ao ver uma aparente aproximação de seu ministro da Saúde e o governador paulista, agora teve que ler a notícia de o vice considera a vacina chinesa um caminho plausível. >
A Coronavac tem sido alvo do debate entre Bolsonaro e seu adversário político, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Numa reunião com governadores, Pazuello havia dito que o governo brasileiro iria usar a vacina no SUS (Sistema Único de Saúde).>
Diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse que a declaração do vice-presidente é “excelente” e que “demonstra que ele entende a importância da vacina nesse momento crítico da vida nacional.>
Além disso, Mourão também afirmou na entrevista que não tem receio em tomar a CoronaVac, caso ela seja certificada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ele disse ainda que a China é uma “potência global, que pratica um capitalismo de Estado”. E que empresas chinesas que demonstrem compromisso com “soberania, privacidade e economia” têm condições de participar do leilão do 5G no Brasil, novamente contrariando o seu companheiro de chapa em 2018. Bolsonaro tem dado sinais de que pende para a tecnologia dos Estados Unidos. >
O vice-presidente deu nota oito para o Brasil no combate à pandemia da Covid-19. Na sua justificativa, disse que o país era desigual, que não houve segunda onda e que o sistema de saúde suportou a crise.>
O futuro O vice-presidente afirmou ainda acreditar que é alvo da conspiração de pessoas da confiança do presidente, apesar de não saber quem são. E que isso não o preocupa.>
Questionado sobre a possibilidade de o presidente buscar a reeleição com outro vice em sua chapa, ele respondeu que, atualmente, não tem pretensão de concorrer a outro cargo público, mas que talvez pudesse disputar o Senado. >
“Eu vou me candidatar a governador? Complicado, já estarei com quase 70 anos. Acho que, para governar determinados estados aqui no Brasil, o cara tem de ter uns 15 anos a menos. Também não me vejo deputado. Senado, talvez, aí sim. O Senado tem um outro diapasão, uma outra forma de agir, de atuar. Pode ser uma possibilidade", disse.>
Há uma semana, reportagens da Folha e do Estadão contaram que o presidente disse a pelo menos três parlamentares que trocaria de vice na próxima eleição. “Ele não dá”, teria afirmado. Diplomático, Mourão disse em entrevista à Bandnews FM que ainda faltava muito até 2022, mas que estava à disposição de servir ao país. >
O vice-presidente mantém inalterada a rotina de encontros com grupos empresariais, onde desfila com um discurso bem mais moderado que o número um do Planalto. Sua visita à Bahia seguiu este script. Ele participou nesta sexta-feira da cerimônia de inauguração do Instituto Senai de Sistemas Avançados de Saúde, no Campus Integrado de Manufatura e Tecnologia do Senai (Senai Cimatec), em Salvador. >
Mourão elogiou o Sistema S, destacando o seu papel na preparação de trabalhadores. >
Durante uma live com empresários do setor de infraestrutura, as palavras do vice-presidente foram muito bem recebidas. >
Apenas, mais um sinal que Mourão pode até não estar na chapa de Bolsonaro em 2022, mas está longe de ser uma carta fora do baralho.>