A solidão é um sofrimento humano do qual não se escapa

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

  • D
  • Da Redação

Publicado em 26 de junho de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

O isolamento social tem efeitos sobre o psiquismo humano, pois traz um enorme custo emocional para o sujeito. Dito isso, é possível se pensar sobre as possibilidades de implicações psíquicas após 100 dias de privação social? 

Em tempos de pandemia, a ordem é ficar isolado, porém existem várias formas de se viver este período. Há pessoas que estão acompanhadas, outras sozinhas, algumas não podem sequer se isolar. Cada caso é um caso. A pergunta que se faz é se estar acompanhado evita a solidão. E mais ainda, estar sozinho significa estar solitário?

A solidão não é propriamente um conceito na obra de Freud e Lacan, no entanto, entendemos que há uma série de conceitos fundamentais que se articulam ao tema solidão e que podem contribuir nesta temática. 

A solidão é singular de cada sujeito e se distingue pelas diversas modalidades de se estar no mundo e nada tem a ver com o que se considera as ideias atuais do "ser sem solidão", do "ser popular" ou do "ser independente e com elevada autoestima".

Segundo Freud, a pessoa isolada age de modo próprio, pois não está exposta ao efeito de sugestão de quando está em um grupo. Fascinada pela influência das multidões, o dito do outro adquire para ela efeito hipnótico.

Em um dos poucos momentos que Freud fala diretamente da solidão, ele afirma que as grandes decisões no domínio do pensamento e as descobertas que envolveriam a trabalho intelectual "só são possíveis ao indivíduo que trabalha em solidão" (Psicologia de Grupo e Análise do Eu, 1921, pp. 94). Porém, neste ponto, trata-se de uma escolha do sujeito por estar só e pouco tem a ver com o imperativo social em que estamos vivendo nesta quarentena. 

A solidão não é simples privação da ausência do outro, pois ela atualiza e renova as ausências e presenças que marcaram a vida do sujeito. O sentimento de solidão supõe que poderia haver uma presença aonde algo se ausenta. Além disso, há a frustração que a ausência envolve, pois na solidão é angustiante a possibilidade de não contar com a presença do outro.

A solidão é um sofrimento humano fundamental do qual não se escapa. O estar só traz à tona a possibilidade de se confrontar com situações que não gostaríamos, a exemplo de suportar a nossa própria companhia e principalmente, olharmos os nossos próprios desejos de frente.

Diante desse impasse, do qual todos estamos submetidos, qual a sua invenção para lidar com a sua solidão?

Lília Maria Sampaio é psicanalista

Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade dos autores