A vez do protagonismo negro na moda baiana

Marcas locais, idealizadas por empreendedores afrodescendentes, se destacam no cenário nacional

Publicado em 14 de março de 2021 às 14:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Elas vêm se destacando pelo discurso, pelas roupas que abarcam uma pluralidade de corpos e por terem empreendedores afrodescendentes à frente dos negócios. Três marcas baianas de moda ganharam visibilidade nacional e notoriedade em revistas, plataformas respeitadas de moda, bem como projetos pensados para promover igualdade, pluralidade e diversidade. Conheça mais sobre Dendezeiro, Ateliê Mão de Mãe e Meninos Rei.

Dendezeiro

História | A Dendezeiro surgiu em 2019, como uma celebração da diversidade corporal. Fundada por Hisan Silva e Pedro Batalha, a marca nasce a partir de uma inquietude sobre roupas que não dialogam com corpos diversos e com uma estética que abarque o empoderamento de pessoas negras de forma genuína. Vale destacar na marca as modelagens inteligentes e técnicas de amarrações em numerações que vão do P ao GG.

Desafio | “Conquistar espaço e notoriedade no cenário de moda nacional. Foi sempre uma grande batalha ser uma marca agênero, liderada por dois gays negros e nordestinos e se destacar quanto criadores e desenvolvedores de moda, além da pouca disposição de matéria prima, maquinários e outros aqui na Bahia”, desabafa a dupla.

Atual momento | A marca vem se destacando e grandes momentos celebram isso, como a estreia na  Casa de Criadores, a assinatura do comercial da Devassa: Brasil Tropical com Iza, bem como o Festival Afropunk Brasil e a participação como curadores no projeto City Forests, da Converse, em Salvador. “A moda é uma linguagem e a Dendezeiro é nossa forma de se comunicar, é muito bom ver as pessoas entendendo o que a gente vem falando. É lindo observar nossas roupas ganhando destaque nas redes, mas nosso discurso é o grande precursor de tudo isso”, comentam os criadores.  Ateliê Mão de Mãe

História | A marca, especializada em crochê, surgiu durante a pandemia. A mãe de Vinicius Santanna, o idealizador do negócio, já trabalhava com o material para garantir o sustento da família, mas sem nenhuma estrutura. Dona Luciene Santana vendia as peças de crochê por valores  ínfimos para botar comida em casa. “Tenho o sonho de formar um coletivo de mulheres crocheteiras, que assim como minha mãe, possam viver dessa arte linda e ainda tão pouco valorizada”, conta Vinicius, que aproveitou o tempo afastado do trabalho para colocar suas ideias em prática. Hoje, a marca conta com mais duas crocheteiras, além da mãe, e um responsável pela produção e financeiro, Patrick Fortuna.

Desafio | “O mercado já é tão competitivo, que saber fazer o diferente e inovar a todo momento é um dos nossos principais desafios”, conta Vínicius. Apesar de ser ativo nas mídias sociais, ele acredita que utilizá-las como principal meio para propagar a sua fonte de renda ainda é bem complicado. E ressalta a luta pela representatividade, pois acha que o apoio, a valorização e as oportunidades ainda são difíceis de conseguir. “Apesar do meu tom de pele ser claro, venho de uma família com descendência afro-indígena, minha mãe é negra, o Patrick é negro, nossas modelos são negras. Vivemos isso e a nossa marca também”, conta.

Atual momento | O Ateliê Mão de Mãe ganhou uma  visibilidade por conta do projeto Sankofa, que vem transformando o mercado de moda brasileiro, dando notoriedade e apoio aos empreendedores racializados.  As marcas escolhidas por eles ganham mentoria e participação garantida no SPFW (São Paulo Fashion Week). “Foi de extrema importância para toda comunidade negra e para as pequenas marcas inseridas no mundo da moda fazer parte de um projeto tão inovador e que vem para quebrar os tabus”, conta Vinicius. A marca também teve destaque na última edição da Vogue Brasil. (Foto: Genilson Coutinho) Meninos Rei

História | A marca surgiu em 2015 pelas mãos dos irmãos designers Céu e Rocha e se destaca pela estamparia exclusiva e bem colorida. “Percebemos que havia uma deficiência no mercado local nesse segmento, de moda masculina fora de padrões comuns, e que atendesse a um público sedento por novidades e com vontade de optar por uma nova consciência de valorização da sua estética”, contam os irmãos Rocha.

Desafio | Os designers acreditam que ainda há muitas barreiras para alcançar a acessibilidade e uma abertura mais consistente para o trabalho de afroempreendedores, apesar de perceberem algumas mudanças, bem como uma nova consciência que vem sendo despertada. “Acreditamos que o mercado precisa promover ações para que essa reparação seja feita. Precisa entender que o padrão de beleza estabelecido pela sociedade está defasado e que existem outros corpos que devem receber o mesmo olhar que o corpo branco-padrão possui”, desabafam.  Além disso - segundo eles - fazer moda na Bahia há desvantagens, como dificuldades no desenvolvimento têxtil e problemas em encontrar matérias primas básicas. 

Atual momento | Pertencer ao SPFW através do Projeto Sankofa é um sonho que está sendo realizado. A marca foi umas das oito escolhidas no Brasil e terá a oportunidade de fazer parte do SPFW,  maior evento de moda do país.  “É um projeto que trata com todo respeito o afroempreendedor. E nós estaremos lá, representando a Bahia, isso tem um peso muito grande. Vamos mostrar que somos capazes e que podemos ocupar todos os espaços, e que ser preto é lindo e ser baiano é massa”, dizem radiantes. Axé!