Abade, Juca... segue sem dó o mata-mata

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  • Paulo Leandro

Publicado em 2 de dezembro de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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O mata-mata era só uma metáfora – transporte de ideias – a qual nosso querido Armando gosta tanto de usar; agora, virou uma eliminatória diária, na qual contamos quantos de nós ainda resta, ao cair da noite.

Foi assim a tristeza de, em um dia perdermos Abade, torcedor ativo, ser-no-mundo-rubro-negro, para roubar uma expressão provavelmente não autorizada pela professora doutora em Fenomenologia.

Quando nem bem Abade sobe aos Campos Elíseos, eis a dor da perda de Juca, após 10 dias de prorrogação diante do aguerrido coronavírus, capaz de desclassificar desta vida nosso querido barzeiro ou sei lá o nome certo de quem tem e gere um bar.

Ao acabar de ler esta coluna, talvez você ainda não saiba, mas a peste pode ter desfalcado mais alguém do nosso convívio, e assim, vamos, Tanathos agora basta chamar a senha e Hades já vem recolher o corpo ao Tártaro, para vigia de Cérbero.

A sabedoria existencial do mestre já alertava para o fato de todos vamos morrer, mas não precisa ser com esta sensação de conta-gota, logo uma espécie tão bonita, até concurso de beleza faz.

O mais impressionante é a falta de compaixão e da caridade, nem no momento dos estertores, em nossa prorrogação, conseguimos desenvolver amor, exceto, em generosidade restrita, diria Lord Hume, aos mais próximos.

O Barradão, só de cimento, talvez não tivesse a mesma alegria sem Juca, mas o fato é a ingratidão de termos praticamente banido o barzeiro, para beneficiar uma destas fabricantes de alimentos sem gosto.

Lembro da indignação dos imbatíveis e dos rubro-negros em geral ao tomarem conhecimento da saída de Juca, logo ele, enxotado ou chutado, como queiram, aquele cara gente boa, cuja dedicação ao Vitória era valor supremo em relação a tantos outros.

O pessimismo vem, não só da ausência de compaixão e caridade na maioria de nós, mas também pela ingratidão, e quanto mais próximos somos uns dos outros aumenta a probabilidade de levar um tiro pelas costas.

É este o tipo de espécie a qual o coronavírus vai devorando dia após dia, enquanto os fiéis fundamentalistas do consumo repetem os mantras protocolo de segurança e retomada da economia – para eles, espertinhos tão bobalhões, pois não terão com quem gastar.

A exposição dos futebolistas, com a realização de jogos, já levou quantos ídolos ao caminho do gol contra? A covid-19 espreita, mas os patrocinadores e as redes de tevê e os dirigentes de clubes e os cronistas e não sei mais quem precisam manter-se online.

Eu queria muito escrever sobre Boca Juniors x Internacional, pois estava decidido a não tocar mais neste assunto, mas infelizmente vejo-me na frágil condição daqueles poucos cuja dor e sofrimento do outro doi também em mim, sabendo estar na mira da peste campeã.

Resta pedir a estes tantos pastores, homens santos e de conduta ilibada, a generosidade de concederem o milagre de uma vacina, poderíamos até aumentar a cota e passar a doar tridízimo em vez de dízimo, sim, multiplicamos por três, pelo amor de deus!

A cada dia, novas senhas são chamadas, no entanto, logo após encerradas as eleições municipais, com pandemia e tudo, já se pensa no pleito presidencial 2022, como se fosse possível, num passe de magick alesterista, tudo voltar a ser como antes.    

Paulo Leandro é jornalista e Professor Dr. em Cultura e Sociedade