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Da Redação
Publicado em 15 de março de 2021 às 19:39
- Atualizado há 2 anos
A Associação Bahiana de Imprensa (ABI) manifestou repúdio à forma hostil e violenta como a fotojornalista Paula Fróes, do Jornal Correio, foi tratada em um ato em favor do presidente Jair Bolsonaro, no bairro da Mouraria, em Salvador. O caso aconteceu no último domingo (14), quando a repórter trabalhava na cobertura do ato.>
A nota é assinada pelo presidente da ABI, Ernesto Marques, e lamenta que a profissional tenha sido xingada de “vagabunda” e “palhaça” pelos agressores, além de ter sido acuada e ameaçada. A ABI afirma que essa atitude "em nada condiz com o Estado Democrático de Direito em que vivemos". >
"É mais uma cena abjeta destes tempos sombrios, em que o ativismo político é rebaixado a isso, com o estímulo da principal autoridade do país. Não podemos banalizar esse tipo de coisa. A ABI se solidariza com a colega e com a redação do Correio, e apoia as medidas jurídicas que profissional e empresa julgarem necessárias", diz a nota.>
Além da ABI, O Sindicato dos Jornalistas do Estado da Bahia (Sinjorba) também manifestou repúdio às agressões sofridas por Paula Fróes.>
Um dos homens que agrediu verbalmente a jornalista já foi identificado. É o educador físico Genisson Moreira, diretor-presidente da Asdeck Karatê e fundador do Instituto Amigo dos Bairros. Genisson se candidatou a vereador de Salvador pelo PTC em 2020, recebendo pouco mais de 300 votos. Além disso, ele também já trabalhou como assessor parlamentar na Câmara de Vereadores de Salvador (CMS).>
No cartaz de divulgação da passeata, o ato é denominado como “Passeata pela Liberdade, com Deus e pela Família”, fazendo clara referência à “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, ocorrida em 1964 e que foi um dos estopins da ditadura militar brasileira. Vale ressaltar que os agressores estavam sem utilizar máscaras de proteção contra a covid-19, assim como diversos manifestantes. A atitude aumenta relevantemente a possibilidade de proliferação do coronavírus entre os presentes no local.>
O último domingo foi marcado por dois atos em apoio ao presidente Jair Bolsonaro. O primeiro foi uma carreta que saiu da região do antigo Aeroclube e percorreu a orla da capital baiana, enquanto o segundo foi a manifestação nas proximidades do quartel da 6ª região militar, na Mouraria.>
Diversos relatos nas redes sociais de pessoas que acompanharam ambas manifestações alegam que os manifestantes de ambos os atos pediram em vários momentos por intervenção militar no país. Este ato é inconstitucional e pode até mesmo ser considerado crime com base na Lei de Segurança Nacional, com pena de um a quatro anos de reclusão.>
Na manifestação da Mouraria, foi necessário até que o organizador do evento pedisse para que as pessoas baixassem as faixas pedindo intervenção militar no país, já que “apesar de entender”, não seria uma das pautas do ato. O organizador também solicitou no início da passeata que os manifestantes não se referissem ao AI-5 nem ao artigo 142 da constituição federal, citado por Bolsonaro anteriormente para justificar uma intervenção das Forças Armadas.>
Esta não é a primeira vez que profissionais da imprensa são agredidos em manifestações pró-governo. Em maio de 2020, a equipe do jornal "O Estado de S.Paulo" foi atingida por chutes, socos, empurrões e rasteiras, além de incontáveis agressões verbais durante um ato feito em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília. Neste dia, equipes da "Folha de S.Paulo", do jornal “O Globo” e do site "Poder360" também foram xingados e agredidos.>
Ao longo dos últimos meses, também foram registradas outras situações de agressão a jornalistas. Este fato fez com que um projeto de lei que propõe “transformar em crime as hostilidades a profissionais de imprensa no exercício de suas funções” fosse apresentado no Senado, estabelecendo uma pena de detenção de um a seis meses, acrescida de multa, a quem praticar hostilidades com o objetivo de impedir ou dificultar a atuação dos profissionais de imprensa.>