'Achou que fosse trote', diz enfermeira que avisou sobre transplante de coração

Paciente passa bem após receber órgão de economista morto na Pituba

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  • Milena Hildete

Publicado em 11 de junho de 2018 às 18:52

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Milena Teixeira/CORREIO

      Enfermeira avisou ao paciente sobre chegada do coração (Foto: Milena Teixeira/CORREIO) Passavam das 13h quando o celular da enfermeira do Hospital Ana Nery, Daniela Lins, tocou. A ligação era da Central de Transplantes de Órgãos da Bahia. Do outro lado da linha, a coordenadora da central lhe pediu uma missão especial: encontrar alguém que estivesse na fila para receber um coração. Quando a ligação acabou, neste domingo (10), Daniela começou a procurar o contato de seus pacientes.

Ela precisava ser rápida, afinal, qualquer minuto a mais poderia afetar a qualidade do órgão e inviabilizar o transplante. Por pressa ou azar, o telefone da enfermeira começou a travar justamente nas primeiras tentativas. A única solução que ela encontrou foi pegar o celular do marido para fazer os contatos."Eu liguei pra pacientes que seriam prováveis receptores. Quando liguei pra Edson Flávio, 36 anos, que foi o beneficiado, ele custou a acreditar que era eu, porque sempro ligo do telefone do hospital e, dessa vez, fiz contato com o telefone do meu marido. Ele achou que fosse trote, mas no final da ligação ficou muito feliz", conta ela.Edson recebeu o coração do economista Luciano Rodrigues Vieira, 43, morto após ser espancado na sexta-feira (8) no bairro da Pituba.

A dona da boa notícia A ligação de Daniela é esperada por pelo menos três pessoas que estão na fila de espera por um coração em todo o estado. A enfermeira é a pessoa responsável por avisar aos familiares e pacientes sobre a chegada do doador.

"Eu ligo pro paciente pra avisar e peço pra ele ficar de jejum. É nesse momento que começa a expectativa de saber quem vai ganhar o órgão. No caso do domingo, tinham duas pessoas com o sangue compatível ao do doador. E Edson ficou com o coração porque ele tinha o peso e a altura equivalente à do doador", explica ela.

Passa bem Edson Flávio estava listado - quando o paciente está fila para o transplante - há pelo menos um mês e meio. Ele tem insuficiência renal e é paciente do hospital há 10 meses. Edson realizou a cirurgia já na madrugada desta segunda-feira (11) e passa bem.

Irmã de Edson, Eliete Souza diz que os familiares estão felizes com a cirurgia."Meu irmão era evangéligo, então, ele tinha muita fé que ia conseguir fazer esse transplante. Ainda estamos assustados com tudo isso e preocupados com a cirurgia", comentou ela. Como funciona o transplante de órgãos na Bahia? O transpante feito em Edson Flávio é o segundo realizado no estado em três anos. O primeiro ocorreu no dia 1º de maio com o paciente Francisco Pereira da Silva Neto, 43. Ele estava internado há um ano e meio também no Ana Nery. 

Segundo o médico cardiologista e diretor geral do hospital, Luís Carlos Passos, três pessoas aguardam na fila, mas outras 30 estão sendo avaliadas."A gente avalia esses pacientes para que eles melhorem e não precisem fazer o transplante. Esses pacientes em avaliação são candidatos a fazer cirurgia", explica o diretor. Passos salienta que o transplante é preciso ser feito com agilidade. "Quando a gente decide que vai fazer, não pode perder tempo, porque o coração não pode perder a viabilidade", reitera o cardiologista. No caso mais recente, o corpo do economista Luciano Rodrigues Vieira foi levado para o Ana Nery. Outra questão chave, conforme o diretor, é a compatibilidade, afinal, o coração do doador precisa ser compatível com o corpo do receptor.

Fila Pelo menos 800 pacientes esperam por rins na Bahia, sendo 300 delas do Hospital Ana Nery. A coordenadora do Programa Estadual de Transplantes, Rita Pedrosa, diz que o número é alto porque a maioria dos pacientes na fila mora no interior do estado."Muitos pacientes estão no interior e não conseguem entrar na fila por falta de acesso aos hospitais", comenta ela.Atualmente, apenas o Ana Nery e o Hospital Geral Roberto Santos realizam a cirurgia.

Ainda de acordo com Rita Pedrosa, quatro pessoas esperam por fígado e 740 aguardam córneas. "Já fizemos 17 transplantes de fígado esse ano e há um ano diminuímos pela metade o número de pessoas que aguardavam por córneas".

O economista morto na Pituba, que havia avisado à família que é a favor da doação de órgãos, também teve rins, córneas e fígado retirados para doação. Luciano Vieira morreu no domingo, após ser agredido próximo de casa (Foto: Reprodução) *Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier e do editor João Gabriel Galdea.