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Miro Palma
Publicado em 13 de dezembro de 2019 às 05:00
- Atualizado há um ano
Desde pequeno, ouço que a gente só aprende através de exemplos. E a cada dia que passa, tenho mais certeza disso. Na última segunda-feira, a torcida LGBTricolor divulgou a imagem da sua futura camisa: um modelo similar ao segundo uniforme do Bahia, só que, no lugar das cores azul e vermelho, as listras verticais ganharam as cores do arco-íris. A iniciativa, apesar de ter recebido o apoio do clube e de atletas da agremiação, partiu de torcedores. Pessoas comuns que resolveram usar o esporte como uma plataforma de inclusão.
No entanto, é impossível descolar essa ação de todas as outras que o Bahia realizou desde a criação do seu Núcleo de Ações Afirmativas. A começar pela campanha de combate à intolerância religiosa que inaugurou o projeto, passando pelas campanhas em apoio à demarcação de terras indígenas; pelo reconhecimento de paternidade; contra o assédio de mulheres no estádio; em defesa das praias do Nordeste que foram manchadas de óleo; pelo combate a lgbtfobia; contra o racismo; até a mais recente para estimular a doação de sangue.
A decisão do time de se posicionar diante de temas importantes da sociedade foi uma das mais acertadas desta gestão. E não só pelo saldo positivo que todo esse trabalho tem conferido à imagem do clube, mas, principalmente, porque está gerando frutos. O que a torcida LGBTricolor está fazendo é seguir o exemplo.
E se você pensa que as ações influenciaram apenas grupos organizados de minorias sociais, vá mais ao estádio, a bares em dias de jogo, acompanhe com mais atenção às redes sociais para perceber a mudança no comportamento dos torcedores.
Vou te dar um exemplo. Como era de se esperar, infelizmente, algumas pessoas afogadas em sua própria ignorância tentaram fazer uma chacota com a camisa da torcida LGBTricolor nas redes sociais. O que eles e, provavelmente, muita gente não esperava – me incluo nesse bolo – era a enxurrada de comentários que reprovaram a homofobia. “Sócio cancelado com sucesso”, disse um homofóbico. Logo foi rebatido por um torcedor: “Reveja isso meu velho. Ser sócio é a melhor maneira forma de ajudar o clube”. E por outro: “Vá na paz de jah, broder!”. E outro: “Não se preocupe, eu ocupo o seu lugar”.
A surpresa positiva não ficou por aí, apareceram comentários de torcedores de outros clubes e, ainda, de gente que nem é tão fã assim de futebol disposta a comprar a camisa. “Sou gremista, mas quero essa camisa”, postou um tricolor gaúcho. “Sou de Pernambuco, torço pro Sport, mas já troquei de time! Quero essa camisa!”, disse uma torcedora do rubro-negro pernambucano. “Sou palmeirense, mas com certeza vou adquirir a minha!!!”, garantiu um torcedor do alviverde paulista, que completou: “Orgulho de ver o mundo mudando na frente dos meus olhos”.
Essa mudança é reflexo da tolerância. E ela pode ser sentida em diversos aspectos da torcida. Em outros tempos, o desempenho do time no segundo turno seria motivo de fúria, de protestos em frente às casas de gestores e jogadores, de demissões de técnicos etc. Mas, apesar da enorme frustração, a postura do torcedor tricolor é outra. Ele amadureceu. E esse amadurecimento partiu do clube. O torcedor do Bahia só seguiu seu exemplo.
Miro Palma é jornalista, subeditor de Esporte e escreve às sextas-feiras