Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Publicado em 23 de maio de 2019 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Às vésperas da Copa do Mundo, o futebol feminino no Brasil chega à terceira geração, a da profissionalização da modalidade. É fácil concluir que falta estrutura às mulheres na comparação com os milhões de reais que envolvem o naipe masculino. Mas, na régua da história, a evolução tem sido rápida.>
O futebol feminino é permitido no país há apenas 40 anos. É pouco tempo a mais, por exemplo, do que os 31 anos entre a introdução do esporte no Brasil (inicialmente apenas masculino) feita por Charles Miller, em 1902, e o marco da profissionalização, em 1933.>
Proibido por lei no Brasil até 1979, o futebol feminino teve uma legião de mulheres no final dos anos 80 e início dos 90 que partiu do zero: não havia clubes nem campeonatos. A primeira Copa do Mundo foi jogada em 1991, e a Olimpíada, em 1996. Exceto a bola, o resto quase todo elas precisaram criar. >
A segunda geração, que surgiu no início do século 21 e tem como ícones Marta e Cristiane (além de Formiga, que atravessa todas as gerações), encontrou algum avanço. Não muito. A modalidade já era reconhecida mundialmente, mas não havia condição de viver bem financeiramente com a renda da profissão. Os clubes eram inconstantes, com o departamento de futebol feminino sujeito a abrir ou fechar as portas a cada troca de presidência. Carteira assinada era luxo. Em geral, as jogadoras recebiam ajuda de custo. A modalidade era amadora.>
A ajuda de custo ainda é realidade em muitos clubes. O amadorismo também. Mas o cenário é outro. A partir deste ano, ainda que forçadas pelo regulamento da Conmebol e da CBF, as equipes masculinas precisam ter também um time feminino como pré-requisito para disputar a Copa Libertadores da América, a Copa Sul-Americana e a Série A.>
Foi o maior empurrão para a modalidade. Primeiro porque criou um Campeonato Brasileiro com duas divisões, sendo 16 times na primeira e 36 na segunda, e sem perspectiva de retrocesso, já que os clubes não pretendem abrir mão de jogar as competições masculinas.>
Segundo porque os clubes masculinos já tinham uma estrutura de campos de treinamento, preparação física e departamento médico que passava longe das equipes apenas femininas. Para se ter ideia, em 2017, a jogadora Aila, do São Francisco, fez uma vaquinha para conseguir custear uma cirurgia no joelho. Era isso ou esperar na fila do SUS, tempo demais para uma atleta. Na época, o São Francisco era o melhor time da Bahia e um dos melhores do Brasil. >
Com a chegada do profissionalismo, o próximo passo é o acompanhamento da imprensa ser mais constante e, por tabela, a crítica também. Precisamos ir além da exaltação das histórias de vida das atletas. Marta, seis vezes eleita a melhor jogadora do mundo, nunca ganhou um título de primeiro escalão com o Brasil e atualmente não está rendendo na seleção o que alguém do status dela deve render. Isso precisa ser cobrado. A titularidade da fenomenal Formiga aos 41 anos é sinal de falta de renovação no país ou pelo menos na seleção, o que também é preocupante. Mas a mídia ainda vive o estágio de conhecer a modalidade superficialmente. É necessário dar o próximo passo. O caminho do profissionalismo inclui cobrança e crítica.>
Herbem Gramacho é editor de Esporte e escreve às quintas-feiras.>