Acusado de estupro e violação sexual, líder religioso Jair Tércio está foragido

Mandado de prisão não foi cumprido pois "guru" não foi localizado

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  • Da Redação

Publicado em 17 de setembro de 2020 às 12:31

- Atualizado há um ano

. Crédito: Wendel de Novais/CORREIO

O líder religioso Jair Tércio está foragido - na manhã desta quinta-feira (17), uma operação tentou cumprir mandado de prisão contra o "guru", que não foi localizado. Mandados de busca e apreensão foram cumpridos em endereços ligados a Jair Tércio, que um dos criadores da Fundação Organização Científica de Estudos Materiais, Naturais e Espirituais (Ocidemnte) e ex-grão-mestre da Grande Loja Maçônica da Bahia (Gleb). "Ele não foi localizado nas duas áreas que nos realizamos a busca. Por isso, ele encontra-se foragido da Justiça", afirmou a promotora de Justiça Márcia Teixeira.Jair Tércio foi denunciado por violação sexual mediante fraude e estupro de vulnerável, por manter relação sexual com menor de 14 anos. 

"Hoje, foi dado um grande passo relacionado às denúncias veiculadas pela imprensa contra Jair Tércio. As denúncias correspondem a casos de quatro vítimas, que tiveram vínculo pessoal e familiar com o investigado, possibilitando a chegada em indícios mais fortes do crime. Violação sexual mediante fraude, estupro de vulnerável e lesão corporal", explicou a promotora Clarissa Diniz, em coletiva de imprensa.

Coordenadora do Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher (Gedem), a promotora Sara Gama explicou que a análise de provas já começou. "Nós abrimos um procedimento investigativo e começamos analisar as provas que chegaram até  nós e foram ratificadas pelo Ministério Público da Bahia. Fizemos uma busca e a apreensão na sede da instituição que o investigado estava à frente. Tentamos cumprir também o mandado de prisão preventiva autorizado pela Justiça", disse.

Segundo ela, o acusado se aproveitava da confiança das mulheres, com sua posição de liderança, para abusar delas. "Jair Tércio tinha um modus operandi onde ele se aproveitava do status de liderança religiosa e espiritual para chegar até mulheres fragilizadas e que precisavam de um apoio espiritual e emocional. Isso fazia com que elas tivessem nele uma figura de respeito e enxergassem legitimidade em seus atos, o que dificultou a denúncia do acusado até esse ano", explica. Buscas foram feitas hoje em endereços ligados ao guru (Foto: Reprodução e Leitor) Segundo Márcia Teixeira, já são 21 vítimas que procuraram o Ministério Público com relatos sobre Jair Tércio, mas nem todas poderão virar denúncia por conta do tempo. "A grande maioria das vítimas foram responsáveis pelo pedido do sigilo. Elas têm medo do denunciado e também dos seus servidores. Temos hoje nove vítimas e seis testemunhas que foram vítimas no passado, mas são vítimas de crimes já prescritos. Uma vítima tem 16 anos e outra, que fez 18 anos esse ano, vinha sofrendo violência sexual desde os 12. No total, são 21 vítimas que chegaram até o MP", explicou.

As denúncias são de casos que começaram há muitos anos - uma das vítimas denunciou abusos iniciados há 28 anos, quando ela tinha apenas 12 anos. "Esse, entre todos depoimentos, é o relato mais antigo", diz Márcia.

Por conta disso, as promotoras acreditam que novos casos virão à tona. "Tenho essa convicção porque, a partir da primeira denúncia, as mulheres se sentiram mais fortalecidas e amparadas para relatar os crimes e denunciar o acusado, apesar de todo medo de represália das vítimas", afirma Sara.

 "O objetivo principal era efetuar a prisão preventiva de Jair Tércio, que acabou não acontecendo. Mas continuamos conduzindo o processo de investigação do que foi encontrado para chegar às provas dos delitos dos quais o investigado é acusado", diz o promotor Aroldo Almeida. Os objetos foram apreendidos após a mobilização de um efetivo considerável de agentes e uma busca minunciosa nos locais fornecidos como endereços do acusado. 

Alguns vizinhos perceberam a movimentação onde se localizava a fundação comandada por Jair. Uma moradora, que perferiu que sua identidade não fosse revelada, afirma que os policiais chegaram no início da manhã e ficaram horas dentro do local onde cumpriram o mandado. "Eu acordei um pouco antes das 7h e fui abrir as cortinhas de casa. Aí, vi o movimento dos carros de polícia e dos agentes. Como já tinha visto uma matéria sobre o caso e a Fundação Ocidemnte funcionava no local onde, hoje, é a Maçonaria, liguei os pontos e entendi o que estava acontecendo. Eles entraram antes das 7h e ficaram até às 10h", conta. Oficiais passaram horas realizando uma busca por provas no suposto endereço de Jair, em Stella Maris (Foto: Reprodução/Leitor) A promotora Sara afirmou que as vítimas usaram os canais do MP para fazer chegar a denúncia. "Canais que têm possibilitado, de maneira segura, o acesso ao depoimento e aos relatos das vítimas do acusado. Foi através destes canais que chegaram todas as denúncias e, por isso, continuam abertos para vítimas e testemunhas que possam ajudar no processo de investigação", diz.