Advogado diz que empresário que zombou de quarentena não sabia de infecção

Cláudio Vale, que está com coronavírus, será processado pelo governo da Bahia

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 18 de março de 2020 às 01:00

- Atualizado há um ano

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O advogado do empresário Cláudio Vale, que deixou São Paulo e viajou para Trancoso, no Sul da Bahia, mesmo infectado com coronavírus, diz que seu cliente não sabia da doença. Vale é acusado de furar sua quarentena na capital paulista e viajar para o balneário turístico em Porto Seguro mesmo sabendo que portava a Covid-19. 

Ele contaminou pelo menos outras três pessoas: sua esposa Renata, uma amiga e um funcionário contratado para servir a ele e aos amigos hospedados num condimínio de Trancoso. Outras 16 pessoas estão sendo monitoradas. O governador Rui Costa prometeu processar o empresário. 

De acordo com o advogado, que não quis divulgar seu nome, Vale estava assintomático, mas outros presentes ao casamento de Marcella Minelli, dia 7, em Itacaré, onde ele esteve, como a influencer Gabriela Pugliesi, irmã de Marcella, testaram positivo para a doença, o que ocorreu também depois com a cantora Preta Gil. Vale fez o exame para o coronavírus no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Pelas recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), os convidados do casamento deveriam ficar em isolamento domiciliar, contudo isso só foi regulamentado no Brasil em 12 de março (dia em que o empresário viajou para a Bahia), quando o Ministério da Saúde publicou no Diário Oficial da União a Portaria nº 356. Pela portaria, o isolamento deve ocorrer como medida de precaução para evitar que o novo coronavírus se espalhe no país. Ele visa conter e separar pessoas que forem classificadas como caso suspeito, confirmado, provável (contato íntimo com caso confirmado), portador sem sintoma e contactante de casos confirmados. Nesses casos, diz o Ministério da Saúde, “o isolamento deverá ser em ambiente domiciliar, podendo ser feito em hospitais públicos ou privados, conforme recomendação médica, por um prazo de 14 dias, podendo ser estendido por até igual período dependendo do resultado do exame laboratorial”.

Vale, se sabia das recomendações da OMS ou não, viajou assim mesmo. Consultado pelo CORREIO se havia recomendação ao empresário para que ele ficasse em isolamento domiciliar, o Albert Einstein informou: “Não abrimos informações sobre pacientes específicos”. Vale, por meio de um advogado, negou ter recebido essa orientação do hospital. Para o advogado do empresário, o governador Rui Costa está ‘supostamente desinformado’ sobre o que teria ocorrido de verdade: “ele não teve conhecimento completo dos fatos, as informações estão desencontradas”. Como exemplo, o advogado alega que Vale foi para Trancoso em voo comercial, ao contrário do que o governador diz. Segundo Rui, Vale teria viajado de jatinho particular. “Ele estava assintomático, não estava com suspeita. Todos que estavam no casamento acabaram fazendo os exames por recomendação do Albert Einstein. Não tinha recomendação pra ficar em casa, a recomendação é para ficar em casa a partir do momento que confirma o diagnóstico. Quando ele recebeu a confirmação, entrou em contato com a Secretária de Saúde do município”.   Vale, segundo informou o advogado, ainda está em sua casa na praia de Itapororoca, em isolamento, junto com a esposa e outros familiares e amigos. “Ele está com o vírus e está muito abalado, ainda mais por estar sendo atacado”, disse o advogado, que também está em isolamento domiciliar, mas em São Paulo, onde reside.

Fuga Uma das pessoas monitoradas em Trancoso fugiu do isolamento na madrugada de ontem. Acionada por outras pessoas, a Polícia Militar interceptou o carro do homem na BA-001, já próximo a Arraial D’Ajuda, após realizarem bloqueio em diversas vias da região. Ele alegou que outras pessoas tinham sido liberadas para voltar a São Paulo e que seu caso tinha dado negativo. Assim, não queria voltar para o local, já que poderia ser contaminado por outras pessoas. Não teve jeito. Os policiais o escoltaram de volta ao condomínio em Trancoso, além de adverti-lo de que não poderá sair do isolamento enquanto houver possibilidade de contágio a outras pessoas. Segundo a PM, os policiais do 8º Batalhão, de Porto Seguro, utilizaram luvas, máscaras e não tiveram nenhum contato físico com o homem. 

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