AfroSaúde: responsabilidade social com rentabilidade; assista vídeo

Startup baiana voltada para saúde da população negra amplia atuação para empreendedores com foco na diversidade

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  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 13 de julho de 2022 às 22:18

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Quem disse que negócios com impacto social não podem ser boas fontes de fazer dinheiro enquanto promovem soluções? Os sócios e idealizadores da startup AfroSaúde Arthur Lima e Igor Rocha mostraram, durante o programa ao vivo Empregos e Soluções, dessa quarta-feira,13, que essa é uma equação possível e viável.

Em 2019, eles se encontraram diante de uma provocação: Arthur foi procurado por uma paciente que buscava um profissional negro que fosse especialista em tratamento de canal. A demanda o fez perceber a dificuldade que negros tem em encontrar profissionais de saúde também negros, que respeitem as especificidades biológicas desse grupo e, ao mesmo tempo, atenda compreendendo a dimensão social dessa assistência. A essa inquietação se somou o desconforto em perceber como as desigualdades impactavam a saúde, especialmente da população negra. 

"Criamos uma solução pensando na diversidade racial. Temos um carro-chefe, que é uma plataforma onde as pessoas negras buscam e acessem serviços de profissionais de saúde também negros. O negócio é sustentável financeiramente, é uma empresa, mas também pretende transformar a vida das pessoas", reforçou o cirurgião dentista.

Saúde com cor

Para tirar a ideia do papel, eles uniram áreas de conhecimento distintas, mas que se complementaram, afinal, Arthur Lima é graduado em odontologia, mestre em saúde do trabalhador e foi se especializar em saúde pública porque queria ampliar a área de atuação. Igor Rocha é graduado em jornalismo e trabalhou em comunicação corporativa e já empreendia com uma agência de comunicação.Apesar da experiência em comunicação, Igor trabalhava com uma visão mais estratégica dos negócios para os quais fazia assessoria.

"Na hora de desenvolver os projetos de comunicação, eu precisava pensar na proposta como um negócio, então era natural pensar em como ganhar dinheiro. Quando Arthur chegou com essa dor, pensei que aquilo poderia ser uma coisa maior, que poderia ser feito e monetizado", pontuou Igor.

Lima lembrou que um dos grandes desafios foi tirar as ideias do papel, não romantizar a proposta e transformá-la em algo viável. "Colhemos muitos relatos de discriminação, da falta de acolhimento, como aquilo afetava a saúde física e mental. Então, percebemos que as pessoas queriam se sentir seguras nessa assistência e percebemos que conseguiríamos mudar o mundo, mas também seria nosso meio de vida", completou.

Problemas e soluções

Com a visão do empreendedor, Igor aproveitou para lembrar que sempre que alguém quer desenvolver um projeto ou um empreendimento, é importante focar no problema, pois a solução virá à reboque.Enquanto buscavam formatar a proposta da healthtech, eles testaram ao máximo a viabilidade do negócio porque não tinham recursos para investir. Pesquisaram sobre o tema, aprenderam muito sobre empreendedorismo e fizeram algo inédito no país até então: mapear os profissionais de saúde negros. "Criamos toda uma documentação e mostramos aos investidores que as pessoas pagam para ter saúde e assistência e isso nos deu o start para o negócio, antes mesmo de construir a plataforma", contou Igor.

No processo, eles inscreveram o negócio em programas de aceleração no Sebrae Lab e Google e conseguiram os recursos para desenvolver as propostas.Quando as coisas começaram a fluir veio a pandemia e eles compreenderam que lançar a plataforma naquele momento poderia soar de forma negativa. Foi nesse instante que a dupla se deu conta que a plataforma poderia prestar um serviço de relevância e passaram a atuar oferecendo orientações sobre a Covid-19. "Criamos uma linha telefônica com profissionais para oferecer suporte sobre a pandemia. A iniciativa teve um impacto social grande, abrimos cadastro para quem quisesse ser voluntário, de modo que atendimento fosse gratuito para as pessoas", rememorou Arthur. 

Durante a conversa, a dupla fez questão de destacar que todo o desenvolvimento da startup foi realizado junto com os outros trabalhos. "Fazíamos como a música: caminhávamos e cantávamos. Uma loucura, mas era essa a alternativa", relembrou Igor. O empresário e jornalista aproveitou para destacar como a rede de apoio e as ajudas de amigos e pessoas próximas foram fundamentais para garantir a realização de ações, fossem como consultorias, divulgação ou suporte.  Os empreendedores baianos reconheceram o papel que rede de apoiadores tiveram para o AfroSaúde crescer e implementar diversas ações (Foto: Reprodução) A estratégia se mostrou acertada e eles ganharam notoriedade e se transformaram em referência em saúde. Hoje, o AfroSaúde está abrindo espaço com a oferta de serviços para organizações e empresas, como o próprio Google, numa perspectiva de trabalhar com respeito a diversidade na saúde. "O Google acabou se tornando nosso cliente porque oferecemos a parte de saúde mental para o empreendedor. Na verdade, muitos dos nossos projetos se voltaram para a saúde mental porque essa foi uma necessidade desse período. Com isso, fazemos a roda girar, remunerando os profissionais envolvidos na nossa rede", completou Arthur.

A conversa completa com a consultora Flávia Paixão está disponível para quem desejar rever ou até mesmo aprofundar os aspectos abordados. Todas as quartas-feiras, à partir das 18 horas, o programa é apresentado ao vivo na página do Jornal Correio no Instagram.