Agricultores do oeste baiano demonstram que é possível produzir sem deixar de preservar

Produção aliada à sustentabilidade

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  • Da Redação

Publicado em 30 de setembro de 2020 às 06:03

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos: divulgação

Quando o assunto é o uso sustentável da água na agricultura, os produtores rurais do oeste da Bahia têm boas lições para compartilhar. A região é uma das mais importantes do mundo em disponibilidade hídrica, pois além de possuir uma ampla e bem distribuída hidrografia, dispõe ainda do Aquífero Urucuia (segundo maior do Brasil), que oferece o recurso natural em abundância e qualidade. Por isso, preservá-lo é essencial.

Nesse sentido, pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV), de Minas Gerais, desenvolveram, nos últimos dois anos, a primeira etapa do Estudo do Potencial Hídrico da Região Oeste da Bahia, cujo objetivo é quantificar e monitorar a disponibilidade dos recursos hídricos do Aquífero Urucuia, bem como as águas superficiais nas bacias dos rios Grande, Corrente e Carinhanha.

Coordenada pelo doutor em Agronomia Everardo Montovani, a pesquisa contou com a participação da Associação Baiana dos produtores de Algodão (Abapa) e da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba). “É importante considerar que esta nova agricultura irrigada, conectada com a sustentabilidade e, por apresentar grande capacidade de intensificação da produção de alimentos, fibras e agroenergia sem ampliação da área de produção, tem forte conotação estratégica de desenvolvimento”, destaca Montovani.

Para o coordenador do estudo, que é especialista em Manejo da Irrigação, a região oeste da Bahia é privilegiada, uma vez que seus produtores aliam, cada vez mais, os sistemas mais modernos disponíveis no mercado mundial, como os pivôs centrais, a um processo de gestão adequado quanto ao momento e a quantidade ideal de água a se aplicar.“Convivo há muitos anos na região e sou testemunha da grande evolução ocorrida na conscientização dos produtores irrigantes em relação à necessidade de otimizar o uso da água, gerando produção com sustentabilidade hídrica e ambiental em geral” _Everardo Montovani, coordenador do estudo sobre o potencial hídrico da região oeste da BahiaPotencial

De acordo com o estudo, a região oeste irriga, atualmente, apenas 8% de área cultivada, o que corresponde a 192 mil hectares (32% da área irrigada em todo o estado da Bahia) e cresce, em média, cerca de 11 mil hectares por ano. Do valor econômico bruto da produção, 34% são provenientes da irrigação.

“A razão é que esta tecnologia-chave, possibilita plantios contínuos em uma mesma área, independentemente da distribuição das chuvas, tendo grande capacidade de integrar ganhos expressivos na produção, produtividade, geração de empregos e renda de forma estável”, elenca Montovani. Outro benefício da irrigação é a possibilidade de diversificar a matriz agrícola da região oeste, ainda bastante centrada em algodão, milho e soja. Entre as novas culturas viáveis estão a fruticultura e as hortaliças.

Na avaliação do coordenador do estudo, mais de 82% do território da região oeste da Bahia tem potencial de crescimento de área irrigada. “Se por um lado existem bacias com alto índice de ocupação que precisam ser saneadas do ponto de vista de uso dos recursos hídricos, elas representam, no máximo, 18% da área da região. Os valores a que podemos chegar fazem parte do trabalho em andamento, mas uma coisa é certa, devemos tratar os recursos hídricos superficiais e subterrâneos como uma mesma fonte, pois temos uma conexão muito grande entre eles”, defende. A segunda fase da pesquisa, com conclusão prevista para o início de 2021, apresentará uma proposta com bases seguras aos produtores.

Exemplo O presidente da Abapa e produtor rural, Júlio Busato, observa que a consciência ambiental dos produtores do oeste baiano pode ser atestada por qualquer pessoa que tenha acesso a internet. “Basta aproximar as imagens de satélite no Google. Sabe aqueles risquinhos verdes? São as Áreas de Preservação Permanente (APP) e de Reserva Legal, uma paisagem criada pelos agricultores em parceria com as secretarias de Meio Ambiente do Estado e dos municípios”, exemplifica. Produtor rural, Júlio Busato é presidente da Abapa Realizado pela Embrapa e divulgado no final do ano passado, o estudo “O Papel do Produtor na Conservação do Cerrado” demonstra que o oeste baiano conserva 53% do seu bioma natural, um total de 4,2 milhões de hectares preservados. Deste montante, 35% estão nas propriedades agrícolas, o maior percentual de todo o País e um dos maiores do mundo. A pesquisa teve como base dados do Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural, do Ministério do Meio Ambiente, além de mapeamento, via satélite, de todas as propriedades.“Além dos produtores cuidarem do seu solo e preservarem seus rios, já que essa é a nossa grande riqueza, nós fizemos mais do que a legislação estabelece em nossas fazendas. Para que isso fosse feito, foi gasto, do bolso dos próprios agricultores, R$ 11 bilhões para a aquisição dessas terras e preservação das mesmas rumo ao futuro. Eu não conheço outra classe que tenha feito ação semelhante. É um exemplo de preservação para o Brasil”_Júlio Busato, presidente da Abapa e produtor ruralCarbono A agricultura irrigada também contribui para o combate e a adaptação às mudanças climáticas bruscas. Esta é uma das principais conclusões de um estudo inédito divulgado recentemente por pesquisadores da UFV. Realizado em propriedades rurais do oeste da Bahia, o trabalho tem o objetivo de determinar a evolução do teor de carbono no solo em áreas produtivas da região.

De forma preliminar, depois da coleta de 10 mil amostras de solo, a pesquisa identificou que o sequestro de carbono, com a remoção do gás carbônico (CO2) na atmosfera, em áreas irrigadas é maior do que onde o plantio é realizado somente em sequeiro, respeitando o regime das chuvas.

Inserção Com artigo publicado em revista internacional, o estudo, realizado com apoio da Abapa, fomentado pelo Programa para o Desenvolvimento da Agropecuária (Prodeagro), por meio da Aiba, também pretende discutir a inserção da agricultura baiana no conceito de “agricultura climaticamente inteligente”.

“Ao contrário das áreas de sequeiro arenosas, os solos mais argilosos e em área irrigada possibilitam melhores condições para proteção física e química da matéria orgânica (MO) e realizam maior troca gasosa”, explica o pesquisador líder do projeto, o engenheiro agrícola Marcos Heil Costa, ao ressaltar que o estudo também analisou o sequestro de carbono em áreas de solos com diferentes composições, áreas irrigadas e de sequeiro, além das comparações com áreas de mata nativa do Cerrado.“Além de praticar uma agricultura intensiva, os produtores da região estão adotando várias técnicas de conservação de solo e água, como o plantio direto e o cultivo na safrinha, fatores que contribuem para a elevação do teor de carbono dos solos”_Marcos Heil Costa, pesquisador da UFVApesar de manter o nível dos solos, a pesquisa demonstra ainda que a maior parte da agricultura da região é de sequeiro com solos arenosos e não estavam realizando, durante a análise dos dados o papel de sumidouros de CO2, função que poderia ser potencializada com a irrigação.Conteúdo integrante do projeto de Infraestrutura Hídrica e Saneamento. Uma realização do Jornal Correio com o apoio institucional da Embasa, Secretaria de Infraestrutura Hídrica e Saneamento, WWI e o apoio da FIEB e Abapa.

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