Alegria no céu: empinar arraia vira paixão de menino em meio à pandemia

Brincadeira ao ar livre e longe de aglomeração desestressa Cadu da rotina do confinamento

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  • Wendel de Novais

Publicado em 9 de março de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO

Depois de passar o ano olhando para o teto de casa, Carlos Eduardo Menezes, 11 anos, encontrou no céu o melhor lugar para apurar a vista, fugir da rotina estressante dos dias de confinamento e brincar de uma forma que nunca havia experimentado. Cansado de computador, vídeo game e celular que anteriormente eram as prioridades que o levavam de fora para dentro de casa, Cadu - como prefere ser chamado - inverteu o processo. Agora, o que ele mais gosta é de empinar arraia - ou pipa, como também é conhecida -, brincadeira que virou a sua maior paixão.

O amor pelas arraias ele compartilha com o pai, Carlos Menezes, 49, funcionário público, que vivia soltando pipa quando era pequeno, e voltou ao costume incentivado por Cadu. Ele apoia o filho também na produção dos brinquedos em diferentes formas e cores. 

Do céu, o menino também tirou a sua segunda paixão nesse período de isolamento: faz pássaros de papel, os cataloga de acordo com a espécie e a família e guarda em uma coleção tão grande que já perdeu a conta. "Eu não sei nem quantos são. É muito passarinho que eu tenho guardado. Eu desenhei todos, pintei e colei para ficarem bem legais. Acho que tem muito porque vi na internet e também no céu que dá para ver de casa", conta Cadu. Cadu faz as próprias arraias e pássaros de papel (Foto: Arissson Marinho/CORREIO) Paixão visual

A observação, inclusive, é o principal meio pelo qual Cadu se apaixona pelas coisas. Foi da janela de casa que ele viu a arraia e ficou curioso sobre a brincadeira que é cada vez mais incomum nas ruas da cidade. Daí perguntou ao pai sobre o que era e começou a fazer as próprias pipas coloridas. 

"Ver a arraia no céu, mexer nela através das puxadas que eu dou na linha, levar pra um lado e pro outro, é o que eu gosto. Acho muito legal ficar olhando assim, agora quando o sol está baixando. Fica muito bonito. Esqueço o mundo, é uma parte muito boa do meu dia porque eu saio e a gente tem ficado muito em casa, o que é chato", diz o garoto. Empinar arraia aproxima Carlos e Cadu (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) E não é só Cadu que se sente melhor fazendo a arraia voar. Seu pai gosta tanto que leva o menino da Caixa D'água, onde moram, até o Santo Antônio Além do Carmo para brincarem de frente para a baía de Todos-os-Santos. Para ele, além de um passatempo bacana, empinar arraia o aproxima do filho, que é o mais importante. 

"A pandemia me deixou mais próximo dele, me fez ficar mais perto. Só que ele ficava estressado, eu também. Ficar em casa o tempo todo não nos faz bem. A pipa pra nós virou um momento de paz, de respiro mesmo. Longe das coisas do meu trabalho, das atividades da escola dele. Uma coisa pra gente fazer em parceria e que deixa ele feliz mesmo sem poder estar com os amiguinhos", afirma Carlos.

Embaixador da arraia

Mesmo quando a pandemia e o isolamento social acabarem, Cadu não quer nem saber de deixar a brincadeira de lado. Com o carretel de linha, a rabiola e a arraia em mãos, o garoto quer continuar a brincadeira em outros lugares.

"Além daqui, já empinei em Porto do Sauípe e na Ribeira. Quando tudo acabar e todo mundo puder sair mais, meu pai disse que vai me levar em outros lugares para empinar. Eu vou gostar de ver como vai ser em lugares diferentes porque vai mudar como a gente vê a pipa, né", acredita. Cadu quer compartilhar brincadeira com outras crianças (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Empolgado com o filho, Carlos conta até que Cadu pediu para abrir um canal no YouTube, onde vai mostrar para as outras crianças como confeccionar a própria arraia e os primeiros passos para começar a empinar o brinquedo. 

"Ele já me pediu, tô vendo como é que faz. Eu dou todo apoio porque ele gosta e quer que os outros tenham a oportunidade de conhecer também. Além de gastar o tempo dele com algo positivo, imagine ele influenciando outras crianças para empinar arraia também, seria muito bacana. Acho que ele também vai fazer vídeos sobre pássaros", revela.

*Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro